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FREI FRANCISCO DE S. CARLOS.

A

LITTERATURA brazileira conta tambem uma epopea sagrada. Tem por assumpto a assumpção da Virgem pelos anjos considerada na cidade de Epheso: tem por auctor um religioso franciscano reformado da provincia da Conceição do Brazil, Fr. Francisco de S. Carlos.

Nasceu este poeta sagrado no Río de Janeiro em Agosto de 1763: no seu proprio poema se lembra elle de sua patria:

«Nas ribeiras do placido Janeiro,
Presado berço meu, que fez a sorte

Do aurifero Brazil o centro e a côrte. »

Contava apenas treze annos de idade, quando, destinando-se á religião, entrou desde logo no convento de S. Boaventura de Macacú ; e, seguindo seus estudos, professou quando teve idade, dando como noviço mostras de grande talento, e como religioso professo decididas provas de sentimentos religiosos e conducla exemplar. Como prégador se destinguiu tanto, que ao entrar dêste seculo foi nomeado professor de eloquencia sagrada, e quando ao Rio chegou a côrte, o escolheram pârn prégador

da casa real. Não é como prégador que agora o temos que considerar: sua voz forte e clara, sua figura nobre, e ao mesmo tempo expressiva, sua eloquencia facil, fecunda e accommo. dada aos assumptos, foram dotes que o fizeram considerar o primeiro prégador do Rio. Não lemos nenhum de seus sermões, e delles raros chegaram a imprimir-se; mâs a facilidade de sua eloquencia confirmâmos pela fluidez, pela expotaneidade de seus versos, viveza de suas imagens e colorido de suas pinturas, no poema que o fará immortal.

A Assumpção, em oito cantos, foi impresso em 1819. Parece incrivel como o poeta creador soube fertilisar com seu genio um assumpto que não o é, e que além disso estava já bastante tratado, pâra ainda sair-se delle seu auctor com tanta glória. Não que o poema se tornasse popular; em Portugal nem sequer o nome é conhecido; no Brazil apenas ha quem

lêa. Concorre pâra isso talvez o julgar-se a obra mystica, e por tanto mais ascetica que amena; mas não concorre talvez menos a natureza das rimas pareadas, que infelizmente adoptou o poeta, e que, como elle mesmo diz, só advertiu demasiado tarde que causavam excessiva monotonia. Assim, quanto a nós, é nm poema que ganhará muito se alguma vez chega a ser traduzido; pois é repleto de grandes imagens, cheio de episodios variados e descripções das bellezas americanas, ás quaes o auctor teve o feliz pensamento de dar um justo logar no seu paraiso terreal.

Fr. Francisco de S. Carlos falleceu no Rio de Janeiro a 6 de Maio de 1829, e jaz no convento de Santo Antonio. Seu retrato se vê em uma estampa do frontispicio do poema, offerecendo á Virgem de joelhos este, que tem aberto na mão.

America.

«Além dos máres vejo, além das ilhas,
Ah! que immenso paiz! que maravilhas !
Vejo um novo hemispherio, novos ares,
Outros céus, outros bosques, outros máres,
Aves estranhas, flores nos matizes
Diversas, das que vi nos meus paizes.
Pelo longo da costa demandando
As regiões austraes, debaixo estando
Do semicapro peixe, que é patente
Méta meridional do sol ardente;
N'um braço do oceano, que ali morre,
Pulquerrima cidade logo occorre
De nobres edificios; torreada

De bronze e revelins a augusta entrada.
Inda mais vejo ali, se não me engana
Em painel tão escuro a mente humana,
Que pela praça vai a generosa
Deipara em triumpho; e populosa
Companhia com tochas mil accesas
Parece celebrar suas grandezas.

Dizei-nos, nobre archanjo, o que isto intíma.
Para mim é mysterio, é tudo enigma,

Tudo sombras escuras, e tão densas
Que as azas da razão me tem suspensas. "
O vasto continente que affigura

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