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(Diz o nuncio do Eterno) ésta gravura,
E um grande paiz quasi dezerto:

No trato ao mundo antigo inda encoberto.
Mas em fim por um genio denodado
Será das densas trevas arrancado

Co'o soccorro da agulha e do astrolabio,
Novo invento subtil do engenho sabio.
Ó Ligure immortal, nesta ardua empreza
Tornaste a abrir a porta á natureza ;
E obrigaste a adorar do mundo a gente,
Como de novo, a mão do Omnipotente.
Que cythara tão doce, ou que profundo
Engenho poderia neste mundo

Uma parte cantar de tua glóría !

Não mais, não mais blasono a antiga história,
As proezas do grego e do troiano;
Nem a fabula dêsse tão ufano
Pelos doze trabalhos. Os seus feitos
Com os teus confrontados são defeitos.
Qu antes um pigmeu, ou uma aranha
Á vista do gigante, ou da montanha.
Por ti um grau de glória soberana
Recebe, e mais se exalça especie humana.
Nova serie de cousas eis que assoma,
E o orbe inteiro nova face toma.
Aplanadas dos golfos as passagens
Novos meios se abriram, mil vantagens
Aos tratos mercantís; e os bons talentos
Dictaram-se de luzes e de inventos.
Tocaste a méta da terraquea esfera,
Rasgado o véu dos sec'los que a escondêra.
Então do Creador novos primores
Resplenderam, pregões dos seus louvores.

Que quando o seu saber mais patentea,
Delle nos cresce o amor, crescendo a idéa.
Em fim, mostrada em parte a naturesa,
Agora tu lhe expões toda a riquesa;
Mâs confessa, que a honra assim o ensina.
Que aprendeste os segredos e a doutrina
Dos bravos, dos affoitos Luzitanos,
Que primeiros traçaram-te os teus planos.
É tamanho o paiz, tão vasto o solo,
Que se estende de um polo a outro polo.
Ali vegetam várias alimárias,

Varios troncos e frutas; flores várias.
Acham-se ricas pedrarias finas,

Oiro, prata e mil drogas peregrinas.
Os tres reinos aqui, que a opulencia,
E bazes são da humana subsistencia;
Em minas, animaes e vegetantes,
Tão uberrimos são e tão prestantes ;
Que não resolve a sábia subtileza,
Pâra onde mais pendeu a natureza.

Cria rudo, que o mundo velho envia;
E o mais, que o velho mundo jámais cria,
Porque, como uma e outra zona apanha,
Produz Lieu, e a fructa d'oiro estranha,
No jardim das Hesperides nascida,
Por quem foste, atalanta, já vencida.
E o caixo, que de Rhodes gera o seio,
Melhor tornado neste clima alheio.
Abrilhanta o ananaz, sanzona a pera,
E o pomo, que discordia já tecêra
Entre as deusas do Olympo no monte Ida,
Que fez Dardania em cinzas reduzida
Os dons da Ceres loira, em competencia

Co'os celeiros Egypcios na afluencia.
Quando o próvido Hebreu amontoava
Nelles o grão, que arêas igualava.
Além das farinaceas e das raizes,
Que os povos fazem fartos e felizes,
Que direi dêsse reino vegetante
Em dilatar a vida tão prestante?
Aqui colheita salutar descobre
O farmaco, em vigilias uteis nobre.
Rica mina por certo, grão thesoiro
De mais alto valor, que a prata e oiro,
E o lustre vão de pedrarias finas ;
Do nume de Epidauro prendas dignas.
A palmachristi, a nova Ipecacuanha
Do velho Dioscorides estranha.
Da cupaiba o oleo precioso,

Que vence a dor e o golpe mais p'rigoso.
Hervas, plantas em succos e virtude,
Ferteis de vida, fontes de saude.
Encontram-se tambem tribus errantes
Nos bosques; que entre si belligerantes
Vivem de singular e estranho povo,
Que parece outra raça, germe novo.
Antropophagos são, que a tão sobido
Gráu de horror chega humano embrutecido !
Pintam o rosto seu mal encarnado
De verde, croceo, rôxo e de encarnado.
E por fugir vespa o corpo todo
De resinas agrestes, ou de lodo.
Tecer ignoram; mas as suas tellas
São as plumas dos aves, côres bellas.
A vida passam em contínuas festas
De crapulas e danças inhonestas.

Rio de Janeiro.

A cidade, que ali vêdes traçada,
E que a mente vos traz tão occupada,
Será nobre colonia, rica, forte,

Fecunda em genios, que assim quiz a sorte.
Será pelo seu porto desmarcado

A feira do oiro, o emporio frequentado,
Amplissimo ao commercio ; pois profundo
Póde as frotas conter de todo o mundo.
Será de um povo excelso, germe airoso
Lá da Lysia, o logar mais venturoso.
Pois dos Lusos Brazilicos um dia
O centro deve ser da monarchia.
Alçarão outras no porvir da idade
Os trofeus, que tiverem por vaidade.
Umas nas artes levarão a palma

De aos marmores dar vida, aos bronzes alma
Outras irão beber sua nobreza

Nos tratos mercantís. Tal que se préza
De ver nas suas scenas e tribunas,
Maior brazão, mais inclitas columnas.
Aquellas dos Timantes o extremoso
Pincel com estro imitará fogoso.
Muitas serão mais destras no compasso,
Que as linhas mede do celeste espaço.
Mâs cuidar de seu rei, ser sua côrte,
Dar ás outras a lei eis desta a sorte.
Gravaram do rigor de impostos novos
Os dynastas crueis a terra e os povos
Egypcios, por alçar maças estranhas,
Que tu, transpondo o leito, ó Nilo, banhas,

É

Fosse superstição ou só vaidade Da fama dilalar por longa idade: certo que o sentiu o povo santo, Que tanto ali gemeu por tempo tanto. Hoje busca o viajor o immenso lago De Mexis, e só topa um campo vago. E se restam taes obras peregrinas, São sabejos do tempo, e só ruinas. Aqui, pelo contrário, pôs natura, Por brazões da primeva architectura, Volumes colossaes, corpos enormes, Cylindros de granito desconformes Massas, que não erguerão nunca humanos, Mil braços a gastar, gastar mil annos. Vêdes na fuz aquelle, que apparece Pontagudo e escarpado? Pois parece, Que deu-lhe a providente naturesa, (Além das obras d'arte) por defesa, Na derrocada penha transformado Nubigena membrudo; sempre armado De face negra e torva; e mais se o c'rôa Neve, trovões e raios, com que atrôa. Que, co'a frente no céu, no mar os rastros, Atrevido ameaça o pégo e os astros, Se os delirios da và mythologia Na terra inda vagassem; dir-se-ía : Que era um desses Alóidas, gigante, Que intentou escalar um céu brilhante. Que das deusas do Olympo namorado Foi no mar por audaz precipitado. E as deusas por acinte lá da altura Lhe enxovalham de neve a catadura. Do seio, pois, das nuvens, onde a fronte

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