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Caminha, o rei da terra! se inda és pobre,
Conquista aureo destino,

E de seculo em seculo mais nobre
Eleva a Deus teu hymno!

E tu, ó terra, nos floridos mantos
Abriga os filhos que em teu seio geras,
E teu canto d'amor reune aos cantos
Que a Deus se elevam de milhões d'espheras!

Dizem que já sem forças, moribunda,
Tu vergas decadente:.

Oh! não, de tanto Sol que te circumda
Teu Sol inda é fulgente.

Tu és joven ainda; a cada passo
Tu assistes d'um mundo ás agonias,
E rolas entretanto nesse espaço
Cuberta de perfumes e harmonias.

Mas ai! tu findarás! além scintilla
Hoje um astro brilhante;
Amanhã ei-lo treme, ei-lo vacilla,
E fenece arquejante:

Que foi? quem o apagou? foi seu alento
Que extinguiu essa luz já fatigada;
Foram seculos mil, foi um momento
Que a eternidade fez volver ao nada.

Um dia, quem o sabe? um dia, ao pêzo
Dos annos e ruinas,

Tu caírás nesse volcão accêso

Que teu Sol denominas:

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E teus irmãos tambem, esses planetas.
Que a mesma vida, a mesina luz inflamma,
Attraidos emfim, qnaes borboletas,
Cairão como tu ua mesma chamma.

Então, ó Sol, então esse aureo throno
Que farás tu ainda, a

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Monarcha solitario, e em abandono,

Com tua gloria finda? tyg al

Tu findarás tambem, a fria morte
Alcançará teu carro chammejante:

Ella te segue, e prophetiza a sorte
Nessas manchas que toldam teu semblante.

Que são ellas? talvez os restos frios
D'algum antigo mundo,

Que inda referve em borbotões sombrios
No teu seio profundo.

Talvez, envôlta pouco a pouco a frente
Nas cinzas sepulchraes de cada filho,
Debaixo delles todos de repente
Apagarás teu vacillante brilho.

E as sombras pousarão no vasto imperio
Que teu facho alumia;

Mas que vale de menos um psalterio
Dos orbes na harmonia?

Outro Sol como tu, outras espheras
Virão no espaço descantar seu hymno,
Renovando nos sitios onde imperas,
Do Sol dos Soes o resplendor divino. ¡¡....

Gloria a seu nome! um dia meditando....
Outro Céu mais perfeito,

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O Céu d'agora a seu altivo mando

Talvez caia desfeito.

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Então, mundos, estrellas, soes brilhantes,
Qual bando d'aguias na amplidão disperso,
Chocando-se em destroços fumegantes,
Desabarão no fundo do universo.

1

Então a vida, refluindo ao seio
Do foco soberano,

Parará concentrando-se no meio
Desse infinito oceano;

E, acabado por fim quanto fulgura,
Apenas restarão na immensidade
O silencio aguardando a voz futura,
O throno de Jehovah, e a eternidade!

Poesias de A. A. Soares de Passos. 1858-pag. 145.

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A perda de Arzilla (216)

(1549)

Era noite: do ceu limpido e sereno
Milhões d'estrellas trémulas pendiam,
Quaes as nocturnas lampadas d'um templo,
E as ribas ermas sussurrar se ouviam.
D'alterosa galé o negro vulto

Corta ao largo, bem largo, o mar do Algarve,
E lá nas serras d'Africa fronteiras

Branqueja a espaços o albornoz do alarve. (217)

Como tocbeiros com brandões accesos,

De um féretro ao redor,

Cuja vermelha luz o horror da morte.

Só faz sentir melhor,

Taes as nocturnas almenáras fulgem

Nas torres d'atalaia,

Pelos outeiros, que circumdam muros

De povoação na praia.

Arzilla, a guerreira,

Lá jáz na afflicção,

Que a rendeu aos Mouros

El-Rei Dom João.

Tomar-te ha Deus contas,od

Rei fraco e prasmado,
De tão grande vilta,
De teu grão peccado.
Maldiz-te nos mares
Valente fronteiro,
Que na Sé de Ceuta
Se armou cavalleiro;
Que dez aduares (218)
Em Tanger queimou,
E em muros d'Alcacer
Dez elches matou: (219)

Que era hoje d'Arzilla
Temido Adail, (220)
E a quem tu mandaste
Fugir como vil.

Vêde-o lá na gavea
Da negra galé,

De braços cruzados,
Immovel, em pé;
E a nau que arfa e vôa
Na fremente via,
Ferindo na esteira
Fugaz ardentia;
E d'Africa as praias,
Que a ré vão fugindo,
E as vagas, que rolam,
Distantes mugindo.
Em roda o silencio:
No ceu noite escura:
E o peito do triste
Confrange a amargura.

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Quando, ao longe, nos campos d'Arzilla, Alvejava do Mouro o albornoz,

E corria, e corria veloz
O ginete de Bellamarim;

Quando o esculca, saido da villa
Da manhã ao primeiro fulgor,
Não podendo a atalaia transpor,
Vinha ás portas bater de Cafim ;
Quando em Tanger, a forte, se ouvia
De armaduras continuo tinir,
E nos ares se via luzir

O montante, a acha d'armas, e o criz;
Quando em Ceuta vencida se erguia
Sobre o alcacer pendão portuguez,
Contra o qual na mesquita de Fez
A gazúa prégava o caciz:

Quando Alcacer-Ceguer, a viçosa,
Que em vergeis se reclina gentil,
Pela noite fragrante d'Abril
D'entre os robles sorria ao luar;

Porque, rico de presa formosa,
Já voltou nobre alcaide christão,
E inda ao longe de incendio o clarão
Tinge o céu sobre um triste aduar:
Nossa estrella era então esplendente;
Nosso nome era um som de terror;
Nossos paes conduzia o Senhor,
Qual Judá d'entre a sarça do Horeb.
Portugal, oh! leão do occidente,
Tu rugias á beira do mar,
E o teu grito cá vinha troar
Temeroso no ardente Moghreb:

Era o tempo dos crentes e ousados:
Era o tempo da gloria da cruz!
Ora contam-se as páreas d'Ormuz:
Tem só nome Cochim, Calecut!"

E esses muros d'Arzilla, regados
Com o sangue de martyres mil,
Ermos hoje tu deixas, Rei vil,

Porque o estreito passou Rais Dragut! (221) Oh! valentes da India, do oceano, Roncadores de féros no mar,

Cuja espada, porém, faiscar

Não sabe inda do Mouro no arnez,

Mostrar vinde o valor sobre-humano

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