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do o Reyno: e tudo o mais succedido conforme as Relações que vieram do Reyno por muitas vias a esta ilha a que me remetto.

Dizem que o dito João de Espinolla ouvio tudo debaixo de segredo, e pedindo-lhe o dito Capitão Mór conselho do que faria na milicial conforme trazia por ordem, por neste tempo não haver Corregedor na terra havia quatro mezes, que era fallecido, era a pessoa principal a quem o dito Capitão Mór vinha remettido pera com elle tractar negocio tam importante: o dito Espinolla no mesmo dia deixando em sua casa o dito Capitão Mór se foi à fortaleza levando consigo D. Pedro Ortiz, Alferes d'ella e disseram ao castelhano do castello por nome D. Alvaro de Viveiros, que neste tempo o governava, toda a nova e aviso, que trazia o dito Capitão Mór, o qual espantado e admirado veio logo abaixo á cidade sem ainda n'ella se saber coisa alguma, e fallou com o Provedor da Fazenda, Agostinho Borges de Sousa, e mandou levar a polvora que estava no castello de S. Sebastião para cima, e quiz antes disso, ao outro dia pella manhã fallar com o dito Capitão Mór, o qual arreceando-se que o dito castelhano quizesse lançar mão delle, se foi pella manhã cedo pera a sua Capitania da Praia, e d'ali a alguns dias pera sua segurança mandou uzar caixas e meteo na praça da dita villa huma companhia de guarda, na qual sempre a teve, entrando cada dia huma e sabindo outra, como he costume.

CAPITULO II

Como foi na cidade publico o aviso, que trazia Francisco de Ornellas, e como o castelhano do castello se começou a fornecer e a aviar.

Logo se soube nesta cidade o successo de Lisboa, nova e aviso que trazia o ditto Capitão Mór, começou a haver grande alvoroço, qual costuma causar a mudança de um Rey para outro e a Restauração de hum Reyno que havia sessenta annos que estava captivo e affligido com tantos trabalhos como temos visto e experimentado principalmente nesta ilha Terceira.

Ditto Castelhano se começou loguo daquelle dia em diante a fornesser e prevenir de todo o que lhe hera necessario pera a deffença do Castello pedindo á Camara, agoa pera as cisternas, lenha, carnes, vinhos, toussinhos, e tudo o mais em grande abundancia e muitas destas cousas foi comprando com dinheiro, reparando outro ssim a artelharia e mais munições com grande delligencia, averia no Castello ha este tempo 400 soldados, que pudessem tomar armas, posto que lhe - sam asignadas 500 prassas afora os que tem officio e porque avia alguns velhos e outros enfermos verião então ser os dittos 400 soldados

com 48 artilheiros 160 pessas de artelharia a maior parte de bronze em que entrão pessas muy grandes que lanção ballas de 36 livras tendo mais dentro grande copia de polvora e todo o genero de munições em grande abundancia.

Na cidade se não fez por então nenhua demonstração de guerra nem se fortificou de cousa algua mais que as armas que tinha no almazem da cidade e algua polvora de que tinha as chaves de hua cousa e outra Xpovão (Christovam) de Lemos de Mendonça a quem estava emcarregado, avia tres ou quatro annos a guarda dos dittos almazens, e a causa por que se não fazia nenhua preparassão hera por que o mestre de campo castilhano do dito castello não queria, dizendo que elle era bastante com a sua artelharia que tinha muitta, guardar a cidade, e querendo todavia a cidade que na praça ouvesse cada dia hua companhia de guarda o não comssentio, o que se sofreo por comtenporisar com elle e tambem por ser imverno e esperarsse segundo aviso do Reyno por quantto a camara não avia recebido carta de Sua Magestade el Rey Dom Joam, mas com tudo forão ordenamdo alguas cousas e preparando outras, e que ouvesse na praça corpo de guarda pera quoando ouvesse companhias que determinavão meter da Paschoa avantte pera o que se comprarão no canto da prassa huas casas em que hoje esta feitto com hum alpendre.

Todo este tempo não cessava o castilhano do Castello de molestar aos officiaes da camara com duras importunações pedindolhe muitas cousas. Principalmentte disfizesse parte da fortaleza de Sam Sebastião e em outras parttes a mandasse refformar ao que se lhe respondeo que quantto desmanchar o não podião fazer sem licença del Rey e pera a concertar o tinhão posto em preguão a officiaes pera o fazerem, isto tudo foy durando quasi o mes de março com muita confusão sempre contempurisando com o castilhano e esperando aviso do Reyno.

Neste tempo o Prior do Conventto de Nossa Senhora da Graça, comfessor do mestre de campo castilhano do ditto castello, desejando que elle por bem se quizesse emtreguar por se escusar guerra e derramamento de sangue debaixo de bons partidos se atreveo a lhe fallar nisso e o comunicou com Estevão da Silveira fidalguo e do governo desta cidade, e ambos de segredo lhe forão fallar nisso dia de Nossa Senhora da Emcarnação 25 de março e isto por o ditto castilhano ter dado disso collor ao ditto prior mas elle malevolamente com engano lançou mão delles e os tem em prisão e nella morreo o ditto Estevão Silveira e Prior.

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Em como foi alevantado el Rey nosso senhor na villa da Praia.

Cheguado pois Dominguo de Ramos que foi aos 24 de março, o Capitam mor e povo da villa da Praya levantarão por Rey com toda a solemnidade a el Rey nosso senhor Dom Joam 4.o deste nome, o coal se soube na cidade e tomou daby ocasião mandar meter hua companhia de guarda na prassa, cousa que tantto se desejava pello areceio que tinha do Castello por que se affirmava por cousa serta querer dar saco á cidade em quinta feira de emdoenças depois da procissão da misericordia, em que vay a mayor parte da nobreza da terra e muito povo e as gentes estão pellas Igrejas, dizem tinha detreminado mandar desser a baixo 200 soldados com suas machadinhas rombar as portas e mattar a gente que pudesse sem perdoar aos comventtos de freiras em os coais sabia estava recolhido o milhor da cidade e tornarsse pera o Castello com toda a preza que pudesse, e dicesse mais por cousa certta o tinha determinado fazer na sexta feira de Lazaro o que deixou de fazer por ter avizo que a cidade se vegiava assim o deixava para milhor ocasião e paresse que isto se fas provavel por que aos 25 de março mandou por escritto recado aos officiaes da Camara e a outras pessoas que convinha ao serviço de Sua Magestade irem fallar com elle assima ao Castello, do coal elles se escusarão, e vendo que não hião mudou o prepositto a outra cousa, e deixou vir outras pessoas que la estavão para baixo, paresse queria faser outro semelhantte acontes simento como foi o saco de Anveres de que hera Castilbano do Castello, Sancho de Avila em tempo do Duque de Alva como dizem as historias daquelle tempo.

E com tudo pello não alterar depois que chegou a nova da Praia mandarão aquella noitte pôr duas companhias no sainte da cidade. bua aos moinhos e outra a São Bentto dando a emtender nos guardavamos da Praia e mandarão que a companhia que avia de vir a prassa emtrasse sem tambores e tambem por ser somana sancta, o que assim se fes e a companhia que na ditta praça emtrou ás tres da tarde foi do capitão Costantino Machado segunda feira 25 de março e a terça as mesmas oras sabio e emtrou a companhia de Jeronimo da Fonseca, filho do sargento mor André Fernandes da Fonseca e esteve na prassa ate a coarta feira das trevas 27 de março deste anno de 641, dia em que se começou a guerra.

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De como se começou a guerra do castello com a cidade.

E estando assi de guarda a ditta companhia na praça chegou hum sargento do castello por nome Ruy Selom com sua alabarda na mão como he custume, e tras elle disimuladamente nove ou dez soldados a saber quatro ou sinco com pistollas e mosquetes corda acesa e os mais com espadas e pistolas, e de todos elles quatro ou sinco se puserão ao canto da casa da camara e os mais ficarão na entrada da prassa pera a banda da rua Direita, neste tempo o ditto sargento sobio as escadas da audienssia por estar entani aby o nosso corpo de guarda, e não era ainda feito o que aguora temos, nas casas atras dittas, e ally fallou o sargento com o capitão Jeronimo da Fonseca e the deo hum recado da parte do mestre de campo em que lhe dezial The desse ajuda pera prender a Antonio do Canto de Castro fidalguo e dos principaes da terra, que o avia levar preso ao castello porque tinha dado o mestre de campo ordem que ou mortto ou vivo lho levassem assima, o capitam lhe respondeo o não podia fazer sem ordem do capitão mor, e imsistindo todavia o sargento, lhe tornou a dizer o capitão biria dar conta ao capitam mor, e assy foi, e o sargento com elle e indo desta maneira e ignorando o povo que estava na prassa o recado que o sargento trazia levantarão a voz. dizendo que o capitam hia preso, e o levasse estando de guarda, e correndo assim esta voz, alguns dos soldados da companhia e outras pessoas, lanssarão a correr a tras o dito capitam que ja hia defronte da hermida de Sam Joam e o trouxerão; os soldados castilhanos vendo o alvorosso, quizerão socorrer o sargento dispararão as pistollas, os nossos vendo isto levarão das espadas e comessarão aclamar em alta voz:-viva el Rey Dom Joam, e com tudo os juises ordinarios e alguas outras pessoas ainda determinavão apasiguar a gente da cidade e os castilhanos, o que não foi possivel, porque fizerão resistencia e se forão retirando deixando ja mai ferido em hum brasso, Manoel Gonçalves Carvão alferes de hua companhia que naquella ocasião ally se achou, e a Matheus Cardoso sargento, e dos castilhanos ficou loguo ally hum morto, e os mais se forão pella rua de Sancto Espirito ao seu corpo de guarda que emtão hera no portão do mar, e vendo elles o grande alvorosso e rebolisso que avia na cidade, se forão retirando ao castello, e loguo. em continente foi junto grão povo grandes e pequenos, e clerigos todos armados com as armas que cada hum tinha e padres da companhia que neste dia e ao diante mostrarão muito vallor exortando a todos com palavras de grande animo; e assim tambem acudirão os padres de Sam Francisco confessando e animando a todos, e huns e N.o 25-Vol. V-1883

outros a grandes vozes dezião: viva El Rey Dom Joam e pedião armas os que as não tinhão e polvora a quoal polvora e armas estava fechada nos almazens dos quoaes tinha as chaves Xpovão de Lemos de Mendonça que a esta ora estava na fortaleza e pedindoas em sua casa seu filho as não deu sendo que a outro dia as emtreguou o que se lhe deo em culpa e por isso esteve muittos dias preso no castello de San Sebastião.

CAPITULO V

Em como se abrio a casa da polvora com a chave de Nossa Senhora da Saude e como se proseguio a guerra.

Vendosse a cidade sem chaves dos almazens das armas e polvora, os padres da companhia forão buscar a sua casa machados pera rombarem as portas, e a este tempo já vinhão serralheiros pera as despreguar, e estamdo já hua das fechaduras despregada a saber a da caza da polvora dalli pera dentro se achou hua aberta ficava ainda hua fechada, o Padre Antonio de Abreu procurador e ministro do collegio fez a experiencia se a podia abrir com hua chave mourisca da hermida de Nossa Senhora da Saude, que esta nesta prassa, abrio a ditta fechadura, o que se atribuio a milagre e como tal se festejou com grande alegria e aplauzo em toda a prassa donde estava grande concursso de gente, e se entregou o provimento da polvora ao Licenciado Manoel Roiz Preto, bom portuguez.

O mestre de campo sabendo o grande alvorosso que avia na cidade mandou loguo assestar artelharia e fez pontaria com hua pessa ao corpo da guarda e d'aquelle tiro matou loguo hum soldado, pedreiro por nome Elias dAlafão e hua molher da Ordem Tersseira que se recolheo no corpo da guarda ao tempo deste alvorosso vindo de São Francisco e atirou mais outras ballas que derão sobre a cidade, que por então não fizerão danno; esperou a ver se da cidade hia alguem versse com elle, e como não fosse pessoa algua mandou hum sargento abaixo dizer queria mandar metter sua guarda como hera custume no portão do porto ao que se lhe respondeo, não mandasse tal, nem se avia de comssentir, o que assi foi tambem a instancia de Dioguo do Canto de Castro fidalguo dos principais da terra, e capitão mais velho de hua das companhias da ordenança o quoal Dioguo do Canto de Castro, e outras pessoas o disserão assim ao capitam mor Joam de Betancor, o que tudo isto passou na coarta feira de trevas, e visto pello mestre de campo a resolução da cidade, recolheo os soldados asima e os casados com suas mulheres e filhos; os capitães da cidade mandarão tocar as caixas e com grande delligencia foi junta muita gente

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