Ficando, o deus do Mar, enamorado Quando já mais seguro se presume, Começou a ansiar, o bem amado, -Que isto te der amor, é ter ciume! Manda ás perolas, logo, arrebatado, Que lhe prendam a ninfa, raro nume; Em cordões se enfiaram nesta empreza, E uma perola de outras se vê presa!
Vendo-se a ninfa pelo deus atada, Para ele virou a bela face;
Um sorriso a deixou mais engraçada...
Aqui tendes a alva quando nasce! De seu amor, estava, já prendada, De cujo incendio Fenix se renasce; E entre dois afectos superiores, Na prisão dos ciumes canta amores.
Na maritima concha, que a guardava, A recolheu o deus, sem liberdade; Donde em prisões de ouro, a enfiava, Como perola fina, na verdade. E se o sol atrevido a espreitava, Neptuno lhe apagava a claridade, Mandando nuvens, para desafogo, Carregadas de agua contra o fogo.
Qual o fino diamante, sempre puro, Que na prisão do ouro encastoado, Qual a rosa, das silvas no seguro Que o ciume do sol a tem guardado, Qual o tezouro, que o ferrolho duro Aos perigos do ver, tem recatado: Tezouro, pedra fina, rosa pura, Guardada está, de Nila, a formosura.
Aqui, Neptuno, convidado havia As deidades do Mar, as ninfas puras; Para um banquete, donde repartia Nectares e ambrozías, por doçuras; E por frutos, ali, tambem trazia O coral tenro, as perolas maduras, Sendo a copa, e mantéis, ali notada; Tesido, aljôfar, agua congelada.
Já nas cadeiras, de cristal, sentados Ao banquete, que a todo o mar recreia, Para maior prazer dos convidados Toca o búzio o Tritão, canta a Sereia, Apolo, nos seus raios ilustrados, Para a letra lhe manda a sacra veia, E a musica divina que prepara, Fez o carro parar, que nunca pára!
Um dos marinos deuses inferiores Vendo as menzas de ninfas, coroadas, Vestidas de velilho sobre flores, Em coraes as madeixas enlasadas, E de Tétis as graças superiores Em cada uma delas retratadas, Disse, no termo de uma menza pura: - Está de todo o Mundo a formosura!
Ouvio Neptuno o deus, como afirmava Estar ali do Mundo a gentileza, Quando a sua ninfa lhe faltava, Sem ser Venuz a coroa da beleza. E acezo, na paixão que o insitava, Não podendo tragar sua brabeza, Deu uma grande voz cheia de ira, E disse:
té nos deuses ha mentira!... ·
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