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CANTO SEXTO

Vê Antão no caminho do deserto

A Paulo glorioso, ao ceu aberto!

I

Do muito que correu, finou Apolo,
E suas luzes sepultadas jazem,

Sem que as sombras, que são seu mauseôlo,
A Antão em seu caminho o passo atrazem:
Té que aclarando um, e outro polo,
Lua e Aurora para vê-lo nascem;
Eraclita e Democrita em tal hora,
Uma ri, vendo ao mundo, e outra chora.

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Derramando nos rusticos outeiros
As primicias do aljofar, seus albores
Eles, que nesfa acção, já não grósseiros
Se oferecem politicos ás flores:
Sendo-lhe, já quebrados, já inteiros,
A's sêdes agua, perola aos primores:
Aqui saiu o sol ferindo fogo,

Porque tarde chegou, chegando logo.

III

Ao Momarca da luz esclarecido,
As aves com seu canto saudaram;
Porém vendo-o nas flores divertido,
Ciumes por amores lhe cantaram :
Té que a aguia, que já tinha subido,
As invejas da rosa defazaram,
E quando penetravam aquele lume,
Não se queimou na luz, mas no ciume!

IV

De seguir seu caminho Antão só trata,
Já magoado na timida pena,

Quando suave canto o arrebata,
Na infancia pura da manhã serena:
Ficou suspenso, vendo que retrata
Ao serafim, e não á Filomena,
Musica duas vezes peregrina,

Sendo em esfera humana, voz divina.

V

A penha se moveu ao doce canto,
A ave se parou á melodia,

A pedra se estremece ao raro encanto,
A fonte sem correr, se suspendia;
O musico de Tracia, com espanto,
Pergunta quem furtou sua harmonia;
Para esta paridade mal a tomem,
Que aqui é voz de anjo, e lá de homem.

VI

Olha Antão, vê angélicas creaturas,
Que os doces cantos entoado haviam ;
E penetrando estas esferas puras,
Com Paulo glorioso ao Ceu subiam :
Os de maior lugar nessas alturas,
A córos companhia lhe faziam,
Apostolos, profetas, lhe são guia,
Qua entre os de mais valia tem valia.

VII

Quanto á vista da Gloria, enardecido,
Fica á vista da perda maguado;
O fogo, que no peito se ha crescido,
Com a agua do pranto ha mitigado:
No coração se sente entristecido
E nos olhos se vê glorificado;
A celestial visão desaparece,
A gloria diminue, a pena cresce!

VIII

- Desertos de Tebaida, portentosos, (Exclamou maguado em pesar tanto) Chorae vosso Primaz, e saudosos, A luz do sol apague vosso pranto: Duras penhas, carrascos espinhosos, Abrande caudeloso vosso pranto, E vossa saudade, e tal conflito, Da terra até ao Ceu levante o grito.

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