Benignos ares são substituidos, E alimentos saudaveis produzidos, Em vez das hervas más e venenosas : Sibilantes serpentes perigosas Vão a furia cevar n'outros logares Distantes de meu leito e de meus ares. E terão os meus nobres navegantes Outra saude que não tinham dantes. Sinto o que posso...."
«Basta! lhe repito:
Não quero escutar mais as tuas vozes : Antepões a crueza á humanidade ? »
Perdoa, me responde, crueldade
Não chames ao que é pura natureza: Tu louvas de Tristão d'alma a grandeza, Eu sigo a inclinação, que o céu me inspira, Sem que o louvor denigra com a íra. Do teu heroe conheço a illustre alma, Digno, pelo que faz, de loiro e palma : Elle, só elle rompe-me as entranhas, Quer-me abater as lateraes montanhas, Intenta-me arrancar todo o thesoiro : Como posso occultar a pedra e o oiro, Se céde o meu podêr á sua fôrça?
Quem ha, que o seu mandato evite ou torça ? Quer q'os meus hombros com valor supportem O pêzo que me impõe, e que o transportem Aos desejados fins do seu destino;
Quer que me sulque o nauta peregrino, E que tome por fim até ao mar
A volta e direcção que me quer dar. »
Em quanto assim comigo conversava, Voltei a face, e vi que branquejava Um soberbo edificio, a quem adornam Marmoreos balaustres, encrustados De laminas brilhantes, d'oiro e prata: Pêla elevada porta, immenso povo, Alegre ora sahia, ora tornava,
E mutuamente os parabens se dava.
Ao gigante pergunto o que contemplo, Quando elle me responde:
-«É este o templo Da immortal gratidão: esse congresso, Que vês sahir e entrar com tanto excesso, E que ser povo immenso tu suppunhas, São os heroes, que as azuladas cunhas Ao leu illustre protector deixaram, E que tanto com elle melhoraram ; Mutuamente se estão congratulando, E uns aos outros os parabens se dando, Por ver que em beneficio dos humanos Enche Tristão o giro dos seus annos, E que a mão poderosa da alegria Inda trouxe a Goyaz tão bello dia. »
Ouvi a este tempo um grande viva, Que nos concavos ares retumbava: Acórdo, deixo o templo, e n'um instante Vejo em agoa tornado o meu gigante; Porém pâra louvar a Tristão forte, Tomára sonhar sempre desta sorte.
Nymphas goyanas, Nymphas formosas, De côr de rosas A face ornai. Vossos cabellos Com muitas flores De várias côres Hoje enastrai.
Sim, nymphas, applaudi tão grande dia! E tu, doce Lyeu, pai da alegria Vem-me influir,
Que os annos de Tristão quero applaudir. Ó lá, traze do Pheno
O suave licor grato e sereno ; Traze os doirados copos cristalinos,
Venham falernos,
Venham sabinos,
Deita, deita, enche o copo-gró, gró, gró: Não entornes, espera, que este só
Não é que havemos
Hoje beber;
Mais vinhos temos Sem confeição,
Nectar suave, oh! quanto me consolas ! De mim se ausentem
Rixas, temores,
Mágoas, tristezas,
Penas e dores.
Venha outro copo de Baccho espumante, Que ferva no peito,
Nos lusos fastos não se leia agora Dos seus maiores a brilhante história: Com alheias acções não condecora A sua alta memória
O bom Tristão delicias dos humanos. O curso dos seus annos Cheios não são dêste furor guerreiro, Que nos campos de Marte desbarata, Rende, saqueia, obriga, assola e mata; Más esperem, que escuto! Vejo os troncos bolir! Ah! sim, bem vejo Os Satyros brincões, Faunos auritos, Que cheios de desejo, Soltando aos ares vem ruidosos gritos, Os capripedes deuses que diriam ?
Se não me engano, em sua companhia Vem bistanidas Thracias ululando, Agitadas da rubida ambrozía, Em choreas sincinnas volteando Éstas doces cantigas modulando:
Goyanos louvemos
Tristão immortal, Bebamos, dancemos, Ausente-se o mal. E os doces licores Do bom Nictelen, Em taças se entornem De claro cristal.
Pois já que Tristão De paz nos encheu, Gostosos bebamos O sumo de Oreu.
Traze, traze depressa o Peramanca, Empine-se a botelha toda inteira.
Mâs que chamma ligeira,
Ao modo de uma tropa,
Pêlas tumidas vêas me galopa?
És tu, Bromio gostoso ? Eu bem te entendo. Bebamos mais aquelle, que das ilhas Me mandaram de mimo Do profundo oceano as verdes filhas. No licor forte o coração me nada,
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