Prediz Paulo ilustrado a sua morte, Despede a Antão, e chora o varão forte.
Acabou Paulo a sua rara historia,
Quando a noute estendia o manto escuro Donde, de Antão ficou, em a memoria Melhor gravada, que em diamante duro. A sombra sepultou, da luz, a gloria Para resuscitar no dia puro.
E os dois sobem, orando, a outra esféra, Ficando serafim o que homem era,
Té que do sol a precursora amada Lhe oferece para luz seus brandos lumes, E a filomena, dando-lhe a alvorada, Amores só lhe canta, e não queixumes; A flor, do verde catre levantada, Sacrificio lhe faz de seus perfumes! E amor que os suspendia em tanto afogo Ao raiar da luz, afrouxa o fogo.
Com alegria, os dois, se saudaram; E Paulo, a Antão, olhando com terneza: Ha largo tempo, diz, me revelaram Que abitas destes ermos a dureza. A visita, que os ceus nos prepararam, Prometida me foi nesta aspereza, Porque nela (que a vida já se apura!) Possas dar a meu corpo sepultura.
Torna a teu domicilio, e volta logo A trazer de Atanazio o caro manto; E nele envolverás, em tanto afogo, Meu corpo em seu abrigo e em teu pranto. Minhas cinzas, espéro, tomem fogo Nas lagrimas de amor e toque santo; E todos te dirão sem meu desdouro Ter mais valor a guarda que o tezouro.
Estrofe III. Em A Preciosa :
A visita que os ceus nos celebraram,
-Ai, disse Antão, e como em mal tão forte Me deixas aqui, só, nesta partida?
Ou sustentes a vida contra a morte Ou a morte me alcances contra a vida! Mas já a Parca sinto em tua sorte O, já a vejo em tua despedida! Assim, que escuso aqui tua piedade, Pois morrerei de inveja e de saudade!
Mas este teu intento em ir primeiro Até das féras te será notado...
Olha que levas coração inteiro
que me deixas coração quebrado ! Em tudo desigual, por derradeiro
Não queiras ser em tão diverso estado: Pois te vaes a escutar o santo Santo Não me deixes a ouvir o pranto Pranto!
para o Ceu te partes, victorioso, Não me deixes na Terra maguado; Liberal se comigo de teu goso E te será maior comunicado. Eu fico neste páramo, saudoso, Para reverdecer seu bronco estado, Pois darei, pelos secos horizontes, Mios aos ermos, aos penhascos fontes!
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