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Mas vi o agradecimento no seu coração. E preguntou-me

muitas coisas da nossa escola.

- Agora no Japão há talvez duzentos portugueses, mas são quási todos de Macau e não podem falar quási nada português. Os portugueses de Portugal são somente três: o ministro de Portugal em Toquio, o seu professor e eu.

Preguntou-me depois que faria eu depois de acabar a escola. Eu disse-lhe que tencionava ir para o Brasil. Êle aplaudiu muito a minha tenção e disse-me:

- Agora tôdas as noites vem a minha casa um moço para aprender português, mas fala ainda muito pouco. Venha cá antes de ir para o Brasil.

Como êle me preguntou se ficava muitos dias em Tokushima, eu respondi que não, que tinha de partir essa mesma noite para a minha terra.

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Apontando num mapa, eu expliquei-lhe.

Então êle, como se se tivesse recordado de alguma coisa,

disse :

- Há vinte e dois anos, ainda estava em Kobe, quando tive o prazer de ir a Tadotsu; visitei Kotohira-jinja; depois, atravessando as montanhas, cheguei a Tokushima, descendo em barca o rio Yoshino. Depois voltei a Kobe. Isso é perto, é uma província vizinha.

Êle recordou com deleite êste tempo.

Agora tenho só uma irmã que vive perto de Viseu, que às vezes me escreve.

- Então por que não volta ao seu país - a Portugal ? Êle, tristemente, disse:

- Já estou velho; não tenho coragem para sair para países estrangeiros e, além disso, não tenho dinheiro para O fazer. Estou satisfeito nesta sossegada cidade de Tokushima. Quero ser enterrado no solo de Tokushima.

Assim se passou a nossa conversação, que correu sem parar, sem nunca parecer terminar. Mas o tempo de partir chegou. E eu despedi-me do Senhor Morais. Antes de eu saír, êle pediu-me para apresentar os seus cumprimentos aos professores e estudantes da minha escola.

- E antes de ir para

de ir para o Brasil, não se esqueça de cá vir mais uma vez.

Com palavras de « passe muito bem » apertámos as nos

sas mãos.

E eu saí da casa do respeitável Senhor Wenceslau de Morais, olhando muitas vezes para trás e sempre com estas palavras gravadas na minha memória:

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NOTÍCIAS DE PORTUGAL DE 1578-1580

SEGUNDO CARTAS DE UMA CASA
COMERCIAL NEERLANDESA

I

A

O despontar o século XVI, quando, em seguida à viagem de Vasco da Gama, Lisboa se constituiu mercado dos produtos da Índia, activaram-se as relações com as praças do Norte, e as atenções até aí presas no Mediterrâneo desviaram-se para o novo empório da especiaria. Então se intensificou o interêsse dos súbditos do Império, até êsse tempo moderado, pelo tráfico com Portugal.

As informações mais antigas, que ao presente possuimos, sôbre comércio dos alemães no país, são do reinado de D. Afonso V. De um documento de 1456 sabemos que vinham buscar ao reino sal e vinho, e traziam madeira e provavelmente cereais do Báltico, bem como panos de Flandres. Em 1485 concedeu-lhes D. João Il privilégios iguais aos dos flamengos e outros súbditos do Duque de Borgonha. Os vassalos do Duque desterrique (de Austria, Oestreich) são expressamente nomeados na concessão.

Ao número dêstes pertenciam os negociantes de Augusta e Nuremberg, que nessa época tinham já celebridade no mundo comercial: os Fuggers, Welsers, Hochstetters e Imhofs, que todos tiveram negócios consideráveis na Península, e que o descobrimento do caminho para a Índia chamou a Lisboa.

Anteriormente o comércio da pimenta, que veio a ser por muitos anos o lume dos olhos de Portugal, na frase de Gaspar Correia, e o era já daqueles negociantes, fazia-se pelos portos do Levante, através de Veneza. O novo caminho directo deslocou

para Lisboa o tráfico, e tornou mais abundante e acessível o produto.

Ainda em 1501 as firmas alemãs interessadas cuidavam em estabelecer uma feitoria em Génova, para o trato da pimenta, sob a direcção de Fugger; quando souberam do êxito feliz da jornada pelo Cabo da Boa Esperança, abandonaram o propósito que o sucesso inutilizava.

Na sua nova feição, o negócio oferecia vastas possibilidades, assim nos lucros da especiaria como nos fornecimentos de retorno, que em prata e cobre para as compras da Índia, materiais para as armadas e mercadorias de tôda a espécie se enviavam Lisboa. Isto, que em parte se realizava por adiantamentos à coroa, que monopolizava o produto, demandava capital volumoso, e só podiam intentá-lo casas ricas de numerário, e que dispusessem de crédito em larga escala.

Destas nenhuma como a de Jacob Fugger, que destinado à vida eclesiástica largou a batina, adquiriu imenso cabedal, e teve preponderância notável na côrte de Carlos V. Do seu tempo

data a intervenção do capitalismo como fôrça activa nas decisões da política. Foi o dinheiro dos capitalistas, acima de tudo o de Fugger e o seu crédito, o que deu a Carlos a coroa imperial.

Perdeu-a Francisco I por menos abonado. Os Eleitores peitados exigiam adiantadamente moeda, ou então obrigações directas de Fugger, que o rei de França não podia dar. Foi ainda o dinheiro dêle que facilitou a eleição de Fernando I para rei dos Romanos; e na maior parte ajudou Carlos e Filippe II a custearem suas guerras.

Do espanto que êste até então desconhecido poder da finança inspirava aos contemporâneos, dão testemunho os termos em que a respeito de Jacob Fugger falava a D. João III o escrivão da feitoria de Flandres, Rui Fernandes : « Êle é o maior homem da Alemanha, e o que governa todos os os príncipes e reis; nenhum príncipe vive sem êle e todos folgam de o ter por amigo; o que quer acaba-o » 1, e assim por diante, como que em êxtase, perante esta nova soberania do capital, na sua aurora.

1 Carta publicada por Braamcamp Freire em Arquivo Histórico Portuguës, T. 6.o, p. 379.

Apenas inferiores eram os Welsers. Esses vinham em 1503 estabelecer casa em Lisboa, tendo obtido carta de privilégios, que além de certas isenções na alfândega, os autorizava a construirem navios em Portugal, e mandá-los a todos os portos do reino e senhorios, com tanto que fôssem as tripulações e OS mestres portugueses.

No ano antecedente tinha-se vendido em Flandres a primeira partida de pimenta, vinda pelo Cabo da Boa Esperança. Conta Guicciardini ter sido o comprador Nicolau Rechterghem, que por seu turno expediu para Alemanha o produto. Ali, sabendo que era pimenta embarcada em Portugal, e não recebida pela via ordinária do Mediterrâneo, suspeitaram os consumidores que não fôsse genuina do Oriente. « É que

autor-não havia lá conhecimento da jornada dos portugueses às Índias » 1.

O facto, a ser verdadeiro, retrai dois anos a época em que se assenta terem pela primeira vez aparecido em Flandres as especiarias trazidas do Oriente pelos portugueses, que é em 1504. Propagada a notícia, correm OS mercadores alemães a Lisboa, e é passada a carta de privilégios, requerida pelos Welsers, a 13 de Fevereiro de 1503. A data indica que a venda de pimenta anterior seria da que trouxe Cabral, cujos navios tinham chegado ao reino em Junho de 1501. O seguinte carregamento, por João da Nova, entrou no Tejo em Setembro de 1502. No intervalo não haveria tempo de transportar os produtos a Flandres e Alemanha, e virem de lá os comerciantes interessados antes de Fevereiro de 1503.

privilégios, que por abranger a particiantes concedido a

Não tardaram êsses a fazer uso dos uma interpretação lata puderam também pação nas frotas da Índia, como fôra já Bartolomeu Marchione, florentino e talvez efeito disso, entraram na expedição de D. meida, em 1505, três naus, armadas por um consórcio de negociantes florentinos, florentinos, genoveses e alemães, à testa dos

a outros. Por Francisco de Al

1 Descriz. dei Paesi Bassi. Trecho transcrito em Flandre et Portugal, por E. Vanden Bussche, p. 9.

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