Pagina-afbeeldingen
PDF
ePub

ção ao muito que podiam servir como medianeiros para a alliança e submissão dos indigenas.

Assim findou a primeira invasão estrangeira que soffreu a nossa patria. Já é tempo de passar á segunda e ultima, isto é, a dos hollandezes. Depois de narrar os successos della, faremos o parallelo de ambas nos seus fins, importancia, meios e resultados.

LIVRO III.

INVASÃO HOLLANDEZA.

O almirante hollandez João Cornelles entra no porto do Maranhão com uma armada, e á traição se apodera da cidade e fortaleza-Prisão do governador portuguez, saques, extorsões e deportação dos principaes habitantes-Insurreição popular contra o dominio estrangeiro-Surpreza e tomada dos engenhos, e do forte do Calvario no Itapucurú-Matança dos hollandezes -Combate do Oiteiro da Cruz-Os portuguezes poem cerco à cidade e depois o levantam-Guerra de excursões, surprezas e guerrilhas -Devastações, incendios, supplicios e atrocidades de todo o generoExpulsão dos hollandezes.

A revolução de 1640 acabava de operar-se por um modo extraordinario e prompto, despedaçando em poucas horas o jugo hespanhol, restituindo a Portugal sua antiga independencia, e elevando ao throno a dynastia de Bragança.

A Hollanda que a principio combatera só pela independencia e pela vida contra os algozes que lhe enviava a tyrannia de Philippe II, cognominado o-Demonio do meio dia terminára por constituir-se

potencia de primeira ordem, e da simples defensiva, passára á conquista de uma grande parte das colonias que a coroa de Portugal, então reunida á de Castella, fundára na America, Africa e Asia. Ao tempo da restauração senhoreava ella quasi todo o norte do Brasil.

Mas a guerra, como se vê, não era directamente feita a Portugal, senão a seus oppressores; de modo que, constituindo-se Portugal, pela sua revolução, inimigo da Hespanha, a Hollanda vinha a ser sua alliada natural. D'ahi succedeu que juntamente com a noticia da restauração, chegaram ordens ao governador do Maranhão para que não tractasse como a inimigos, mais que a turcos e castelhanos, no que bem claramente se lhe insinuava que poupasse os hollandezes. Crescendo estas boas disposições com a identidade dos interesses, bem depressa se estipularam tregoas, em odio e damno do inimigo commum.

Entretanto D. João IV não podia vêr de boa sombra perdidas sem regresso as suas mais florescentes capitanias, arrancadas ao dominio portuguez em uma epocha de calamidade e oppressão. Pela sua parte, a Mauricio de Nassau, principe ambicioso e emprehendedor, e governador geral das colonias hollandezas no Brasil, não lhe soffria tambem o animo deixar no ocio interrompida a carreira brilhante das suas conquistas. Assim, a amizade apparente das duas potencias rebuçava apenas intenções hostis e oppostas, momentaneamente refreadas pela necessidade, e que cada um guardava no peito para manifestar em occa

sião opportuna. Foi o conde de Nassau quem primeiro depoz a mascara apossando-se de varios estabelecimentos portuguezes no Brasil e na costa fronteira d'Africa, e mandando para o mesmo fim uma expedição ao Maranhão.

O estabelecimento portuguez de S. Luiz começado em 1615, contava então pouco mais de vinte cinco annos de existencia, è tinha por seu governador a Bento Maciel Parente, o feliz e opulento donatario da capitania do Cabo-do-Norte. O ocio e a longa paz, apenas interrompida pelas excursões de alguns ousados e cobiçosos aventureiros contra as tribus indias, tinham enervado os animos dos habitantes; a disciplina militar cahira na ultima relaxação; e póde-se dizer que falleciam quasi todos os meios de defeza, graças á politica insidiosa, senão antes á incuria e desmazelo inveterado do governo hespanhol, causa mais principal e verdadeira da decadencia e perdição de uma grande parte das colonias portuguezas.

Na cidade de S. Luiz, que devia de ser povoação ainda mui acanhada e miseravel, corriam vagos rumores dos projectos de invasão dos hollandezes; mas ao governador nada despertava da sua inercia; ou porque confiando nas tregoas pacteadas, desejasse executar á risca as ordens do seu governo, ou porque, frouxo e alquebrado com o peso dos annos, e vindolhe, com a velhice, a avareza, se sentisse menos cioso da honra, e da gloria militar, que da conservação e meneio das muitas riquezas que possuia, se

« VorigeDoorgaan »