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Monarcha foi mudada novamente para Coim bra no anno de 1354 a nossa Universidade depois de haver desta vez residido no seu primeiro assento dezesseis annos somente; devendo porêm ao invicto triumfador do Salado a concessão e ampliação de grandes privile gios, o que bem deixa ver, que este Principe magnanimo, qual outro Alexandre, nem ainda no meio das refregas de Marte se es quecia de promover e exalçar as honras de Minerva E tomou tanto a peito elRei D. Afonso IV a prosperidade e augmentos deste Litterario Estabelecimento, que a instancias suas foi pelo Papa Clemente V. expedida uma Bulla, dirigida aos Bispos de Lisboa e de Evora, na qual lhes recommendava seus desvelos, para que os lumes das Sciencias nunca se apagassem antes fossem adquirindo sempre novos e repetidos acrescentamentos na Academia Portugueza (a).

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Desta sorte foi Coimbra continuando a ser a eschola, onde se ensinavam todos os bons estudos á mocidade Portugueza, começando já desde então a germinar as sementes, que produziram os varões esclarecidos, os quaes no futuro haviam de dar á Patria tão grande luzimento, despertar assombrosa admiração em toda Europa, e infundir o mais profundo respeito no Orbe inteiro por seus summamente arriscados e inauditos descobrimentos, e

(a) Bento Pereira Respublica Litter. Lib. 1. Dispu tat. 3. Quæst. 5. numer. 110.

pelo novo ingenho, que a mesma difficuldade das maritimas emprezas, e suas necessarias consequencias haviam de ir progressivamente desenvolvendo, e indefinidamente engrandecendo: Até que no correr do anno de 1377. foram as aulas Academicas transferidas de novo para Lisboa, pela razão de não quererem alguns Professores, mandados vir de fóra do . Reino por el Rei D. Fernando, dar-se ao ensino em outro logar, que não fosse Lisboa.

Nesta ultima cidade pois permanecĉo por largo tempo a nossa Universidade com grande protecção e privilegios, que os Monarchas Portuguezes lhe concederam, esmerando-se todos, como á porfia, em se mostrarem tão devotos do culto das Armas, como das Letras; bem persuadidos de que são estes os firmes alicerces, sôbre que solidamente se levanta o edificio da verdadeira gloria e grandeza das monarchias, e dos Soberanos, que as moderam.

Por estes tempos tinha já lançado tão profundas raizes a arvore da Sciencia no terreno Portuguêz, que, sem embargo das guerras assoladoras, que fomos obrigados a sustentar contra o poder Castelhano, assim no governo mal aconselhado del Rei D. Fernando, como no inquieto interregno, que se lhe seguio, e primeiros annos do Reinado do Senhor D. João I, foram sempre as Letras com mui grandes augmentos progredindo, o que se manifestou pelos muitos e distinctos sabios, que neste e seguintes Reinados floreceram em o ROSSO Portugal.

No decimo-septimo anno do governo do Senhor D. João I, que foi o 1400 da E. C. encontramos a primeira noticia da incorporação em a nossa Universidade da Faculdade de Theologia, até esse tempo ensinada nos Conventos de S. Domingos e de S. Francis co, conforme atrás ficou referido e porque anteriormente a este anno nenhum documento apparece que nos leve a suppôr, que ella se lia na Universidade, póde conjecturar-se com Francisco Leitão Ferreira (cuja obra, em a Nota citadą, nos vai servindo de guia na maior parte das noticias, que damos da mesma Universidade), que foi o anno acima dito o primeiro, em que a mencionada Faculdade começou a ser incorporada, com as outras, em a nossa Academia (a),

Mas era já chegado o prazo, em que a Nação Portugueza devia patentear ao Mun

da seu ingenho creador na applicação dos principios bebidos nas escholas de Urania, obrando acções, sôbre as quaes assentasse, como em base solida e triumfadora do tempo e caprichos humanos, a sua reputação litteraria, e o seu caracter emprehendedôr na carreira das Sciencias e das Artes, cuja influencia dá novo andamento aos destinos dos. Im-. perios, e faz estreitar cada vez mais os laços saciaes entre os individuos da mesma especie Pretendemos falar das primeiras bases dos

(a) Notic. Chronolog. da Universidade de Coimbra. Anno 1400, numer. 558,

grandes descobrimentos maritimos, e do commercio universal, que a Europa e o Mundo inteiro innegavelmente devem ao ingenho portentoso do Infante D. Henrique, e aos alum→ nos da sua Academia de Sagres, ou de Lagos, como outros escrevem, primeira Sociedade maritima instituida na Europa, e na qual este famosissimo Infante reunio os mais doutos Portuguezes do seu tempo, com outros chamados d'entre as nações extrangeiras, para nella se discutirem importantes questões de Astronomia, de Cosmographia e de Nautica,

Desta Academia illustre foram mui distinctos membros os Perestrêllos, os Betancurs, os Camaras, os Vaseos, por não falarmos de muitos outros; e creado com os mesmos principios, bebidos em tal Eschola, cresceo, e avultou immensamente alguns annos depois a grande Vasco da Gama, que por seu destemido e feliz arrojo levou o nome e a reputa ção Portugueza até os povos da India,

Mas para que não diga alguem, que, cegos com os fumos do orgulho nacional, transpomos as raias da verdade, pretendendo le vantar a Gente Portugueza ao cume de uma gloria duvidosa, a qual as nações, suas rivaes, the não reconhecem, seja-nos permittido transcrever neste logar as proprias expres→ sões de um acreditado Geographo extrangeiΤΟ o qual, com muitos outros, não duvidou de escrever, e publicar no meado do Seculo passado á face da sua nação e de toda Euro

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pa as seguintes palavras : « Os Portuguezes » tem a gloria de ser o primeiro pôvo da Eu » ropa, que aperfeiçoou a navegação, fazen » do-lhe applicação dos conhecimentos astro»nomicos. O Principe D. Henrique de Por»tugal, filho d'el Rei D, João primeiro, » fundou em Sagres, no reino do Algarve, » um Observatorio, no qual mandou educar, » e instruir alguns jovens na Sciencia da As»tronomia. O mesmo Principe suspeitou, » que os navegadores podiam tirar grandes » vantagens da Bussola, a qual havia já tres » Seculos. que era conhecida, mas de que » ninguem ainda se tinha lembrado fazer u"so para regular as longas viagens mariti"mas" (a) (34.2), Taes são os prodigiosos fructos do ingenho, quando os lumes das Sciencias lhe fecundam seus preciosos ger mes!

Ha quem diga, não sabemos se com gran de fundamento, que o Infante D. Henrique fôra o inventor das Cartas de marear (35.a); o que porém não padece duvida é, que foi elle quem abrío caminho com o seu exemplo ás famosas navegações, que serviram para levar á immortalidade tantos Heroes, assim como a afortunada Nação, que os produzio; navegações que pozeram em esquecimento tor das as outras tão gabadas, dos Fenicios, dos Carthaginêzes, &c.

(a) Géographie de La Croix, édit, de 1800, Tom. 1, Portugal.

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