Vê Antão no caminho do deserto
A Paulo glorioso, ao ceu aberto!
Do muito que correu, finou Apolo, E suas luzes sepultadas jazem,
Sem que as sombras, que são seu mauseôlo, A Antão em seu caminho o passo atrazem: Té que aclarando um, e outro polo, Lua e Aurora para vê-lo nascem; Eraclita e Democrita em tal hora, Uma ri, vendo ao mundo, e outra chora.
Derramando nos rusticos outeiros As primicias do aljofar, seus albores Eles, que nesfa acção, já não grósseiros Se oferecem politicos ás flores: Sendo-lhe, já quebrados, já inteiros, A's sêdes agua, perola aos primores: Aqui saiu o sol ferindo fogo,
Porque tarde chegou, chegando logo.
Ao Momarca da luz esclarecido, As aves com seu canto saudaram; Porém vendo-o nas flores divertido, Ciumes por amores lhe cantaram : Té que a aguia, que já tinha subido, As invejas da rosa defazaram, E quando penetravam aquele lume, Não se queimou na luz, mas no ciume!
De seguir seu caminho Antão só trata, Já magoado na timida pena,
Quando suave canto o arrebata, Na infancia pura da manhã serena: Ficou suspenso, vendo que retrata Ao serafim, e não á Filomena, Musica duas vezes peregrina,
Sendo em esfera humana, voz divina.
A penha se moveu ao doce canto, A ave se parou á melodia,
A pedra se estremece ao raro encanto, A fonte sem correr, se suspendia; O musico de Tracia, com espanto, Pergunta quem furtou sua harmonia; Para esta paridade mal a tomem, Que aqui é voz de anjo, e lá de homem.
Olha Antão, vê angélicas creaturas, Que os doces cantos entoado haviam ; E penetrando estas esferas puras, Com Paulo glorioso ao Ceu subiam : Os de maior lugar nessas alturas, A córos companhia lhe faziam, Apostolos, profetas, lhe são guia, Qua entre os de mais valia tem valia.
Quanto á vista da Gloria, enardecido, Fica á vista da perda maguado; O fogo, que no peito se ha crescido, Com a agua do pranto ha mitigado: No coração se sente entristecido E nos olhos se vê glorificado; A celestial visão desaparece, A gloria diminue, a pena cresce!
- Desertos de Tebaida, portentosos, (Exclamou maguado em pesar tanto) Chorae vosso Primaz, e saudosos, A luz do sol apague vosso pranto: Duras penhas, carrascos espinhosos, Abrande caudeloso vosso pranto, E vossa saudade, e tal conflito, Da terra até ao Ceu levante o grito.
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