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A contagem das syllabas não é para o poeta o mesmo, que para o grammatico.

O grammatico conta por syllabas todos os sons distinctos em que as palavras se podem rigorosamente dividir. O poeta não conta por syllabas as que no correr da pronuncia ou não se percebem inteiramente, ou quasi nada se percebem.

Accento predominante ou pausa é aquella syllaba em que a voz se detem ou insiste mais..

Toda a palavra tem necessariamente um accento predominante. As poucas que parecem ter dous, são compostas.

Cesura é a pausa ou suspensão mais ou menos sensivel que divide um verso em duas partes. E' necessaria nos versos compostos, e nos outros serve para lhes variar o andamento.

Hemistychios são partes do verso ligadas á cadencia da accentuação total; cada uma dessas partes, considerada como um verso completo, chama-se verso quebrado.

Rima é a conformidade dos sons finaes de dous ou mais versos desde o ultimo accento predominante.

Esta conformidade pode ser de quatro maneiras: pela aliteração, pela tautologia, pela assonancia e pela consonancia.

A aliteração consiste na repetição da mesma letra no principio das palavras. É a forma mais simples da rima.

Encontra-se nos annexins populares, como: gota a gota o mar se esgota; domar potros, porém poucos; no seculo xv apparece com a forma litteraria:

Rey real, reglorioso
reforçando receosos
real rey remuneroso,
refreando revoltosos.

A. de Brito-Canc. ger.

Tautologia é a repetição da mesma idéa por palavras differentes, exemplo: dito e feito; são e salvo. Póde ser aliterada.

Os versos que têm uma só rima chamam-se monorrimos.

Assonancia é a correspondencia dos sons das ultimas võgaes accen tuadas, esta rima chama-se toante, como: chá, paz; manto, casco; horrifico, santissimo.

Consonancia é a conformidade dos sons finaes das palavras desde o accento predominante até á ultima syllaba, esta rima chama-se consoante, como: valór, furór; arcano, humano; prudentissimo, brandissimo.

Os nossos poetas usaram pouco as toantes, encontram-se mais na poesia popular. Em Hespanha ainda se usam.

A rima em quanto à disposição dos versos rimados póde ser: emparelhada, encadeada, cruzada e interpolada..

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A rima é emparelhada ou em parelhas quando se repete em dous versos consecutivos.

Encadeada quando a ultima palavra de um verso rima com uma palavra do meio do verso seguinte.

Esta forma de rima deu origem a diversas especies de canções, taes são: a mansobre doble, em que a rima é encadeada no meio e no fim do verso, repetindo-se os dous ultimos versos em todas as estrophes; a mansobre menor, em que se repete a mesma palavra no fim dos dous versos do principio da estrophe; lexaprem (deixa e pega) ou Canção redonda, em que o ultimo verso de uma estrophe serve de primeiro na estrophe seguinte.

Cruzada ou alternada quando entre os versos rimados se mette outro de permeio.

Interpolada quando entre os versos rimados se mettem dous ou mais. As diversas especies de versos distinguem-se pela terminação final, pela posição do accento e pelo numero de syllabas.

Em quanto á terminação final os versos são: rimados ou soltos. Em quanto á posição do ultimo accento predominante são: agudos os que têm o accento na ultima syllaba, graves ou inteiros os que têm o accento na penultima syllaba, e esdruxulos os que têm o accento na antepenultima syllaba.

Em quanto ao numero de syllabas ha versos desde duas syllabas até quatorze. Cada especie de versos designa-se pelo numero de syllabas, sendo o verso grave ou inteiro; se fôr agudo tem uma syllaba de menos, e se fôr esdruxulo tem uma syllaba de mais, embora o verso seja da mesma especie. Assim o verso endecassyllabo tem onze syllabas, quando é grave ou inteiro, dez quando é agudo, e doze quando é esdruxulo.

Os versos de duas até cinco syllabas têm o accento predominante na penultima syllaba.

...Os versos de seis syllabas, redondilha menor ou de arte menor, têm os accentos na 1.a, ou na 2.a, ou na 3.a, e 5.a, é hemistychio da Endexa.

Os versos de sete syllabas, ou heroicos quebrados, tambem chamados redondilha menor, podem ter os accentos na 1.a e na 6.a, ou na 2.a e na 6.a, ou na 3.a e na 6.a, ou na 4.a e na 6.a São empregados como hemistychios do verso alexandrino.

Os versos de oito syllabas ou redondilha maior, na poesia provençal de arte menor, podem ter os accentos na 2.a e na 7.a, ou na 3.a e na 7.a ou na 4. e na 7.2, ou na 5.a e na 7.a

No seculo XVI este verso foi chamado de medida velha em contraposição aos endecassyllabos italianos, então geralmente adoptados, que se chamaram de medida nova.

Os versos de nove syllabas são pouco usados, têm os accentos na 4.a e nå 8.a

O verso de dez syllabas têm os accentos na 3.a, 6.a e 9.a É elegiaco

ou marcial.

Os versos heroicos, endecassyllabos ou de onze syllabas podem ter os accentos na 6.a e 10.a, ou na 4.a, 8.a e 10.a chamados saphicos.

O metro endecassyllabo foi usado pelos poetas provençaes, chamouse no seculo xv limosino, da escola de Limoges, ramificação da escola da Aquitania. Chama-se Endexa quando é formado por hemistychios de redondilha menor de seis syllabas.

No Cancioneiro da Ajuda encontram-se muitas poesias em versos endecassyllabos ou limosinos.

Os versos de doze syllabas ou versos de arte maior, são compostos de dous de seis syllabas, têm os accentos na 2.a, 5.a, 8.a e 11.a

Os versos de treze syllabas ou alexandrinos são compostos ou de dous versos de sete syllabas, sendo o primeiro agudo, ou illidindo a sua ultima syllaba na primeira da palavra seguinte, ou se formam de um verso grave de sete syllabas, e de outro de seis com accentos na 3.a Chamamse alexandrinos por terem sido usados por Alexandre de Paris no poema de Alexandre no seculo XII.

Os versos de quatorze syllabas compõem-se de dous de sete, dos quaes o primeiro deve ser grave, não illidindo a sua ultima syllaba na seguinte. São pouco usados.

O sr. Castilho segue na contagem das syllabas um methodo diverso. Conta por syllabas de um verso as que nelle se proferem até á ultima aguda ou pausa sem fazer caso de uma syllaba ou das duas syllabas breves, que se possam seguir. Assim o verso heroico, geralmente chamado endecassyllabo ou de onze syllabas, pelo systema do sr. Castilho, é decassyllabo ou de dez syllabas; o de redondilha maior de oito syllabas pelo systema do sr. Castilho é de sete syllabas.

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Os poetas usam de figuras para alterar o numero das syllabas e mudar a accentuação das palavras.

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A aferese tira letras no principio das palavras, a syncope no meio e a apocope no fim. A prothese augmenta letras no principio das palavras, a epenthese no meio e a paragoge no fim. A systole abrevia uma syllaba longa, e a diastole alonga uma syllaba breve.

Estrophe ou estancia é a reunião de dous ou mais versos ligados entre si pela rima.

Um só verso forma uma divisa, um mote ou um aphorismo.

As estrophes formam: parelhas, tercetos, quadras, quintilhas, sextilhas ou sextinas, septilhas, oitavas e decimas, segundo o numero de versos deque se compõem. Nestas estrophes usam-se diversas combinações de rimas.

CLASSIFICAÇÃO DAS COMPOSIÇÕES POETICAS

A escola classica geralmente classificava as composições poeticas em nove generos, a saber: epico, dramatico, didactico, descriptivo, elegiaco, lyrico, pastoril, epigrammatico e o apologo. Fundava-se esta classificação em accidentes de forma.

Os poetas modernos não adoptaram as formas convencionaes da escola classica, por isso é preferivel a classificação das composições poeticas, tirada do objecto dessas composições e do modo como nellas figura o poeta.

Os generos poeticos determinam-se hoje por tres formas fundamentaes: epica, lyrica e dramatica.

O genero epico é narrativo, impessoal e objectivo. Neste género expõe o poeta um facto externo, que é o objecto da composição.

O genero lyrico é descriptivo, pessoal e subjectivo. Neste genero poeta exprime em seu proprio nome as suas ideas e os seus sentimentos. O genero dramatico é digressivo. Neste genero o poeta reproduz directamente uma acção desenvolvida.

São pois tres os generos de composições poeticas: o epico, o lyrico e o dramatico.

A poesia epica, impessoal ou objectiva comprehende: o poema epico, o poema heroico, o poema heroi-comico, o romance, o conto, a fabula e o poema pastoril quando narrativo.

A poesia lyrica, pessoal ou subjectiva comprehende: os poemas lyricos nas suas diversas formas, o poema didactico e o poema descriptivo. ́Alguns consideram o poema descriptivo como narrativo, e por isso classificam-n'o como um accessorio da epopeia. Outros consideram-n'o como uma especie de poema didactico, e por conseguinte classificamn'o no genero lyrico, porque o poeta faz uma descripção para instruir ou ensinar uma verdade, e porque nas descripções predomina sempre uma idéa ou um sentimento.

-A poesia dramatica comprehende as diversas formas do poema dramatico e a poesia pastoril quando é dialogada.

A mesma composição póde participar de differentes generos de poesia, por exemplo, a poesia didactica participa do genero epico pela forma narrativa e do lyrico pela expressão dos sentimentos ou das idéas pessoaes. O romance participa do genero lyrico quando é subjectivo e tem por fim a expressão de sentimentos. O poema pastoril participa do genero epico quando é narrativo, do lyrico quando é descriptivo, e do dramatico quando é dialogado. A fabula ou apologo participa do gene ro epico pela narração, e do lyrico pelo fim expondo as idéas e os sentimentos do poeta para instruir.

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GENERO EPICO

Formas do genero epico

São varias as formas da poesia epica portugueza nas diversas epocas em que podemos considerar dividida a nossa litteratura.

A forma epica na edade media teve o nome de Gesta ou Canção, nella se narravam feitos de armas. Taes são as Canções do Figueiral e da Cava.

A Lenda (Loenda, Legenda), poesia da Escola dos Trovadores, narra factos da vida de sanctos, passados em certos logares.

O Romance foi primeiro um canto narrativo; nos seculos XIV e xv narra as tradições epicas populares; nos seculos xvi e xvi torna-se litterario e narra os factos historicos.

Os Romances mouriscos de tradição popular converteram-se nos seculos xvi e xvii, nos contos de captivos e nos romances mouriscos litterarios.

A Chacone ou Ciecone era um canto epico que os cegos cantavam e que os poetas da Escola dos Trovadores imitaram.

A Glosa, imitada pela Escola hespanhola no seculo xv, é narrativa e em oitavas ou decimas de redondilhas, termina com um verso de romance velho.

A Aravia era o romance tradicional em redondilhas; o nome derivase das melopêas arabès, ao som das quaes o povo repetia as suas redondilhas narrativas.

A Lamentação no seculo xv era a narrativa dos desastres politicos em oitavas no metro endecassyllabo.

A Chacara ou Xacara, nome derivado dos Xaques, ciganos ou vadios, que fallavam a giria ou germania, era um canto popular, no qual se narravam em tom plangente as aventuras e as adversidades que entretecem a existencia das classes mais baixas. Este canto popular foi imitado no seculo XVII.

Modernamente é um canto popular com diverso nome.

O genero epico na escola quinhentista ou classico-italiana comprehendia o poema epico e o poema heroi-comico.

A Epopeia, imitada de Virgilio no seculo XVI, é a narração de uma acção ou empreza illustre.

O estylo proprio do genero epico é o sublime.

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O verso usado na epopeia portugueza é o endecassyllabo solto ou rimado, e ordenado pela maior parte em estancias de oito versos cada uma, chamadas oitavas ou oitava rima, rimando nellas os seis primei

ros versos alternadamente, e os dous ultimos um com o outro.

Poema heroico é a narração poetica de uma acção menos importante. Segue em tudo o mais as regras do poema epico.

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