Pagina-afbeeldingen
PDF
ePub

(FRAGMENTO)

(I)

Ficando, o deus do Mar, enamorado
Quando já mais seguro se presume,
Começou a ansiar, o bem amado,
-Que isto te der amor, é ter ciume!
Manda ás perolas, logo, arrebatado,
Que lhe prendam a ninfa, raro nume;
Em cordões se enfiaram nesta empreza,
E uma perola de outras se vê presa!

(II)

Vendo-se a ninfa pelo deus atada,
Para ele virou a bela face;

Um sorriso a deixou mais engraçada...

Aqui tendes a alva quando nasce! De seu amor, estava, já prendada, De cujo incendio Fenix se renasce; E entre dois afectos superiores, Na prisão dos ciumes canta amores.

(III)

Na maritima concha, que a guardava,
A recolheu o deus, sem liberdade;
Donde em prisões de ouro, a enfiava,
Como perola fina, na verdade.
E se o sol atrevido a espreitava,
Neptuno lhe apagava a claridade,
Mandando nuvens, para desafogo,
Carregadas de agua contra o fogo.

(IV)

Qual o fino diamante, sempre puro, Que na prisão do ouro encastoado, Qual a rosa, das silvas no seguro Que o ciume do sol a tem guardado, Qual o tezouro, que o ferrolho duro Aos perigos do ver, tem recatado: Tezouro, pedra fina, rosa pura, Guardada está, de Nila, a formosura.

(V)

Aqui, Neptuno, convidado havia
As deidades do Mar, as ninfas puras;
Para um banquete, donde repartia
Nectares e ambrozías, por doçuras;
E por frutos, ali, tambem trazia
O coral tenro, as perolas maduras,
Sendo a copa, e mantéis, ali notada;
Tesido, aljôfar, agua congelada.

(VI)

Já nas cadeiras, de cristal, sentados
Ao banquete, que a todo o mar recreia,
Para maior prazer dos convidados
Toca o búzio o Tritão, canta a Sereia,
Apolo, nos seus raios ilustrados,
Para a letra lhe manda a sacra veia,
E a musica divina que prepara,
Fez o carro parar, que nunca pára!

(VII)

Um dos marinos deuses inferiores
Vendo as menzas de ninfas, coroadas,
Vestidas de velilho sobre flores,
Em coraes as madeixas enlasadas,
E de Tétis as graças superiores
Em cada uma delas retratadas,
Disse, no termo de uma menza pura:
- Está de todo o Mundo a formosura!

(VIII)

Ouvio Neptuno o deus, como afirmava
Estar ali do Mundo a gentileza,
Quando a sua ninfa lhe faltava,
Sem ser Venuz a coroa da beleza.
E acezo, na paixão que o insitava,
Não podendo tragar sua brabeza,
Deu uma grande voz cheia de ira,
E disse:

[ocr errors]

té nos deuses ha mentira!... ·

« VorigeDoorgaan »