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Sae o Ilustre Pedro ao campo grave;
Amor o leva e o suspende uma ave.

I

Não de fogo voraz, ardente chama,
Que a introduzir-se eterna acende a ave,
Não da propria reliquia, que da flama
Filha materna a faz em trance grave;
Não do lenho aromatico, que a chama
Sendo pira cruel, berço suave,
O Fenix dos Planetas sae luzente,
Sim, da caverna undosa fogo ardente,

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Fenix do mar, Apolo renascia,
Que já Flora de Tetis murmurava;
A flor nos resplendores se luzia,
A perola na dor se congelava,
A ninfa por prendê-lo em tal profia,
O canto da serêa provocava;
Mas já o carro posto, do profundo,
Saiu o carro a passear o mundo.

III

A aurora enxuga o pranto enternecido,
A fera deixa a gruta pavorosa,
A ave vôa ao vale apetecido,
Do leito de esmeralda sae a rosa.
A rez torna da relva ao mais provido,
O rustico á tarefa proveitosa;

A ave, flor, homem, bruto, na alvorada
Saudavam do sol a madrugada.

IV

Correu o veu opaco noite escura
Ao bastidor florido de Amaltea,
Donde Flora debuxa á sombra impura
Quanto a Aurora descobre á luz febea.
Diana só deixou sua figura

Na açucena, das flores pura deia;
Já Apolo, que na luz a sombra sorbe,
Já prodigo de si, dourava o orbe.

V

Quando o ilustre varão, que sucessivo
Nos altos pensamentos remontado,
O claustro deixa absorto, e discursivo
Busca o campo de assombro iluminado,
E ali, quando da gloria o bem altivo,
Era lida fatal de seu cuidado,
Suave o convidou o grave canto
De peregrino ser, luzido encanto.

VI

Olhou, e viu a portentosa ave, Negra na cor, angelica no canto, melro suave,

Aos olhos pareceu

Aos ouvidos soou sublime encanto;

A alta melodia, o metro grave,

Não lograda outra vez foi raro espanto;
O homem no Paiz que a ave encerra
O suspeitava ceu, pisando terra.

VII

Passeava do ar a esfera pura
A ave peregrina sem receio;
O ilustre Pedro cheio de doçura
Segue com passo lento o caro enleio;
Já vôa, já se pára, já o apura,

Sem que ao suave metro ponha freio;
Porém ela voava, ele corria,

Quando amor suas asas lhe oferecia.

VIII

Por detê-la o amante em tal intento,
Vendo-a de rosa em rosa e rama em rama;
Quando alargava a mão, prendia o vento,
Porém, já nos suspiros solta a chama.
Aligeira o fogoso movimento,

Que asas de fogo lhe vae dando a flama;
E ancioso disse, já, no do canto grave:
-Que me levas a vida; tem-te ave!...

IX

Uma foge, outro segue em tanta lida
Até pensil terreno, e emboscado,
Que do convento é cerca florida,
Donde o cravo, da rosa enamorado,
Do rouxinol com zelos perde a vida.
Aqui parou da ave o remontado

Com que o lugar de Flora mais reverde,
Se hontem foi campo azul, hoje ceu verde.

X

Fez alto em um pinheiro levantado,
Soberbo trono já ditoso ninho,
Para o maior prodigio destinado,
Que o orbe todo viu, não só o Minho.
Com razão no tal lance transmutado
O cedro se trocara pelo pinho,
E o loureiro que olhava tanta gloria,
Logo inveja ficou, se antes victoria.

XI

As arvores do pinho engrandecido,
Invejavam a dita com efeito;
Té o bronze do campo competido
Te rompe na paixão já imperfeito.
Em pedaços se faz o endurecido,
Que invejas, té os robles tem desfeito!
Tambem a palma disse em tanta calma:
Como se palma sou, não levo a palma?—

XII

O sicomoro sempre venerado
Na emulação, dizia, já notoria:

-Como este dia a gloria me ha voado;
Se algum dia de mim se viu a gloria?!
O fúnnbre cipreste encapotado
Mais triste se ficou sem a vangloria;
Só a sacra oliveira nunca esquiva,
Olhando para o pinho, disse viva.

XIII

As filhas de Amaltea primorosas
Para alcatifa todas se ofereciam,
Do peregrino pé ambiciosas
O florido tapete já teciam.
As silvas por prendê-la cavilosas
Gaiola de esmeralda lhe faziam.
E a rosa, que rainha a tudo estava
Com trono de coral a convidava.

XIV

Porém, a ave, no pinheiro indino,
Continua a celeste melodia;

E ao metro angelical, canto divino,
O monte se moveu com alegria.
Ficou

suspenso o ar; ó caso dino!
As fontes já não correm com profia
E ao peregrino canto que ali sôa,
Param os rios quando Pedro vôa.

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