Pagina-afbeeldingen
PDF
ePub

nosso grande Monarcha, o Senhor D. Afon so primeiro, e seus gloriosos Successores até o Senhor D. Diniz, antes de entrarem no empenho de promover o adiantamento das Letras nos paizes do seu legitimo Senhorio, tiveram de alimpal-os da dominação extrangeira, que nelles se havia intróduzido, e com a qual penetrára ao mesmo tempo entre os christãos des→ tes reinos o desprezo e a aniquilação quasi total de tudo quanto eram Sciencias e BoasArtes (23.a).

Alem de que, é uma verdade, confirma da por grande numero de factos, que as Letras só começam a domiciliar-se em um paiz, quando este, no remanso de duradoura paz, goza das doces commodidades da vida. Foi somente depois que Cimon com suas brilhantes victorias, ganhadas sobre os Persas, restituio a paz a Athenas, que Periclês poude dar, á sua patria aquelle esplendor litterario, que esmaltou o seu Seculo, gloria da Litteratura da Grecia. Foi só depois que Augusto cerrou as portas do templo de Jâno, pacificando o Imperio, que Roma vio dentro dos seus muros as thesouros todos das Sciencias e das Artes, e offerecêo ao Mundo o segundo luminoso periodo, que adorna os. fastos da Litteratura. Athenas, antes de poder gloriar-se dos seus Sophocles, Thucidides, Xenophontes, Socrates e Platões, já contava entre o nume ro dos seus primeiros heroes os nomes de Milciades, de Arístides, de Themistocles, de Çimon: e Roma, primeiro que subisse á glo

ro,

ria litteraria, levantada nas pennas de Cicc de Tito Livio, de Tacito, de Virgilio e de Horacio, já se havia immortalizado no templo da Fama com os feitos d'armas dos seus Scipiões, Marios, Lucullos, Pompeos e Cesares.

Igual sorte teve o nosso Portugal: o Se culo dos guerreiros famosos precedeo ao dos Mathematicos, dos Poetas e dos Historiado res: foi necessario varrer primeiramente de i→ nimigos o paiz, fortalecel-o com barreiras respeitaveis, promover a agricultura arruinada com as continuas guerras, animar o commer→ cio, e segurar com Leis sabias a propriedade e a vida dos cidadãos; para depois á sombra da paz e de tão excellentes instituições pode rem os luminosos e fecundos Ingenhos Portuguezes dar-se em descanso ao proficuo empre→ go das Letras amenas e severas.

[ocr errors]

Todavia não cuide alguem, que noste mesmo guerreiro Periodo deixáram as Letras de ser cultivadas de todo em um Reino, cujos bem formados espiritos eram tão dócels para attenderem ás amenas lições de Miner va, como valerosos para militarem debaixo dos estandartes de Bellona (24."): Pois é bem constante que por aquelle tempo havia já o estudo das Sciencias adquirido estabilidade vigorosa por todo o reino de Portugal, maiormente na illustre cidade de Coimbra, primeira capital da nossa Monarchia Real. Offerecem-nos seguros documentos desta asserção as eruditas memorias do Mestre Rezende, o qual,

escrevendo a vida do nosso distincto compatriota S. Fr. Gil, bem conhecido como medico, e como chimico (o que naquelles tempos parecia synonymo de magico), cujo nasci mento foi no anno do Senhor 1155, conforme Jorge Cardoso (a), ou no anno de 1190 pouco mais ou menos, segundo refere Fr. Luiz de Sousa (b), diz assim: « Desde a sua primeira puericia entrou o Bemaventurado Gil a frequentar mestres em Coimbra, na qual cidade, como Côrte que era naquelle tempo dos Monarchas Portuguezes, se achavam então em grande vigor os estudos das Letras » : Beatus Egidius magistros cœpit frequentare a prima statim pueritia Conimbriga, in qua urbe, utpote ea tempestate Lusitanorum Regum sedes, litterarum studia tunc vigebant (c),

Corrobora esta noticia o mesmo Fr. Luiz de Sousa (d), dizendo que : « era Coimbra o assento da Corte, e juntamente havia nella Mestres das Boas-Artes e Sciencias. Porque elRei D. Sancho (o primeiro) como recebeo de seu pay o reino pacifico, e rico, procurou illustrallo, e acrescentallo por muitas vias: e não lhe esquecêo a das letras, que é o que mais lustre dá aos homens e ás provincias ».

De mais das Escholas em tempos proximamente anteriores á Monarchia instituidas na

(a) Agiolog. Lusit. Tom. 3. pag. 250.

(b) Histor. de S. Domingos Part. I. Liv. 2. cap. 13. (c) Resende cap. 1.

(d) Loc. supra cit.

propria Sé Episcopal de Coimbra pelo Bispo D. Paterno, conforme atrás deixamos apontado, havia tambem por estes tempos outras no Real Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, nas quaes se lia publicamente Grammatica, Theologia e Medicina por famosos Mestres, segundo testemunha D. Nicolao de Santa Ma ria (a) e Fr. Francisco Brandão faz igualmente memoria, de que nas Cathedraes deste Reino se ensinavam as Letras no Periodo, de que estamos escrevendo, onde, para os que as estudavam, havia Livrarias publicas, e são suas palavras as seguintes (b): « No tempo antecedente (á fundação da Universidade Portugueza) se ensinava nas Cathedraes do Reyno Grammatica (25.a) : na Sé de Lisboa a estudou Santo Antonio, como escreve S Bernardino em sua Vida e ainda em toda Hespanha, antes que houvesse Universidades nella, se fazião livrarias publicas nas Sés Cathedraes, e Igrejas Parochiaes, para estudarem os que se occupavão nas Letras (c), do que ha muitos exemplos nas historias deste Reyno ».

Não foram infecundos os litterarios ingenhos deste Periodo, muitos dos quaes deixáram após si documentos, com que autorisaram o seu saber, e mandaram seus nomes recom

(a) Chronica dos Conegos Regrantes, Part. II. Liv. 7.cap. 72.

[ocr errors]

(b) Monarch. Lusit. Part. V. Liv. 16. cap. 72. (c) Colmenares na Histor. de Sogovia cap. 12. §. 12.

mendados á posteridade: Por quanto revol vendo as memorias do tempo, encontramos um bom numero de escriptores Portuguezes, que por suas obras, de notavel perfeição para aquella idade, adquiríram direito a serem postos em lembrança, como fôram, entre outros, o proprio Fundador da Monarchia, o Senhor D. Afonso Henriques, Varão tão inclinado ao exercicio das Armas, como das Letras, do que dá fé a sua Historia da Conquista de Santarem pelo valor do seu braço, na qual Historia claramente se deixa ver a pureza e elegancia, com que escrevia a lingua Latina (26.a): João Camello, capellão do sobredito Monarcha, e primeiro Chronista do Reino de Portugal, ao qual elRei D. Afonso, para eternizar os gloriosos feitos dos heroes, que com elle cooperáram para a conquista do Reino, commettêo em 13 de No-. vembro de 1145, por ser ornado de juizo prudente e animo sincero, a incumbencia de nar-, rar as origens das familias, donde procediam;

por quanto (diz assim a Provisão Real, que o nomeou para escrever esta obra) andou sem-> pre comigo nas guerras, e conhece bem os que comigo andaram, e sabe donde vieram, e é pessoa de boa consciencia » (27.a). Ennobrecêram igualmente este Periodo com o luzimento das Letras um D. Gastão de Fox, Bispo. d'Evora, o qual, bem que de origem Franceza, pois descendia dos Principes de Guievio a luz em o nosso Portugal, e foi um. dos mais bellos ornamentos do reinado do Se→

na,

« VorigeDoorgaan »