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(Como se a bella e fertil lingua nossa,
Primogenita filha da latina,
Precisasse d'estranhos atavios!)
Subito, certamente, pensariam
Que nos sertões estavam de Caconda,
Quilimane, Sofála, ou Moçambique; (103)
Até que, já por fim, desenganados

Que eram em Portugal, que os Portuguezes
Eram tambem, os que costumes, lingua,
Por tão estranhos modos, affrontaram,
Segunda vez de pejo morreriam.
Mas elles tem desculpa; a negra fome
Os miseros mortaes à mais obriga;
Sem saber o que escrevem, escrevendo
Buscam della o remedio, e como logram
Os fins de seus intentos; o que escrevem,
Seja ou não portuguez, isso que monta?
Quem desculpa não tem, nem a merece,
É quem vedar-lh'o deve, e não lh'o veda;
Mas por ora deixemos estas cousas,
Que o mundo corrigir a nós não toca.
Este (como dizia) foi Troiano,

E nos campos, que o phrygio Xanto corta, (104)
Guardando, em doce paz, o seu rebanho,
Eleito foi juiz do grande pleito,

Que Juno e Pallas, entre si com Venus,
Sobre a belleza, um tempo, sustentaram:
No qual, não sei porém se com justiça,
Deu a favor de Venus a sentença,
Entregando-lhe o rico pomo de ouro,
Que a Discordia lançara n'um banquete.» (105)
-Já nesse pleito ouvi, se bem me lembro,

E no pomo fallar (the volve o Lara)
Mas o tal Monsieur Páris foi um asno.
(Perdôe a sua ausencia.) Se na causa
De ser juiz a sorte me coubera,
Daria, mal ou bem, minha sentença,
Conforme o meu bestunto me ajudasse,
Sem em nada gravar a consciencia;
-Mas a maçã, havia d'eu papal'a,
Pelas custas, por certo: e quando muito,
Daria á vencedora della as cascas.
Mas, diga-me, meu Padre Jubilado,

Se gado apascentou esse marmanjo,
Como de cortezão está vestido,

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De cabello, de bolsa e penteado ?»
-«Essa é boa! (replicou o Reverendo).ondu
Pois parece-lhe a vossa Senhoria, inc.com g
Que lhe bastava o secco tractamente

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De Monsieur, que lhe démos, e um cajado,p A Um intonso cabello, uma samarral?»19

- «Essa razão me quadra (diz o Lara) insid

E quem é estem

Circumspecto Monsieur que ca s'enxerga?»
-O Padre-Mestre, vendo-se obrigado

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I

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A recontar d'Ulysses os trabalhos, (106)
Para o tempo ganhar de recordal-os,
Ronca, escarra, da manga o pardo lenço
Saca, nas espalmadas mãos o tende;
Em ambas sopesado o leva á pencajinesh ung
Com'strondo se assoa, dobrado o colhe: IS IÀ
D'esturro então sorvida uma pitada, son

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O habito sacode pãos sobacosimon obutra 6.9 Alça o cordão, arrocha-o na casola,bonored E de papo ao Deão assim respondezoqro con i «Esse que ahi está, nem mais nem menos €56.} É o facundo decantado Ulysses, of xir, et on d De Madama Penélope marido:slut suo De todos quantos Gregos aportaram

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Da neptunina Troia ás curvas praias, labp
O mais prudente foi, excepto o velho:
Nestor, que viu dos homens tres idades. (107) 21
Este, depois que a cinzas reduzido toy!
Foi o fero Ilion, por suas traças, (108) Sta-
E da altiva cidade só ficara
ca 143
O campo, em que imperiosa antes estava;
Voltando á patria amada, carregadores sofisti
D'altos despojos da immortal victoria, it
De Neptuno soffreu a cruel sanha, eati
E dos ventos, e vagas açoutado,usí o 5626
Undivago correu por longos mares,cise (9 mi
Vendo de muitas gentes as cidades,pl
As varias artes, os costumes varios, 201
Até que levantou; na foz do Tejojud 1997 e será
A rainha do mar, Lisboa invictaon-ngh

—Ó grande fundador da minha patria!
Aqui brada o Deão) se mãos tiveras
E se pernas e pés te não faltaram,
Os pés e mãos, humilde, te beijára!
Mas se manco e maneta aqui te vejo,
E á franceza vestido, a mal não hajas
Que á franceza te beije a fria face.»
Disse e ao collo furioso se lhe lança,
E na cara tres beijos lhe pespega.

O mesmo-pag. 57.

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GENERO LYRICO

Formas do genero lyrico

Este genero de poesia era destinado para se cantar, e deriva o seu nome da lyra com que era acompanhado. Hoje a musica emprega-se principalmente nas solemnidades religiosas e nas representações theatraes, sendo poucas as poesias modernas verdadeiramente lyricas, isto é, compostas para serem cantadas fóra do theatro ou da Egreja.

Como sempre se tem composto poesias, que exprimem os sentimentos do poeta, do mesmo caracter e tom das rigorosamente lyricas, isto é, das que antigamente se compunham para serem cantadas, taes composições conservam o nome de lyricas, não obstante serem destinadas a simples recitação e leitura.

Modernamente o poema lyrico é a composição poetica, em que o poeta exprime directamente qualquer sentimento que o affecta.

Na escola provençal são muitas e variadas as fórmas da poesia lyrica. A Canção era um pequeno poema lyrico em fórma cantavel tendo ordinariamente um assumpto popular.

Na escola galleziana havia:

A Serranilha ou Serrana, canção pastoril tradicional em redondilha menor, quasi sempre dialogada. Esta fórma popular deu origem á poesia lyrica portugueza. A Serranilha chamava-se Cantar de amigo se era dirigida a um amigo ou a um namorado, Cantar Guayado se começava pelo neuma Guay ou Ay (1). Dizer quando começava por uma pergunta ou por uma affirmação Disse-me, Digades;

(1) Neuma, voz sem significação, empregada para encher os compassos musicaes ou pela necessidade da rima.

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