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Não pode estar em ocio descançado

O heroe, a quem Mavorte inflamma o peito. No illustre Paraíba

O hollandez é desfeito;

Cunhaú, onde o belga é triplicado
Vê Camarão, e o belga subjugado.

Sobre teu alto cume, Erguido Guararape, altivo monte, Qual fulgurante lume Por Jove dardejado,

Brilhar tambem o viste,

Quando todo em furor, desfeito em íra,
Vingança e liberdade só respira.

Quanto é grato suster da patria cara
A fugitiva glória!

Dêste modo se alcança no futuro
Cubiçoso renome,

Que o tempo estragador jámais consome!
É credora de inveja, é feliz sorte,
Pêla patria acabar em doce morte.

Agora, musa minha, em Porto Calvo,
Colheremos a flor mais fresca e bella,
Que ha de ornar do guerreiro
A brilhante capella:

Escape de uma vez o heroe famoso
Do cego tempo ao ferro sanguinoso.

FLORILEGIO.

Vibrando a longa espada,

Ao lado marcha do brazilio esposo

A nobre esposa amada.
No campo dos troianos
Camilla furiosa,

Voando sobre a grimpa da seara,
Mais triumphos á morte não prepara.

Assoberbam o bátavo nefando,

O quente sangue espuma;

Qual belga foge, qual brazilio fere;
Quem evita o Mavorte,

Na espada feminil encontra a morte:
Ambos assim cobertos d'alta glória
Alcançam do hollandez clara victória.

Brazilio Camarão, indio Mavorte,
Recebe com prazer ésta capella,
Que te cansagra o vate:

Com ella adorna a frente;

E da fama loquaz no excelso templo Aos futuros heroes dá nobre exemplo.

A Henrique Dias, natural de Pernambuco,

e seu restaurador em 1654.

Não posso, egregio Henrique, em larga cópia,
As lagrimas da aurora offerecer-te;
Nem de marmor luzente

Padrões eternos contra o tempo erguer.te;
Porém ao som do plectro, que desfiro,
Com aureo canto eternisar-te posso:
Dom de maior valia,

Que cem columnas do opulento Efiro.

Quando no olympio circo,

Não mortal, todo numen o argivo cisne
Da atropellada bocca

Novos vibrava audaciosos hymnos,
Quanto a rival Corina

Raivava de escutar-lhe a voz divina!
Quanto o mesmo ginete, que a victória
Conseguiu ao Senhor, se encheu de glória!

Nem só de Ilio bateu neptunios muros
O indomavel Achilles,

Quando em tôrno correu do argivo campo,
Largo ribeiro, o sangue de Patrocolo:
Nem o velho Nestor, que honrára Pilos,
Transpoz sómente á vida o curto espaço.

Oh! mil vezes ditoso, o que da lyra
Tirando sons, milagres de harmonia,
Que o Patareu inspira,

Rouba os heroes do tempo á foice impía !
Ditoso, o que n'um frio esquecimento
Não deixa sepultar a patria glória!
Assim Camões divino,

Ergueu-te, ó Gama, eterno monumento.

Assim outr'ora Elpino,

Atropellando os Evos fugitivos,
Da immensa eternidade

As bifores abriu formosas portas,
Quanta d'ali rutila

Brilhante glória em Azamor e Arzila!
Viste de novo Adamastor, ferrenho
Sulcar teus máres lusitano lenho.

Qual furor divinal de mim se apossa!
Que sacro enthusiasmo

Em grossos turbilhões me assalta á mente!
Onde me elevas, impeto divino !

Oh passado! oh futuro! eu vejo tudo,
Abrem-se os penetraes aos meus accentos !

Henrique! lá me assoma em densa treva
Do fero belga a alta trincheira invicta !
Que clamor que se eleva!

Que terror nos cercados que se excita!
O bipene cutello a Parca afia

No fuzilo dos elmos, das espadas;

Troa o bronze inflammado,

Que em chuveiros a morte despedia.

Como debalde intentas,

Belga soberbo, te esquivar ao raio !
Como!... já se arremessam

Altas escadas ás trincheiras altas;
Já tremúla a primeira

Sobre as muralhas portuguez bandeira,
Já curvas, hollandez, com fado escasso,
Altiva fronte do africano ao braço.

Freme na estan ia o bellico Mavorle,
Fulminando ruinas.

Lá Dias apparece... ah! quão azinha,
Foge ao vêl-o a batavia atrocidade,
Assim de Heitor fugia o grego imbelle,
Que as muralhas de Troia acommettia.

Que confusão, ó musa, que alarido!
O céu se encobre de negrume horrendo !
Que estrondo nunca ouvido!
Que sangue pêla terra vai correndo !

Que é isto!... Mâs lá sôa... «O belga forte
Nas Salinas fugir em vão intenta;
Henrique os atropella,

E a seu lado se espraia a negra morte. »

Tal do heroe de Carthago

Fugia á vista a quirinal cohorte ;
Quando em Tresbia valente

O consul atrevido derrotára.

Tal foge temeroso

Do açor cruento á garra furibunda

O aereo bando de mimosas pombas:
Tanto do Heitor brazilio assusta o braço!

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