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CANTO QUINTO

Prediz Paulo ilustrado a sua morte,
Despede a Antão, e chora o varão forte.

I

Acabou Paulo a sua rara historia,

Quando a noute estendia o manto escuro
Donde, de Antão ficou, em a memoria
Melhor gravada, que em diamante duro.
A sombra sepultou, da luz, a gloria
Para resuscitar no dia puro.

E os dois sobem, orando, a outra esféra,
Ficando serafim o que homem era,

II

Té que do sol a precursora amada
Lhe oferece para luz seus brandos lumes,
E a filomena, dando-lhe a alvorada,
Amores só lhe canta, e não queixumes;
A flor, do verde catre levantada,
Sacrificio lhe faz de seus perfumes!
E amor que os suspendia em tanto afogo
Ao raiar da luz, afrouxa o fogo.

III

Com alegria, os dois, se saudaram;
E Paulo, a Antão, olhando com terneza:
Ha largo tempo, diz, me revelaram
Que abitas destes ermos a dureza.
A visita, que os ceus nos prepararam,
Prometida me foi nesta aspereza,
Porque nela (que a vida já se apura!)
Possas dar a meu corpo sepultura.

IV

Torna a teu domicilio, e volta logo
A trazer de Atanazio o caro manto;
E nele envolverás, em tanto afogo,
Meu corpo em seu abrigo e em teu pranto.
Minhas cinzas, espéro, tomem fogo
Nas lagrimas de amor e toque santo;
E todos te dirão sem meu desdouro
Ter mais valor a guarda que o tezouro.

Estrofe III. Em A Preciosa :

A visita que os ceus nos celebraram,

V

-Ai, disse Antão, e como em mal tão forte
Me deixas aqui, só, nesta partida?

Ou sustentes a vida contra a morte
Ou a morte me alcances contra a vida!
Mas já a Parca sinto em tua sorte
O, já a vejo em tua despedida!
Assim, que escuso aqui tua piedade,
Pois morrerei de inveja e de saudade!

VI

Mas este teu intento em ir primeiro
Até das féras te será notado...

Olha que levas coração inteiro

E

que me deixas coração quebrado ! Em tudo desigual, por derradeiro

Não queiras ser em tão diverso estado:
Pois te vaes a escutar o santo Santo
Não me deixes a ouvir o pranto Pranto!

Se

VII

para o Ceu te partes, victorioso,
Não me deixes na Terra maguado;
Liberal se comigo de teu goso
E te será maior comunicado.
Eu fico neste páramo, saudoso,
Para reverdecer seu bronco estado,
Pois darei, pelos secos horizontes,
Mios aos ermos, aos penhascos fontes!

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