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INTRODUCÇÃO.

Possuimos acerca do Maranhão, além de outros opusculos e memorias de menos importancia, as seguintes obras que avultam mais:

Jornada do Maranhão por ordem de S. Magestade feita no anno de 1614. É um manuscripto attribuido a Diogo de Campos Moreno, sargento-mór do Estado do Brasil, que foi um dos cabos da dita jornada. A academia real das sciencias de Lisboa o fez imprimir em 1812.

Annaes Historicos do Estado do Maranhão por Bernardo Pereira de Berredo. O auctor, um dos antigos governadores do mesmo estado, começou a escrevelos em 1722, durante o anno que se seguiu ao seu governo, e em que esteve aqui detido, á mingoa de embarcação que o reconduzisse à metropole. Esta chronica, que remonta aos primeiros descobrimentos e vae até o anno de 1718, em que começou o go

Jornal de Timon-Num. 5.-VOL. II.

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verno do auctor, foi pela primeira vez publicada em Lisboa, ha pouco mais de um seculo, em um grosso volume in folio. Recentemente (1850 e 1851) fez-se della uma segunda edição 1 nesta capital, em dous volumes, em quarto, muito mais commoda e elegante, e o que ainda é mais, enriquecida com uma introducção ou discurso preliminar do nosso distincto poeta e litterato, o sr. dr. Antonio Gonçalves Dias.

Compendio Historico-Politico dos principios da lavoura do Maranhão, e seus progressos, por Raymundo José de Souza Gayoso, escripta nos principios do anno de 1813, e publicada em 1818. Recapitula a Berredo, e dá largas noticias acerca da agricultura, producção, e commercio da provincia, sobretudo a contar do tempo em que foi instituida a companhia do GrãoPará e Maranhão.

Estatistica Historica-Geographica da Provincia do Maranhão, por Antonio Bernardino Pereira do Lago, coronel do corpo de engenheiros, em commissão na mesma Provincia. Este trabalho foi publicado em 1822, e deve de ter sido organisado pelos mesmos tempos. Recopila a Berredo e Gayoso, e acrescenta copiosas noticias estatisticas até à epocha supramencionada.

Memoria historica e documentada da Revolução da Provincia do Maranhão desde 1839 até 1840, pelo

1 Emprehenderam essa publicação os srs. drs. Fabio A. de Carvalho Reis e Pedro Nunes Leaf, e n'ella gastaram não pequena somma.

(Dos EEDD.)

Dr. Domingos José Gonçalves de Magalhães. Foi publicada em 1848, na Revista do Instituto Historico e Geographico Brasileiro. 1

Nenhuma destas obras póde actualmente satisfazer a curiosidade e espectação do publico.

A de Berredo, que é a mais importante dellas, não passa de uma simples chronica de acontecimentos militares, religiosos e politicos, se exceptuarmos umas abreviadas noticias que logo no primeiro livro nos dá acerca da geographia e população do estado. Se no curso do seu longo trabalho deparamos uma ou outra vez com taes e quaes noticias sobre a agricultura, commercio, população e costumes, são ellas devidas ou á uma simples casualidade, ou á necessidade de explicar ou esclarecer melhor algum ponto do seu assumpto habitual, e quasi exclusivo-as guerras e conquistas, e as dissenções politicas e religiosas;nunca porém a designio ou intenção directa, pois até parece que tinha aquell'outras materias por somenos do pretendido elevado estylo em que escrevia.

No que escreveu, devemos confessa-lo, parece que buscou sempre ser exacto e imparcial, procu

1 Depois, nomeado pelo governo imperial para collegir dos archivos de Portugal documentos da historia patria, alli encontrou o auctor outras obras quer manuscriptas, quer impressas sobre o Maranhão, (de 1855 a 1862).

Quanto á memoria do senr. dr. D. Magalhães, sahiu 2a edicção d'ella, impressa aqui em 1858, e dos prelos do senr. B. de Mattos.

(Dos EEDD.)

rando a verdade em todas as fontes em que podia bebe-la; mas o estylo é tam pedantesco, e a narração tam minuciosa e diffusa, que o auctor, sobre enfastiar-nos, afoga-nos em uma torrente de palavras empoladas, e de factos insignificantes, onde, se não se perdem inteiramente de vista, só á força de attenção se pódem rastrear e descobrir as cousas que mais importa saber hoje em dia.

Escrevendo a chronica de uma pobre colonia, nascente e obscura, assentou de si para si este soldado escriptor que devia elevar-se ao tom da grande historia, e ainda da epopéa; mas foi duplamente infeliz, que nem o tom convinha ao assumpto, nem elle soube attingi-lo; e procurando ser nobre e sublime, apenas conseguiu ser turgido, obscuro e fastidioso, cahindo por vezes nos mais inintelligiveis e intoleraveis disparates.

O distincto critico á que ha pouco nos referimos, o sr. Gonçalves Dias, reprovando a má escolha dos modelos que o auctor adoptou (Tacito e Tito Livio), todavia lhe concede que conseguiu quasi imita-los; nota a inoportunidade, não o máu exito desse gigantesco esforço. Mas o que diz o nosso poeta ainda é nada em comparação com um dos criticos da censura e inquisição portugueza que examinaram a obra,

1 Teve de modificar esse juizo a respeito da imparcialidade de Berredo com melhor e mais profundo estudo de documen. tos historicos. (Dos Eedd.)

antes de publicada, para verem se continha alguma cousa contra a fé e os bons costumes. «Merece o «auctor (escrevia D. Joseph Barbosa) um louvor muito <particular; porque entre as occupações de um go<verno teve tempo para escrever como Plinio a his<toria natural, como Livio a militar, e a politica como «Tacito ! >>

Não é menos para admirar a vangloria com que o proprio auctor, lembrado sem duvida do preceito de Horacio, (decem in annos) alardêa os largos onze annos que despendeu em compor, polir e aperfeiçoar o estylo, e contextura litteraria da sua obra, fazendo-a e refazendo-a muitas vezes, por maneira (diz elle) que o ultimo manuscripto nenhuns visos de semelhança tinha com o primeiro.

Se a sua veracidade e escrupulosa exactidão não föra attestada pelos que o precederam, e em cujas fontes bebeu, poder-se-hia até a bom direito suspeitar que para ter com que encher os seus livros desfigurasse acintemente a historia, um auctor que escrevendo a de uma nascente capitanja portugueza, lastima no tom de uma dolorosa sinceridade que ella não lhe offerecesse tamanha copia de successos como o imperio romano, onde elle podesse ceifar e colher mais desafogado!

Ao ler os Annaes de Berredo, sempre nos acode involuntaria a seguinte idéa:-o auctor não se podia resignar a referir o que tinha occorrido, pouco ou muito; o seu fim era escrever uma historia gran

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