a peito os interêsses do seu mandatário, passando ao partido do Bolonhês, com quem tratou em Paris, abandonando Negligente aquêle. que tanto em seus descuidos se desmede que de outrem quem mandara era mandado 2. Êsse parvenu - ou mais exactamente, arrivé - seu primogénito D. Mendo, alcunhado de Belpelho (vulpelho, golpelho, de vulpeculus) - é motejado por um trovador pertencente a uma família de velha estirpe-D. Afonso Lopes de Baião, princeps terrae 3. Numa gesta de maldizer, poema narrativo em que imita os franceses, e mostra certo conhecimento da Chanson de Roland, ridiculariza o filho do infanção, a quem a mercè do soberano concedera pendão e caldeira, e vassalos para criar e armar, e êsses vassalos, por êle apresentados em alardo ao reinante. Eis êsse << escarnho»: A Cantiga 1080 (B. 1470) a que serve de epígrafe a proposição: «Aqui sse começa a gesta que fez don Afonso Lopez a don Mendo e a seus vassalos, de maldizer». Sedia-xi don Belpelho en ũa sa maison 1 Lá assina como simples miles. 2 Lus. II, 91. 3 CA Biografia XXII, D. Afonso Lopes de Baião. 4 VB Seriaxi - 5 B foron. Em especial p. 403. ca ja vus tarda essa gente da Beira: que non a antre nos melhor lança per peideira. (?) Independente tècnicamente, mas ligado na ideia é a pequena. Esparsa que se segue à Gesta nos Cancioneiros : Deu ora el rei dinheiros a Belpelho que mostrasse en alardo cavaleiros e por rícomem ficasse. E pareceu a cavalo com sa sela de badana : Qual ricomen, tal vasalo, qual concelho, tal campana ! Com relação à forma da gesta, que é a primeira paródia da literatura portuguesa, só posso repetir o que deixei dito no Cancioneiro da Ajuda: O título de gesta, usado exclusivamente para classificar esta composição, o metro que é o decassílabo épico bipartido, de 10, 11 ou 12 sílabas gramaticais com cesura depois da quarta ou quinta e acento tónico na última silaba-par de cada hemistiquio,a distribuïção dos 56 versos em três leixas monorrimas (laisses homoteleutes)—em on an eira- de extensão desigual, rematadas com a onomatopeia Eoy! são outras são outras tantas provas de que D. Afonso Lopes de Baião conhecia pelo menos a obra-prima da poesia épica francesa, o poema de Roncesvales. Isto meado O século XIII, no reinado só aparentemente pouco literário quási mudo de Sancho II. Pobre talvez em cantigas de amor e de amigo, mas rico em « escarnhos » e trovas de maldizer, como mostram os exemplos por mim dados, e como se compreende perante os acontecimentos apontados. CAROLINA MICHAELIS DE VASCONCELLOS. |