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LIVRO II.

INVASÃO FRANCEZA.

Expedicão de Riffault e de Ravardière-Occupação da ilha do Maranhão pelos francezes-Novas tentativas dos portuguezes para o mesmo fim-Expedição de Jeronymo d'Albuquerque-Batalha de Guaxenduba-Treguas-Expedição de Alexandre de Moura--Capitulação e evacuação definitiva dos francezes.

Depois das mallogradas tentativas dos portuguezes, passaram cerca de cincoenta annos sem que ninguem cogitasse mais de explorar c povoar o Maranhão de um modo serio. Até que um aventureiro francez de nome Riffault, que discorria pelas costas do Brasil a piratear, entrou a abrir communicações com os indigenas habitadores do littoral, e persuadido das grandes vantagens de um estabelecimento permanente, foi á França e voltou em 1594 com tres navios bem providos de gente e munições, e ao que parece, com intento de buscar outra paragem para fazer assento,

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pois arrojado de uma tempestade é que aportou á nossa ilha. Aqui foi elle bem recebido dos naturaes, mas tendo perdido um dos seus navios que naufragou, e obrigado tambem porventura da insubordinação da sua gente mal soffrida, e molestada dos trabalhos e privações inherentes áquelles primeiros descobrimentos, pouco tempo se deteve, e partiu para a Europa, deixando na ilha um moço de nome de Vaux com alguns poucos companheiros mais, que melhor e mais de espaço investigassem a terra, e procurassem inclinar o animo dos selvagens á alliança fran

ceza.

Daqui por diante fenece de todo a memoria de Riffault, de quem nunca mais se fallou; porem de Vaux, depois de uma estada no Maranhão de cerca de um ou dous annos, que aproveitou bem em colher informações e em captar a benevolencia dos habitantes, seguiu para a côrte de França, onde encareceu tanto a grossura e riqueza natural da terra, que Henrique IV determinou de mandar explora-la por conta da corôa, com o ulterior intento de conquista-la e povoa-la. A esse fim tornou o mesmo de Vaux ao Maranhão, acompanhado de Daniel de la Touche, senhor de Ravardière, e habil official de marinha, que vinha como commissario do rei,

Achando Ravardière mais que muito verdadeiras as informações do companheiro, deu-se pressa a voltar á França para as transmittir confirmadas ao rei seu amo; mas Henrique IV acabava então de perecer ás

mãos de um regicida, e as perturbações civis e religiosas que naquelle tempo affligiam a França, divertindo a attenção do governo, foram parte para que este negocio se fosse cada dia dilatando até 1611, Desenganado então Ravardiere de o ver emprehendido pela coroa, obteve della permissão para encorporar uma companhia de colonisação, que de feito realisou, entrando na parceria Francisco de Rasilly e Nicolau de Harley, sujeitos tam qualificados pela nobreza como pelos cabedaes, os quaes, envidadas todas as posses communs, armaram á sua propria custa uma flotilha composta de tres navios, com cousa de quinhentos homens de mar e terra. A protecção da rainha regente se limitou a auctorisar a empreza com patentes que assignou de seu punho, e deu aos diversos cabos della, e a honra-la com o donativo de um pavilhão, em que juncto ás armas da França, e a diversos emblemas allusivos á mesma empreza, se notava a ambiciosa divisa. Tanti dux femina facti.

Cremos que sem calumniar estes bravos aventureiros, nos será licito dizer que as principaes causas da expedição eram o amor do poder e das riquezas, e o seu objecto, a conquista e commercio das regiões que iam buscar. Entretanto os historiadores do tempo asseveram que Rasilly fitava menos aos interesses temporaes que aos da religião, sendo certo que para a prégação e ensino della sollicitou e obteve o auxilio de quatro missionarios capuchinhos que o acom

panharam na viagem. Não é impossivel tambem que Ravardière, sectario de Calvino como a mais da gente da expedição, traçasse em seu animo dispor nas novas conquistas um abrigo seguro em que podessem os seus correligionarios acolher-se, para o diante, das perseguições, a que então andavam continuamente. expostos no proprio paiz.

Berredo refere que a diversidade de religião entre os colonos ia sendo grande occasião de discordia, felizmente atalhada pela prudencia e reciproca tolerancia dos chefes; e attribue a divisão dos animos ás suggestões do principe das trevas que, assustado da missão dos capuchinhos, cuidava já ver destruido o seu tyrannico e diabolico imperio naquellas apartadas regiões!

No principio do anno de 1612 estava a esquadrilha aparelhada no porto de Cancale, onde o bispo de São Malo veio fazer com grandes apparatos a cere

1 Entre estes capuchinhos vinha o padre Claudio d'Abeville. que escreveu uma-Historia da Missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e terras circumvisinhas. Esta Historia, com a Relação da jornada de Jeronymo de Albuquerque para a conquista do Maranhão, attribuida a Diogo de Campos Moreno, são as fontes originaes onde beberam os auctores que escreveram depois. Berredo seguiu á risca e com muita exactidão a Claudio d'Abeville e a Diogo de Campos; Beauchamp, a Berredo e a d'Abeville; e Gayoso e Lago, a Berredo sómente, convindo notar que a compilação de Gayoso resente-se de grande confusão, e não poucas inexactidões Estes dous ultimos auctores, ao que parece, não tinham a menor noticia do manuseripto de Diogo de Campos, aliás muito preferivel á obra de Berredo.

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