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tica. Com effeito assim sería, se o Diplomatico que o examinasse não igualasse ou excedesse em sciencia ao mesmo impostor; mas este caso singular e extraordinario, não faria com que a Diplomatica deixasse de encher os seus fins ácerca dos outros. E como se póde suppor que um falsario attenda com tanta exactidão a mil circumstancias que deve contemplar no seu fingimento, bastando huma só para o desmascarar? Trabalhando contra a verdade, nella ha de cahir, sem o perceber: e mal póde além disso ter conhecimento de quantos Documentos ou Monumentos verdadeiros existem, e que póde qualquer delles tornar inuteis todas as suas fadigas no fingimento, (Mabillon De Re Dipl. Supplem. Cap. 4. n. 4. p. m. 17. Vain. Tom. 1. p. 488, e 532: Nov. Dipl. Tom. 1. Pref. p. XIV, e Cap. 2. p. 53 n. 5. e seg.)

Passando já á Historia dos progressos da Diplomatica, vemos que a obra de Mabillon foi elogiada, e o seu A., pelo mesmo Papebroch, de quem elle se declarára Antagonista; porém não faltárão outros que buscárão atacalla; entre estes se distinguirão o Jesuita Germon, Simon, Lenglet, Dairval, Maffei, Raguet, M. Bernard, Vitri, Harduino, Hickes. Mabillon contentou-se com dar em 1704 hum Supplemento á sua Obra; mas Ruinart e Coustant tomárão a sua defeza, bem como os Italianos Fontanini, e Lazarini; distinguindo-se entre todos D. Tassin, e D. Toustain no 1.° Volume da erudita Obra intitulada -Nouveau Traité de Diplomatique-Cap. 1. e 2., que imprimirão em 1750, e continuárão em 6 Volumes, de que ainda teremos de fallar. (Nov. Dipl. Tom. 1. Pref. Baring. Clavis Dipl.)

A pezar dos impugnadores, ou em geral da Diplomatica, ou em particular dos principios e regras de Mabillon, tem sido nestes ultimos seculos muito cultivada a mesma sciencia. O alemão Baringio na sua Clavis Diplomatica nos dá hum Catalogo dos seus AA. distinguin

do-os methodicamente, sem se esquecer das Obras que tem tido por assumpto particular a impugnação ou a defeza de hum ou de mais Documentos. Entre os que podemos chamar Diplomaticos, alguns tem dado o Systema da mesma Sciencia com mais ou menos extensão: outros tem só trabalhado sobre alguma das suas partes, principalmente na Paleografia: outros tem dado á luz collecções de Documentos simplesmente, ou illustrados com eruditas Notas e Dissertaçõs: outros nos tem dado Glossarios opportunos para a intelligencia dos mesmos Documentos antigos, etc.

Para evitar prolixidade bastará lembrar entre os Francezes, além de Mabillon e os AA. do Novo Tratado, a D. Vaines que em 2 vol. de 8.° a resumio em fórma de Diccionario, os AA. da Encyclopedia Methodica no Art. Diplomatique nas Antiguidades, e ao grande Montfaucon.

Dos Alemães merecem particular lembrança o A. do Chronicon Gotowicense, Gaterer, Heuman, Hofman, Walter, Eckard, Ludewig.

Dos Inglezes Kimer e Hickes.

Dos Italianos Muratori, Maffei, Manni, Gatti, Maranti. A Hespanha se tem feito tambem benemerita da Diplomatica; e além dos antigos, Aguirre, Loaysa, Zurita, Morales, Garibay, Sandoval, Berganza, e outros, são bem de lembrar entre os modernos os nomes de Escalona, Corvalan, Vila, Espes, Conde de Mora, Cortes, e de outros ainda mais proximos a nós, como Christovão Rodrigues, Flores, Risco, D. José Perez, Terreros y Pando, Meriño, o Arcebispo de Selimbria La Sierra, Caresmar, Pasqual, D. Miguel de Manuel, Tragia, Casiri, Burriel, Bayer, Marquez de Val de Florez, Muñoz, Masdeu, além das Obras da Illustre Academia da Historia de Madrid (Vej. Abella, Plan. de un. Viag.)

Não tem sido tambem no nosso Reino desconhecidos

trabalhos Diplomaticos, e a cultura desta Sciencia. He mesmo de admirar que no Reinado do Senhor D. Diniz, o Procurador Regio Domingos Paez, com tanta circumspecção e destreza empregasse e fizesse uso dos principios da Diplomatica, para mostrar a suspeição em que laboravào huns Documentos dos Templarios. Tanto se vê no R. Arch. no Liv. dos Mestrados desde f. 54 em diante (1) (Vej. Nov. Hist. de Malt. P. 1. p. 44 nota 25.)

Igual pericia se mostra dos Enqueredores do Senhor D. Affonso III. e IV. (2)

(1) Tambem o Procurador Regio do Senhor D. João I, em 7 de Setembro da Era de 1454, impugna huma Doação feita á Ordem do Hospital, dizendo Que o tal privilegio e Doacão nom eram couza nenhuma, que el nom tem Seelo nenhum nem signal pubrico, mas huma Carta rassa, em que forom poer muitas testemunhas mortas, de que á nós nam he memoria, que achou postas em outra Carta: que o Seello que traz não he seu, antes se mostra que foi tirado de outra Carta, e posto em esta, e coseramno com hum panno em tal maneira que sse pom e tiram quando que(Armar. 16. Liv. 2, de Sentenças de Morgados e Capellas n.o 6. f. 7. no R. Arch.)

rem =

Em huma Sentença do Juizo dos Feitos da Coroa de 12 de Setembro da Era de 1449, em causa vinda por via de remissão do Requeredor dos Reguengos de ElRey no termo do Porto, se relata o seguinte=Vista huma Carta d'ElRey D. Affonso, em que fazia mençom, que fezera Doaçom ao dicto Moesteiro da Irmida de S. Ovaya, que lhe parecia que a dicta Carta e trassunpto della que era contheuda em hum Caderno que perante elle fora mostrado, nem as outras Cartas nelle contheudas que nom eram authenticas, nem faziam fee; porque parecia que a dicta Carta nom era seellada com seello do dicto Rey, nem synada, nem outrosy os traslados das outras escripturas nom faziam fee nem eram authenticos; porque nom parecia que fossem feitos por maaom de tabaliom, nem com authoridade de justiça, se nom era hum caderno de purgaminho, e as folhas cortas em que forom scriptos os dictos cadernos Arch. R. Gav. 11 Maç. 7. n.o 23,

(2) O chamado Liv. 2. de Doações do Senhor D. Affonso III. no Archivo contém as Copias das Doações que tirárão os Enqueredores da Quinta Alçada da Era 1296, e para cujo fim as pedião em cada hum lugar, como praticárão ainda os de outras, e se colhe do Liv. 5. das Inquirições do mesmo Senhor f. 2. v. na Freguezia de S. João da Foz, aonde se lê —Et tunc Abbas Sancti tixi monstravit inde nobis cartam sigillatam sigillo D. Regine Maphalde per quam est cautatus, et quomodo aquisiveTom IV. Part. I. B

Os nossos Chronistas mais antigos, posto que para formalizar as suas Chronicas se aproveitassem dos Docu

runt eum, et dederunt inde nobis translatum-E mais claro se mostra da Rubrica do mesmo Liv. 2. de Doações (que por erro da encadernação se acha a f. 22)=Iste sunt carte quas invenerunt Inquisitores Johannes Stephani et Pelagio Suarii frater de Eclesiola et Petro Martini et Abrilis Johanis et Johane Dominici et Stephano Suarii Scribani de inter Tamega et Dorium de donationibus et cautis, et regalengis que dederunt reges et riqui homines ad forum Er. 1296 E ainda da outra Rubrica a f. 4 V.Hec sunt Carte de judicatu Bayam, et de Penaguyam, quas monstraverunt de Eclesiis, et qualiter tenent Regalengum ad forum=e a f. 25 v.= Hec sunt carte de Judicatu de Gouvea et de Geestaso tam de donatione Regum quam de Regalengo etc.

Naquelle mesmo L. 2. a cada passo se declara no fim das copias as. notas que acompanhavão os Originaes apresentados, como v. g. a f. 1 v. = Et inquisitoris non invenerunt sigilum, nec signa in carta ista et litera de nominibus istorum hominum fuit facta de alia manu et erat magis minuta=a f. 2=et istam cartam viderunt cum Sigillo istius Regis Inquisitores, et non sedet in carta ista qu's fecit eam=a f. 6=et ista carta non erat sigillata nec tenebat signa et fuit facta per mandatum Judiceis de Panoyas f. 11. Pintada huma mão aberta entre as columnas dos Confirmantes, e no fim a declaração= Et ista Carta nom tenebat Sigillum de aliquo Rege, et erat littera facta, sicut est ista, de tribus manis, et scriberunt ibi istum modo qui est scriptum, sub forma de ista manu. Na mesma folha no fim de outro Diploma-et ista carta tenebat Sigillum et tenebat unam pernam de pergameno, in qua sedbat Sigillum, britada a f. 23=et Inquisitoris non invenerunt istam Cartam Sigillatam nec similatur eis quod valeat carta ista= a f. 30 no fim do Foral de Barqueiros pelo Senhor D. Sancho 2. em Setembro da Er. 1261=Et Inquisitoris viderunt cartam istam sine Sigillo et Signo: et Sciendum est quod Rex S. habebat Sigillum et sigillabat frater istius Regis A.—a f. 37=Et ista Carta non tenebat sigillum et erat scripta de duabus pennis a f. 51 v. Et ista Carta erat Sigillata de chumbo Tiverão mesmo a attenção de pintar os Rodados, que achárão nas Cartas, e os sinaes publicos, como a f. 4 v., 23 v., 25, 32, 53, e as Assignaturas do Chanceller Pedro Amarello na mesma letra alongada, e acolumnada, como a f. 14 v., 20, e 28. A p. 13 v. pintárão o sello de chumbo pendente de D. Sancho I. (Veja-se Nova Hist. de Malta. P. 1. pag. 521 nota 193, e P. 2. pag. 174, e 175, e not 63.)

Na Era de 1373, e reinado do Senhor D. Affonso 4. na Inquirição sobre o Coutto de Reffoyos de Basto, sendo-lhes, apresentada a Carta de Coutto do mesmo Mosteiro, dada pelo Senhor Infante D. Affonso de 7 das Kal. de Novembro da Er. 1169, incluida na confirmação do Senhor D. Affonso 2. no Instrumento que da mesma Inquirição resta no L. 9

mentos dos Cartorios, apenas produzirão hum ou outro, ou os seus fragmentos: não assim Brito, Fr. Antonio, e Fr. Francisco Brandão, e Fr. Manoel dos Santos. O mesmo Brito (1) na sua Histor. de Cister, e nos 2 Tom. da Mon. Lus. (2), D. Nicoláo de Santa Maria na Chronica dos Conegos Regrantes (3), Fr. Antonio da Purificação na dos Eremitas de Santo Agostinho (4) nos enriquecêrão de muitos Documentos da sua fabrica, sendo reconhecida já a sua má fé como a de Higuera, e Gaspar Alves Louzada. (5) Os Chronistas dos Benedictinos Fr. Bernardo de Braga, Fr. João do Apocalypse, Fr. Gil de S. Bento, Fr. Leão de Santo Thomaz (que delles foi o unico que deu ao prelo a sua Chronica) posto que de boa fé, forão destituidos dos bons principios da Critica. Esta, e a boa fé, e exactidão se não póde negar com justiça ao Chronista dos Franciscanos Fr. Manoel da Espe

ranca.

de Inquirições do Senhor D. Diniz f. 30. declarão a respeito della o seguinte Que tinha huum seelo pendente de chumbo em maneira de escudo longo, e en cada huuma das partes tiinha senhas cruzes, e de huuma parte as letras dizian, sigilum Domini Alfonsi, e da outra parte dizian, Regis Portugalensis, pero que en a corda, en que ese seelo siia, era britada e legada de guisa, que a poderian deslegar: mas en a carta e na letra parecia toda sen suspeita; e está soescripta de huuma parte de muitos nomes, e da outra do Arcebispo, e de Bispos do Porto e doutras pessoas, da qual o theor tal he, etc. No mesmo Instrumento se comprehende tambem huma Carta d'ElRey D. Diniz de 29 de março da Er. 1355 a instancias daquelle Mosteiro incluindo o theor da antecedente do Infante D. Affonso, dizendo o mesmo Senhor D. Diniz lhe fora supplicado expedisse esta porque a corda en que andava o dicto seelo da dicta carta d'ElRey D. Affonso meu Avóó se rassava em guissa que se temia de quebrar a dicta corda, e de lhi caher odicto seello=(Ibid. f. 30 v.)

(1) Veja-se Ferreras citado pelos Nov. Diplomaticos Tom. 4. P. 2. Sect. 5. Cap. 7. Art. 2. n. 3. p. 383, e nota (1).

(2) V. Obs. Dipl. P. 1. pag. 82.

(3) Ibid. pag. 79.

(4) V. Leitão, Memor. da Un. n. 13, 104, 120, 127, 149, 153, 178, 183, 954, 955, etc.

(5) V. Obs. Dipl. P. 1. p. 83 e 84.

B.

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