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Não descobres em ti um sentimento

Sublime e grandioso, que parece
Tua vida estender além da morte?

Attenta... escuta bem... Olha... examina...

.....

Em ti deve existir eu não té engano.
Tu me dizes que existe.... Ah! meu Fileno,
Como dôce a lembrança

Dessa vida immortal em que, banhado
De inefavel prazer, o justo goza
Do seu Dens a presença magestosa !

Desperta, ó morte:

Que te detem?

Teu cruel braço
Esforça, e vem.

Vem, por piedade,
Já transpassar-me,
E avisinhar-me

Do summo Bem.

E queres que eu prefira Humanos passatempos ao momento, Em que raia a feliz eternidade?

Um Deus de amor m'inflamma;
E já no peito meu mal cabe a chamma
Que docemente o coração me abraza.
Eu vôo por elle: elle só póde

Minha alma, sequiosa do infinito,
De todo saciar: este desejo

Me torna saboroso

O calix que tu julgas amargoso.
Fileno, doce amigo, a mão estende,

T #

A minha aperta; não te assuste o vê-la
De mortal frio já passada e languida.
Mais duravel que a vida,

É da amisade a teia delicada,

Se a virtude a teceu...... Em fim, ó morte,
Tu me mostras a foice inexoravel.
Amarga este momento: eu não t'o nego,
Meu amante Fileno a voz já prêsa
Sinto faltar-me; o sangue

Nas veias congelar-se; pelo rosto
Me cae frio suor; a luz mal posso
Das trevas distinguir; e suffocado
O coração desmaia.

Vem, immortalidade - veni, ó grande,
Sublime pensamento,

Adoçar o meu último momento.

Ó Nume infinito,
Que aspiro a gozar,
O meu peito afflicto
Enche de valor.

Suave esperança
De sorte melhor,
Quanto deste instante
Adoças o horror!

Sonetos.

Oito annos apenas eu contava, Quando á furia do mar, abandonando A vida, em fragil lenho e demandando Novos climas, da patria me ausentava. Desde então á tristeza começava O tenro peito a ir acostumando; E mais tyranna sorte adivinhando Em lagrimas o pai e a mai deixava. Entre ferros, pobreza, enfermidade Eu vejo, ó céus ! que dor! que iniqua sorte! O começo da mais risonha idade.

A velhice cruel, (ó dura morte !) Que faz temer tão triste mocidade, Para poupar-me descarrega o córte.

A immortalidade da alma.

Sim, eu sou mortal. Bramindo espume
A maldade cruel; e desgrenhada
Morda-se embora, pois não póde irada
Extinguir da razão o vivo lume.

Crêde, caros amigos, não consume
Do tempo estragador a foice ervada
Ésta viva faisca, que abrasada
Caíu do sôpro do Supremo Nume.

O justo sobre a terra, aos céus erguendo
Os algemados braços, e o tyranno
Vício no throno com o pé batendo,
Fazem fugir o refalsado engano
Que em vão forceja, pâra ver gemendo
Da verdade o sisudo desengano.

Na presença de uma grande trovoada.

Tremei, humanos: toda a natureza, Do seu Deus ao aceno convocada, Sobre negros trovões surge sentada, Em cruel furia contra nós accesa.

Do rosto seu escondem a belleza, Medonha escuridade acompanhada De abrazadores raios. e pesada Saraiva que no ar estava prêsa. Agora perde a côr de medo cheio, O monarcha feliz e poderoso, Que o vil orgulho abriga no seu seio.

Tu descoras tambem, atheo vaidoso, E menos cego sem achar esteio, A mão, que negas, beijas duvidoso.

FREI FRANCISCO DE S. CARLOS.

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