IGNACIO JOSÉ DE ALVARENGA Marquez de Pombal tinha em sua alta política conhecido a necessidade de cuidar do Brazil, e pois que muitos brazileiros talentosos haviam sempre em Portugal correspondido á sua confiança, veio elle tambem a ser grande protector dos brazileiros, que em reconhecimento não perdiam occasião de o exalçar. Um delles, do qual ora nos vamos occupar, Ignacio José de Alvarenga Peixoto, amigo de José Basilio (a cujo Uruguay compoz um Soneto encomiastico, que foi publicado com o mesmo poema) não devia ser menos estimado por Pombal, a quem tanto louvor prodíga na ode Não os heroes que o gume ensanguentado. » Assim é que o mesmo Pombal depois de o despachar primeiro juiz de fóra de Cintra o elevou depois a ouvidor de uma comarca em Minas com a patente de coronel do 1.o regimento auxiliar da campanha do Rio Verde. As suas composições poeticas já antes o haviam recommendado para arcade ultramarino; porém até hoje não nos tem sido possivel de P cidir com certeza se o nome de Eureste 'Phenicio, era o que levava como pastor. Chegando ao Brazil o nosso poeta, magistrado e militar, a quem talvez não sería estranho o pensamento de Pombal de estabelecer na America a cabeça do imperio portuguez, penetrou-se tanto desta idea que com o vigor da convicção traçou uma ode em que convida a Rainha Maria I, a passar-se ao Brazil, e assenhorear-se da America toda. E com todo o seu enthusiasmo não se esquece de prevenil-a contra as naturaes rivalidades da antiga metropole, e de fazer protestos pela lealdade de seus votos: Vai ardente desejo; Entra humilhado na real Lisboa Da America o furor Perdoai, Grande Augusta, é lealdade, Em Minas é natural que começasse a conviver com Claudio e Gonzaga: além disso vemos que se dava com D. Rodrigo José de Menezes, ao depois Conde de Cavalleiros, e que governou aquella provincia desde 1778 até 1783. E bem digno é de ler-se o patriotico canto geneathliaco que compoz em 19 estancias ao filho desse Governador. Em todo o caso Eureste é o autor da Resposta de Nize a despedida de Fileno por Claudio, e collocando-a no Florilegio e na composição, não affiançâmos de todo que seja ella obra de Alvarenga Peixoto; mas deixâ mol-a em pendencia. Igual amisade não travou de certo com o successor deste último, Luiz da Cunha de Menezes, que conservou o mando até 1788; e anles pelo contrário ha toda a probabilidade de que como os mais mineiros tomasse parte activa contra os abusos deste Governador, tão fortemente satyrisado nas Cartas Chilenas, obra ésta cuja composição cremos não sería estranha ao mesmo Alvarenga Peixoto, ainda suppondo que não tivera nella parte. Do nome Dirceu, pastoril de Gonzaga, faz-se nellas menção como amigo do autor; tambem se faz referencia a um chimico, que talvez scría o Maciel, de que adiante faremos menção, e a um velho jurista, etc. A crítica litteraria só por si difficilmente poderá resolver qual dos litteratos que estavam em Minas sería propriamente o autor das taes cartas satyricas. Devia ser pessoa versada na jurisprudencia, amigo de Gonzaga, de instrucção variada e grande facilidade de metrificar. Além disso parece que havia estado em Portugal; e que era autor recommendado por seus escriptos. Esta ultima circumstancia parece deduzir-se dos dois seguintes versos de uma epistola que precede as Só depois de ler muitas vezes ésta composição, e de sobre ella meditar, é que chegámos a descubrir que se refería a um governador de Minas, e uão do Rio, como a princípio imaginámos. Dado este passo, o marcar a época e apontar a pessoa do satyrisado fanfarrão, já não offerecia tanta difficuldade. Cartes mineiras lhes podemos hoje chamar, visto que já não é necessario o disfarce. Até Minas e Villa Rica entram no verso com o mesmo metro. de Chile e Santiago. Cartas, a qual no geral do estylo parece ser de Gonzaga : «Que teus escriptos de uma idade a outra Passarão sempre de esplendor cingidos. » Dois poetas havia então em Minas em quem se davam todas estas condições: o de que ora nos occupâmos, e Claudio cuja affeição por Gonzaga fizemos sentir na sua biografia. A satyra de que tratâmos é inferior ás obras que conhecemos de um e outro: no estylo ha redundancias e nos versos repetições de mau gôsto, e ás vezes expressões menos decorosas que desdizem da alma maviosa de Claudio, e da lyra enthusiasta de Alvarenga Peixoto. Com tudo além de que ás vezes dorme o proprio Homero, e já não parece o mesmo, quem sabe se, visto que as taes cartas não deviam ser impressas, quereria tambem o autor sair-se do serio para « Refocilar a lassa humanidade. » O certo é que as taes Cartas Chilenas são o corpo de delicto do orgulhoso Cunha de Menezes; ao passo que o desgoverno deste foi * Devendo dar trechos dessas Cartas Chilenas nesta collecção de poesias brazileiras, preferimos collocal-os onde vão; conservando-lhes o pseudonymo Critillo por escrupulo; se bem que a analogia no uso de algumas frases como Augusto por Soberano, e o amor a certas comparações verbi gratia da raça dos homens com a dos leões, etc. que vemos nas obras authenticas de Alvarenga Peixoto, comecem a abalar-nos a favor de que seja elle o tal Critillo. |