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Nova et aucta orbis terrae descriptio ad usum navigantium emendate accommodata. Em presença do silencio dos historiadores e dos cosmographos faz-se a interrogativa de como o celebre geographo teve conhecimento das "Insulae Flandricae ?>>> A resposta encontra-se nas relações commerciaes existentes entre as nossas provincias e Portugal com as suas dependencias. (1)

Estas relações ao principio estranhas a toda a ideia de trafico, penetraram longe bastante na historia dos dois paizes. Affonso Henriques, que o povo tinha creado rei depois da batalha d'Ourique ganha sobre os mouros em 25 de Junho de 1139, foi pôr cêrco a Lisboa em 1147; a 28 de maio do mesmo anno o porto foi visitado por uma frota de cruzados flamengos, allemães e inglezes commandados por Arnold d'Aerschot. A instancias do rei estes homens d'armas vindos do norte juntaram-se ás suas tropas e a 23 d'outubro a cidade foi tomada d'assalto; a maior parte dos guerreiros de Flandres receberam em recompensa da sua coragem concessões de terras que os fixaram em Portugal. E' a primeira vez que os flamengos occupam uma pagina brilhante nos annaes portuguezes e é d'esta epocha memoravel que datam tambem as relações entre os dois paizes. (2) Mais d'uma vez os nossos principes tomaram por esposas princezas portuguezas (3) e nós vemos mesmo um infante Fernando de Portugal tornar-se conde de Flandres com o seu casamento com Joanna de Constantinopla.

Estas uniões principescas não tardaram a dar um vivo impulso ás relações commerciaes, que vinham da tomada de Lisboa. A Flandres e Portugal tinham um bom numero de productos necessarios ás suas necessidades reciprocas.

Assim os mercadores portuguezes vendiam ao mercado de Bruges, mel, cera, pelles, trigo, banhas, azeites, fructas, assucar, ferro, alumen, algodão, drogas, lā, vinho; emquanto que a industria flamenga dava a Portugal, fazendas, tapetes, moveis, cavallos, e madeira de castanho. (4)

O nosso commercio com Portugal não tardou a estender-se ás suas colonias, desde que estas tinham tomado uma grande extensão. As relações entre os flamengos e os Açores foram mais d'uma vez evocadas deante dos tribunaes consulares e mesmo deante da jurisdicção civil, como sendo muito extensas e "grandemente motoras da prosperidade commercial de Bruges e das outras cidades maritimas flamengas". (5)

Pelo fim do seculo XV Bruges está em plena decadencia e os mercadores estrangeiros vão estabelecer-se em Anvers, que vem assim a ser o centro das nossas relações commerciaes com Portugal. E' graças ao trafico que a lembrança d'u

terus, Rudimentorum cosmographicorum libri tres Antverpia, 1560; Terrentinus, Elucidarius poeticus, Antverpiae, 1527; Seb. Münster, Cosmographia universalis, Basiliae, 1550. Franciscus Monachus, Epistola ad archiepiscopum Panormitanum, apud L. Gallois, De Orontio Finaeo Gallico geographo, Parisis, 1590. Todas estas obras assim como os nossos archivos não mencionam as Ilhas Flamengas. Os Açores apparecem pela primeira vez nos Archivos de Bruges em 1590, mas já em 1490, é questão dos "Portugaloysche eylanden que designam sem duvida as Ilhas da Madeira e Açores.

(1) Poderia-se objectar que Mercator estava estabelecido em Duysbourg, desde 1554. E' comtudo' possivel que o geographo tivesse conhecimento da designação de Ilhas Flamengas, dada aos Açores antes da sua partida para a Allemanha e talvez durante a sua estada em Anvers.

(2) Mais tarde os nossos compatriotas auxiliaram os Portuguezes a conquistar aos mouros as cidades de Silves (1189) e Alcacer do Sal (1217).

(3) Em 1184 Philippe d'Alsacia casou em segundas nupcias com a infanta Mathilde, filha de Affonso J, rei de Portugal e em 1430 Philippe de Borgonha unia-se a Izabel de Portugal, filha do rei D. João I.

(4) Em. Van Den Bussche ob. cit. N'este importante trabalho acha-se um grande numero de detalhes interessantes sobre as relações commerciaes entre a Flandres e Portugal. Pode-se consultar ainda: De Reiffenberg, Golpe de vista sobre as relações que existiram entre a Belgica e Portugal. (Nouv. mém. de l'Acad. royale des Sc. et des Belles-lettres de Bruxelles, 1841). Varenrerg Les Relations des Pays-Bas avec le Portugal d'après un écrivain du 17.° siècle (Annales de l'Acad. d'archéol. de Belg., 1869, t. XXV).

Godin, Princes et Princesses de la famille royale de Portugal, ayant régné sur la Flandre. Rapports entre la Flandre et les Portugais. Lisbonne, 1892. Donnet. Les Anversois aux Canaries (Bull. de la. soc. roy. de géogr. d'Anvers, vol. 19, pag. 276).

(5) Em. Vanden Bussche ob. cit. (La Flandre, T. V pag. 304.)

ma colonisação do Fayal pelos flamengos não cahiu em esquecimento; e é mesmo provavel que os descendentes dos nossos compatriotas fizessem valer mais d'uma vez a origem flamenga.

Em Portugal o nome d'Ilhas Flamengas dado a todo o grupo era tão conhecido como o de Açores; em meiados do seculo XVI espalha-se pelo norte da Europa como o testemunha o planispherio de 1569 de Mercator; mas parece ignorado dos cartographos dos paizes meridionaes do nosso continente.

Cousa curiosa, n'esta mesma carta "mercatoriana, nós notamos N. N. O. de S. Miguel na latitude de Brest uma outra ilha trazendo o nome de "Vlaenderen" que nunca existiu e que deve ser classificada entre as ilhas phantasticas tão numerosas n'essa epocha. (1)

No emtanto não seria possivel reconhecer-se n'esta Ilha a "Neu Flandern" ou Nova Flandres do globo de Behaim?

Mercator não dá em parte nenhuma dados historicos sobre as Ilhas Flamengas e no seu "Atlas Sive cosmographicae meditationes de fabrica mundi et fabricati figure 1595", as Insulae Flandricae não apparecem mesmo mais e são substituidas pela denominação de "Las Açores". (2)

Mais preciosos são os dados que nós achamos n'um outro geographo que foi 0 amigo do exilado de Duisbourg e de que a Belgica se honra, Abraham Ortelius. A primeira edição do seu Theatrum Orbis terrarum appareceu em Anvers em 1570. Ainda que Ortelius cite entre estas fontes a carta de Mercator de 1569 ad usum navigantium, elle menciona os Açores com os nomes portuguezes sem falar em Ilhas Flamengas. Nos annos seguintes apparecem, apenas retocadas, um grande numero de edições latinas e de traducções em varias linguas.

Mas em 1595 o Theatrum recebeu numerosos additamentos entre os quaes um capitulo sobre os Açores particularmente importante para a pretendida descoberta d'estas Ilhas pelos Flamengos. Nós lemos alli: "Nostrates (Açores) de Vlaemsche eylanden vocant, quasi Flandricas insulas, quod ab iis, Brugensibus mercatoribus nempe, primum detectas creditur. Nihil in iis id temporis praeter arbores (inter quas plurima cedrus) silvasque et varia alituum genera, inventum perhibent, eosque ibidem colonos misisse, et cultas reddidisse. Postea sub Lusitanorum imperio se dedidisse, cui hactenus parent. Inventas circa millesimum quadringentesimum quintum (1445), refert Ludovicus Marmolius fol. 48". (3)

Mais longe sob o titulo de "Fayala" Ortelius conta ter sabido d'um portuguez de boa fé que os descendentes dos primeiros colonos Flamengos taes como os de Bruyn, os de Utrecht (4) continuavam a viver n'esta Ilha.

E' portanto no Theatro que nós achamos a primeira menção d'uma descoberta dos Açores por flamengos ou mercadores brugenses. A lenda não é o facto d'Ortelius que não faz mais que registar um rumor popular como parecem provar as palavras "nostrates vocant" - "creditur".

A origem d'esta lenda não encerra comtudo nada d'extraordinario. As circumstancias que acompanharam a descoberta do archipelago açoreano eram desconhecidas no seculo XVI; a carta de Valsequa não teve influencia alguma sobre a historia e o relato de Diogo Gomes ficou egualmente no esquecimento. D'esta fálta absoluta de informações historicas nasceram uma quantidade de fabulas e de hypotheses erradas e a denominação d'Ilhas Flamengas dada aos Açores acabou por ser interpretada no sentido d'uma descoberta pelos nossos compatriotas. Esta

(1) Esta ilha apparece egualmente no Atlas de Mercator de 1595 e em numerosas edições do Theatrum orbis terrarum d Ortelius.

(2) Algumas edições posteriores d'este Atlas dão comtudo "Açores insulae alias Flandricae». Nós cremos inutil de mencionar aqui todas as cartas e todos os globos que, sob a influencia de Mercator e d'Ortelius, retomaram esta denominação.

(3) Ortelius, Theatrum Orbis Terrarum. Anvers, 1595, fol. 15, 1.°. A obra de Marmolius, de que Ortileus fala aqui, é a "Primeira parte de la descripcion de Africa, Grenade, 1573". (4) Utrecht não é mais que uma deformação de Utra.

opinião vulgarisou-se graças a influencia exercida por Ortelius sobre os geographos posteriores; pode-se dizer que nos seculos seguintes éllà foi geral. O italiano Ricciolus (1) e o hespanhol Mosquera (2) admittiram-na, e ella fez mesmo a sua apparição nos Açores.

Com effeito em 1775 J. R. Forster soube no Fayal d'um padre portuguez, que parecia muito esclarecido e de grande senso, os seguintes detalhes :

"Os Açores foram descobertos pela primeira vez em 1439 por navios flamengos; muitas familias dos Paizes Baixos estabeleceram-se na Ilha do Fayal, e uma das parochias tem o nome de Flamengos; é por isto que alguns dos antigos geographos chamaram-nas Ilhas Flamengas". (3)

Em breve a lenda se desenvolve; (4) um certo Josué Van den Berg toma o logar dos mercadores brugenses, e fica o primeiro navegador dos Paizes Baixos.

E' o inglez William Guthrie que menciona ou para melhor dizer inventa este detalhe. "Os Açores, diz elle, foram descobertos nos meiados do seculo XV por Josué Van den Berg, Mercador de Bruges na Flandres que n'uma viagem a Lisboa foi transportado pela tempestadea estas ilhas inhabitadas. Elle chamou-as as Ilhas Flamengas. Na chegada a Lisboa vangloriou-se d'esta descoberta e os portuguezes tomaram em seguida a posse. Ellas ainda pertencem a Portugal e receberam o nome collectivo de Açores por causa do grande numero de falcões e açores que se acharam nas paragens». (5)

Inutil de dizer, que este relato é desprovido de qualquer valor. Guthrie (17081770) era um compilador que se importava pouco com a verdade historica; elle estava ao serviço do governo, dos livreiros e de quem quer que fosse que quizesse comprar os seus serviços. Elle chegou mesmo a por o nome no fim d'uma quantidade de compilações de todos os generos; foi assim que, por exemplo, a sua grammatica geographica, historica e commercial foi attribuida ao livreiro Knox. (6)

Seja quem fôr o auctor da passagem supracitada, a falsidade dos factos allegados é manifesta. A fonte parece ter sido o relato d'Ortelius um pouco alterado.

Um ponto fica a explicar é o nome de Josué Van den Berg que o auctor muito difficilmente inventaria. "Não é impossivel, diz Baudet, que Josué Van den Berg fosse formado do pronome de Josse Van Hurtere e do nome de Jacques de Bruges, com uma leve deformação de Josse em Josué e de Van Bruges em Van den Berg. (7)

Esta explicação não é plausivel porque se o auctor da obra mencionada tivesse conhecido o nome d'estes dois personagens teria provavelmente attribuido a descoberta dos Açores a um dos dois.

Donde vem então o nome de Jossué van den Berg? Não encontramos o menor indicio a este respeito.

Em. Van den Bussche esforçou-se em vão por identificar este personagem. "Quanto a nós, demo-nos a incommodos infinitos para achar nos archivos do Estado em Bruges vestigios d'um van den Berg de Bruges, e navegador; nós não encontramos nada e duvidamos que alguem seja mais afortunado nas

(1) Ricciolus, Geographiae et hydrographiae reformatae libri XII. Bononiae, 1661, pag. 93. (2) Mosquera, Commentario em breve compendio de disciplina militar, en que se escrive la jornada de las islas de los Açores. Madrid, 1696, fol. 98 ro.

(3) Voayge dans l'hémisphère austral et autour du monde, fait sur les vaisseaux du roi, l'Aventure et la Résolution en 1772, 1773, 1774 et 1775. Ecrit par J. Cook, dans lequel on a inséré la Relation du capitaine Furneaux et celle de M. M. Forster, Traduzido do inglez. Paris, 1788, pag. 198.

(4) Ella confunde-se tambem com uma outra fabula; é assim que foi attribuida a flamengos a descoberta da pretendida estatua equestre da Ilha do Corvo Veja-se East Indian Pilot. 1792, citada por Voisin, Notice sur la découverte et la colonisation des Iles Flamandes (Bol. de L'Ac. des Sc. et B.-L. de Bruxelles, t. VI, 2. p., 1839, pag. 188).

(5) Guthrie, A new systhem of modern geography or a geographical, historical and commercial grammar and present state of the several kingdoms of the world, London, edição de 1795 pag. 862. (6) Veja-se artigo «Guthrie" na biographia universal de Michaud. (7) Baudet, ob. cit. pag. 169 nota 227.

suas investigações. D'outro lado o nosso sabio collega e amigo o Senhor Gilliodts van Severen que conhece a furado os archivos da cidade de Bruges e que rebusca n'elles em todos os sentidos, o encontrou nada referente ao individuo.

Os fastos consulares ma cuscriptos de Bruges "Wetten van Brugge, cuidadosamente conservados e de que os archivos d'Estado de Bruges possuem um exemplar não fazem menção a' guma d'este facto que teria inevitavelmente passado n'aquella epocha por impo' tantissimo.

"Gailliard em «Bri ges e o Franc» fala de differentes Jozs van den Berghe mas sem falar de forr ia alguma d'esta descoberta. Os regstos e outros documen tos dos consulados d'esta epocha ainda que levem ás vezes os detalhes arminucias não dizem absoluta mente nada nem dos Açores nem de van den Berg algum.

<Isto não será ، porventura significativo? E as contas, estes «Livros mantidos com uma attenção tão cuidadosa, não terrain citado o nome d'um homem que vinha de at rir a Christovão Colombo o caminho d'America? Não, issso não é possivel. Cu stis, Despars e os nossos chronistas de toda a natureza em que termos falam el' es de Van den Berg e da sua descoberta? Nenhum faz menção". (1)

Seja co mo fôr é certo que um Jossué Van den Berg descobridor dos Açores é um mytho , e que nenhum historiador anterior a Guthrie não faz menção alguma. Em todo o caso este nome não tardon a adquirir notoriedade.

data

Sie genbeek (2) colloca a descoberta de jossue van den Berg no anno de 1443, que elle sem duvida tirou d'um ou outro diccionario de geographia.

Foi Voisin, que na Belgica, se occupou primeiramente d'este desconhecido. A actual Flandres, diz elle, que tem a gloria de ter dado o dia ao pae da poesia FlaTenga, pode tambem orgulhar-se de ter visto nascer o primeiro navegador dos Paizes Baixos". (3)

Depois d'elle varios escriptores admittiram a lenda da descoberta dos Açores pelos flamengos mas será necessario combatel-a mais? (4) pois que a fonte commum fica sempre sendo a grammatica historica, geographica e commercial do inglez William Guthrie.

Uma palavra ainda para marcar um singular engano do Senhor Barão Haulleville que nós não podemos admittir. «As Ilhas Flamengas, diz elle, incontestavelmente colonisadas pelos nossos maiores pertenceram-lhes em um momento dado. Em 1466 ellas foram dadas por Affonso V de Portugal a sua tia Isabel mulher de Philippe o Bom.

Se os duques de Borgonha tivessem tido um pouco o senso das necessidades e a aspiração dos seus subditos belgas, se elles tivessem continuado a politica tradicional dos nossos soberanos nacionaes em vez de visar a intervenção nos negocios francezes, se em vez de voltar os olhos para o continente elles os tivessem dirigido como os nossos duques e os nossos Condes, para o mar, quem sabe se esse pequeno dominio dos Açores não teria sido o ponto de partida d'um grande imperio transatlantico? Mas esses principes egoistas preferiram abandonar desdenho

(2) Em, Van den Busschee, ob. cit. (La Flandre, t. V pag. 308).

(3) Siegenbeek, Over de verdiensten der Nederlanders in het ontdekken en bekend maken van onbekende of schaars bezochte werelddeélen en gewesten (Magazijn voor wetenschappen, kun sten en letteren van van Kampen, III deel, 2. stuk, pag. 229).

(4) Voisin, Notice sur la découverte et la colonisation des Iles Flamandes (Bull. de l'Ac. roy. des Sc. et B.-L. de Bruxelles, t. VI, 2. partie, 1839, pag. 181).

(1) Estes escriptores são: De Reiffenberg, ob. cit. De Saint-Genois, Les voyageurs belges du XIIIe. au XVlle. siécle. Bruxelles, 1846-47, 2 vol. Van Bruyssel, Histoire du commerce et de la marine en Belgique. Bruxelles, 1863. Vanrenberg, ob. cit. Godin, ob. cit. Verstraete, Histoire des travaux et projects de celonisation des Belges (bu ll. de la soc. royale de géogr. de Bruxelles t. IV, 1880, pag. 639) Wauwermans, Henri le Navigateur et l'Académie portugaise de Sagres. Introduction á l'étude anversoise de géographie du XVIe. siécle.

Nós não conhecemos mais do que trez escriptores, que duvidaram da existencia de Jossué van den Ber; são: Van den Bussche, ob. cit. Goblet d'Alviella, Voyages, découvertes, émigrations (Patria Belgica, Bruxelles, 1875, t. III, pag. 185-214), e Baudet, ob. cit.

samente a obra de Jossué Van den Bergue um dos maiores navegadores do seu tempo." (1)

Nunca os Açores foram propriedade d'Isabel de Borgonha e nunca Portugal pensou em ceder-lhe estas Ilhas cuja importancia crescia de dia para dia. Se os flamengos colonisaram em parte os Açores, isto não foi senão uma empreza privada e em que a politica dos Duques de Borgonha não teve que vêr.

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E na era de mil IIIJcRV (1445) (2) annos mandou o Iffante a hun cavalleiro, que se chama Gonçallo Velho, comendador que era na ordem de Xpõ, que fosse povoar outras duas ilhas, que estam afastadas daquellas CLXX legoas ao noroeste: e hua daquestas começou o Iffante dom Pedro de mandar povorar com prazimento de seu irmao, seguyusse sua morte em breve, pello qual ficou despois ao iffante dom Henrique; e a esta posera o iffante dom Pedro nome a ilha de Sam Miguel, pella singular devaçom que el sempre ouvera em aquelle sancto. E tambem fez o iffante dom Henrique tornar aa ilha do Porto Sancto Bartollameu Perestrello, aquelle que primeiramente fora com Joham Gllz (Gonçalves) e com Tristam, que a fosse povorar; pero com a multidom dos coelhos, que cassy som infindos, nom se pode em ella fazer lavra, soomente se criam ally muytos gaados, e-apanhasse sangue de dragom, que trazem a vender a este regno, e assy levam a outras muytas partes. E fez lançar gaado em outra ilha, que está a sete legoas da ilha Madeira, com entençom de a mandar povorar como as outras a qual se chama a ilha Deserta. E destas VII ilhas (3) as quatro som tamanhas como a da Madeira, e as tres mais pequenas. E por acrecentamento da ordem de Xpõ, cujo governador o iffante era ao tempo da dita povoraçom, deu aa dicta ordem todo o spiritual da ilha da Madeiro e do Porto Sancto, e todo o spiritual e temporal da outra ilha (4) de que fez commendador Gonçallo Velho, e mais da ilha de Sam Miguel, the leixou o dizemo, e a meetade dos açucaraaes. (5)

II

Diogo Gomez

De inventione insularum de Açores

Tempore quodam Infans Dominus Henricus, cupiens scire partes extraneas oceani occidentis, si invenirent insulas an terram firmam ultra descriptionem Tolomei, misit caravelas ad quaerendum terras. Qui fuerunt, et viderunt terram in occidente ultra Caput finis terrae per 300 leucas, videntesque quod essent insulae, intraverunt in primam, et invenerunt eam inhabitatam, et ambulantes per eam invenerunt multos astures seu açores et multas aves fueruntque ad secundam, quae

(1) Alph. De Haulleville, Les aptitudes colonisatrices des Belges et la question coloniale en Belgique. Bruxelles, 1898, p. 83. (2)-Trata-se aqui da colonisação de S. Maria e de S. Miguel. A carta de 1443 prova que Azurara enganou-se na data. Veja-se annexo 5.

(3)-Ha provavelmente aqui lacuna. As phrases são inquerentes e "as palavras destas sete ilhas" são perfeitamente inexplicaveis pois que Azurara não mencionou mais que cinco.. S. Maria, S. Miguel, Madeira, Porto Santo e Deserta. Comparámos a edição do manuscripto de Paris com a copia de Valentim Fernandez que poz á margem. "Ylhas dos Açores". Trata-se portanto dos Açores.

(4)-St. Maria.

(5)-Azurara, chronica do descobrimento e da conquista da Guiné, Ed. de Santarem cont. Paris, 1841 cap. 83 pag. 389.

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