Pagina-afbeeldingen
PDF
ePub

XCVIII.

E com forçar o rofto, que fe enfia;
A parecer feguro, lédo, inteiro,
Para o pelouro ardente, que affovia,
E leva a perna ou braço ao companheiro.
Defta arte o peito hum callo honrofo cria,
Defprezador das honras, e dinheiro;
Das honras, e dinheiro, que a ventura
Forjou, e nao virtude jufta, e dura.

XCIX.

[ocr errors]

Defta arte fe efclarece o entendimento,
Que experiencias fazem repoufado;
E fica vendo, como de alto affentó
O baixo trato humano embaraçado:
Efte, onde tiver força o regimento
Direito, e nao de affectos occupado,
Subirá (como deve) a illuftre mando,
Contra vontade fua, e nao rogando.

Fim do Canto fexto.

229

LUSIA DA

DO GRANDE

LUIS DE CAMÕES.

CANTO SEPTIM O.

ARGUMENTO.

Di fundo a frota a Calecut chegada ;
Manda-fe menjageiro ao Rei potente;
Chega Monçaide a ver a Lufa armada,
E da Provincia informa largamente :
Faz Gama ao Samori fua embaixada ;
E recebido bem da Indica gente,
Co o Regedor da terra ao mar fe torna
Que de toldos e flammulas fe adorna.

I.

A' fe viam chegados junto á terra,. Que defejada já de tantos fora, (ra, Qu'entre as corrétes Indicas fe encerEo Ganges, qno Ceo terreno mora. Ora fus, gente forte, que na guerra Quereis levar a palma vencedora; Já fois chegados, já tendes diante A terra de riquezas abundante.

II.

A vós, ó geraçao de Lufo, digo,
Que tao pequena parte fois no Mundo;
Nao digo inda no Mundo, mas no amigo
Curral de quem governa o Ceo rotundo:
Vós, a quem nao fómente algum perigo
Eftorva conquistar o povo immundo;
Mas nem cobiça, ou pouca obediencia
Da Madre, que nos Ceos eftá em essencia:

III.

Vós, Portuguezes poucos, quanto fortes,
Que o fraco poder voffo nao pezais;
Vós, que á cufta de voffas várias mortes
A Lei da vida eterna dilatais:

Affi do Ceo deitadas fao as fortes,
Que vós por muito poucos que fejais,
Muito façais na fancta Chriftandade:
Que tanto, ó Chrifto, exaltas a humildade!

IIII.

Vedes os Alemães, foberbo gado,
Que por tao largos campos fe apafcenta,
Do fucceffor de Pedro, rebellado
Novo Paftor e nova feita inventa:
Vêde-lo em fêas guerras occupado,

[ocr errors]

Que inda co' o cego error fe nao contenta; Nao contra o fuperbiffimo Othomano Mas por fahir do jugo foberano.

V.

V.

Vedes o duro Inglez, que fe nomea
Rei da velha e fanctiffima Cidade,
Que o torpe Ifmaelita fenhorêa :
Quem vio honra tao longe da verdade?
Entre as Boreaes neves fe recrêa,
Nova maneira faz de Christandade:
Para os de Chrifto tem a efpada nua,
Nao por tomar a terra que era fua.

VI.

Guarda-lhe por entanto hum falfo Rei
A Cidade Hierofolyma terrefte,
Em quanto elle nao guarda a fancta Lei
Da Cidade Hierofolyma celefte.
Pois de ti, Gallo indigno, que direi ?
Que o nome Chriftianiffimo quizeste,
Nao para defendê-lo, nem guardá-lo,
Mas para fer contra elle, e derribá-lo.

[blocks in formation]

Achas que tees direito em fenhorios
De Chriftãos, fendo o teu tao largo, e tanto;
E não contra o Cyniphio, e Nilo, rios,
Inimigos do antigo nome fanto?

[ocr errors]

Alli fe hao de provar da efpada os fios, Em quem quer reprovar da Igreja o canto. De Carlos, de Luis o nome e a terra, Herdafte, e as caufas nao da justa guerra ?

VIII.

Pois que direi daquelles, que em delicias
Que o vil ocio no Mundo traz comfigo,
Gaftam as vidas, logram as divicias
Efquecidos de feu valor antigo?
Nafcem da tyrannia inimicicias
Que o povo forte tem de fi inimigo.
Comtigo Italia fallo, já fubmerfa
Em vicios mil, e de ti mesma adverfa.

IX.

Oh miferos Chriftãos! Pela ventura,
Sois os dentes de Cadmo defparzidos,
Que huus aos outros fe dao a morte dura,
Sendo todos de hum ventre produzidos?
Nao vedes a divina Sepultura

Poffuïda de cães, que fempre unidos
Vos vem tomar a voffa antigua terra,
Fazendo-fe famofos pela guerra?

X.

ufo, e por decreta;

Vedes que tem por ufo,

Do qual fao tao inteiros obfervantes,
Ajuntarem o exército inquieto,

Contra os povos que fao de Chrifto amantes?
Entre vós nunca deixa a fera Aleto
De femear cizanias repugnantes.
Olhai fe eftais feguros de perigos,
Que elles e vós fois voffos inimigos.

« VorigeDoorgaan »