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todos e cada um emancipado das ideias e instituïções governativas do Velho Mundo. Nesta região de pensamento são cidadãos de uma pátria comum os Ibero-Americanos, os Anglo-Saxões, os Celtas, os Teutões, os Eslavos e todos os elementos humanos do Novo Mundo. Pátria comum em que o espírito americano, livre, original e humanitário, aproxima estreita e progressivamente, ao Norte e ao Sul, todos os homens do Novo Mundo. » Referindo-se à importància do estudo das línguas espanhola e portuguesa, disse o orador: «¿ Quem deixará de alegrar-se com dominar, êle Ou OS seus filhos, o nobre idioma em que (para só falar de História) Balmes ou um Menéndez y Pelayo desvendaram as molas secretas dos erros humanos ou o poder e alcance das ideias estéticas que são como os ventos e marés do pensamento humano? o nobre idioma em que um Herculano e um Gama Barros apontaram para as fontes espirituais dos Descobridores? »

um

E eis agora o fecho camoniano do discurso proferido pelo reitor Shahan: «¿ Não deveremos considerar de bom agouro que o Instituto Ibero-Americano se inaugure em Washington ao mesmo tempo que está sendo celebrado o quarto centenário do nascimento de Camões, o grande poeta de Portugal e primeiro mestre-cantor de uma nova ordem de vida? Poeta, namorado, soldado, vagamundo, crítico, historiador, Camões tocou com o mágico dedo da fantasia as águas infinitas e ilimitadas terras que, com outros heróicos aventureiros de Portugal, os homens da Europa atravessaram pela vez primeira. Ao mesmo tempo que encerrava os anais da arte literária medieval, abria o Poeta, com a opulenta música do seu verso, aquela gloriosa crónica moderna da vida e do pensamento português, guardada em tantas páginas da biblioteca de Oliveira Lima, que assim presta duradoura homenagem ao génio multiforme e mal-fadado do mais sublime cantor nascido entre os filhos de Luso ».

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PARA A INTERPRETAÇÃO DO CORAÇÃO MENDES». NOTA BIBLIOGRÁFICA

É

conhecido dos filólogos o qualificativo mendes e os estudiosos de Camões, em especial, não esquecem nem esquecerão as sábias comunicações académicas do Dr. José Maria Rodrigues e da Sr. D. Carolina Michaëlis de Vasconcelos sôbre o vilancete aos Olhos Gonçalves, e a do eruditissimo Esteves Pereira sôbre A Mofina Mendes de Gil Vicente,

publicadas respectivamente nos vols. X, XII e XIV do Boletim da Segunda Classe da Academia das Sciências de Lisboa. ¿Que significava, porém, a expressão camoniana coração mendes e, dum modo geral, mofina mendes de Gil Vicente, tençazinha mendes e primeirinha mendes de Jorge Ferreira de Vasconcelos, etc.? A interrogação durará, talvez, muito tempo ainda; mas como subsídio para uma resposta permitimo-nos atenção para o livro do patriarca das letras sevilhanas, D. Luís Montoto y Rautenstrauch - Personajes, personas y personillas que corren por las tierras de ambas Castillas, 2 vols. (2.a ed.) Sevilha, 1921 e 1922.

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Nesta obra coligiu o seu ilustre autor « de la tradición oral y de las obras de nuestros clássicos, modos castellanos de decir en que entra como componente, o materia prima, un personaje que, si no tuvo existencia real, vivió en la fantasia del pueblo español. (I, p. 9). Ora entre os modismos castelhanos figuram os seguintes: p.., sino la Méndez » ou « Miren quien llama p... « Picardias tiene Méndez; pero más tiene quien se p. 189-90).

Quien me llamó

a la Mendez e

las

entiende.»

(II,

Anotando êstes modismos picarescos, o erudito D. Luis Montoto transcreve os seguintes textos literários: « Parecian cotorreras de seis en libra, y no lo eran más que la Méndez », (Pícara Justina); e da carta de Escarramán a la Méndez - Quevedo, Jácara I da Musa V― estas razões:

« Si tienes honra, la Méndez,

Si me tienes voluntad

forzosa ocasión es esta

en que lo puedes mostrar.
Contribuyeme con algo,

pues es mi necesidad

tal, que tomo del verdugo

los jubones que me dá.

Que tiempo vendrá, la Méndez,

que alegre te alabarás,

que a Escarraman por tu causa

le añudaron el tragar. ».

E da resposta « de la Méndez a Escarramán »:

« Dices que te contribuya,

y es mi desventura tal,

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Em Espanha, a expressão, quer na bôca do povo, quer na literatura, tinha um sentido claro. Te-lo-ia também em Portugal? Faltam-nos elementos seguros; mas tudo leva a crer que se modismo foi vulgar na Península, entre nós não assumiu um sentido tão torpemente realista, não fosse sinónimo de modelo de virtudes, exprimindo, quiça, a ideia de incontinência, quer de palavras e gestos, quer de sentimentos e apetites.

JOAQUIM DE CARVALHO

CAMÕES NA ALEMANHAA

J. J. A. BERTRAND : CAMOËNS EN ALLEMAGNE. (In-Revue de Littérature comparée, ano V, N.o 2, Abril-Junho de 1925, p. 246-263).

E

M todos os países cultos da Europa, Camões tem sido uma fonte viva de sugestão literária, inspirando a sua vida poetas e dramaturgos e sua obra prendendo a atenção de eruditos e críticos. Só monogràficamente se tem considerado esta sugestão, e ainda assim mesmo há lacunas lamentáveis, especialmente em relação à França e à Espanha, faltando-nos por completo a visão do conjunto, que sem dúvida constituirá uma das páginas mais brilhantes da influência europeia do génio português e do «tesouro do luso ». Das várias sugestões literárias nacio

Por nos haver chegado tarde, somos forçados a inserir neste lugar esta secção. —N. da R.

nais, pode dizer-se estudada nas suas linhas caracteristicas a que o Poeta exerceu na Alemanha. O sr. J. J. A. Bertrand, retomando os trabalhos de Storck, Joaquim de Vasconcelos e prof. José Leite de Vasconcelos, traça, com elegância e nitidez, a curva evolutiva da influência de Camões na literatura alemã, desde a citação de Schoerer (1710), que considerava o Poeta como «o Vergilio português », até o elogio de Humboldt no Cosmos (1847), o qual << prova melhor que nenhum ditirambo a popularidade do poeta português », detendo-se particularmente nos românticos. O autor mostra-se ao corrente da bibliografia luso-alemá anterior a 1910; mas parece desconhecer trabalhos recentes, dentre os quais destacamos o do prof. Gustavo Cordeiro Ramos, Três obras literárias alemās sóbre Camões (In-Boletim Classe de Letras da Academia das Sciências de Lisboa, vol. XIV), que, incidindo sobre Tieck, Halm e R. Bunge, deveria ter merecido a sua atenção. O sr. Bertrand, em quem confiamos poder considerar como lusófilo, promete dedicar a «êste importante assunto » um << trabalho mais considerável », e termina o seu artigo com umas palavras serenas, que, por verdadeiras, merecem ser conhecidas dos leitores da LVSITANIA: «Il est indéniable que les romantiques ont fait un effort nouveau pour conquérir Camoëns, le pénétrer et le faire comprendre Sans doute, ont-ils outrepassé les droits que donne la sympathie et l'enhousiasme leurs jugements ont dû être révisés et ne sont guère plus. sages ni plus justes que ceux de leurs prédécesseurs et ennemis. Cependant leur critique a fait date. Ils ont renoncé à juger au nom d'un credo. Ils ont tâché d'aller droit aux mentalités étrangères et de les comprendre sans intermédiaires et en poètes: à ce titre, leur critique est une révélation. Grâce à cet effort, Camoëns est devenue une des figures les plus vivantes et les plus sympathiques de la littérature romantique. Les Allemands en ont fait un des leurs. Les professeurs qui se sont fait une spécialité des études de littérature portugaise, comme Schlüter et Storck, ont traduit avec beaucoup de conscience ses œuvres complètes et leur ont donné droit de cité dans les lettres allemandes. Storck a écrit un travail encore inédit sur l'influence du Portugal en Allemagne, De nombreux articles ont accueilli avec une particulière amitié ces travaux. Les Portugais eux-mêmes ont suivi avec gratitude cette renaissance des études qui leur sont chéres. II ne fauc pas chercher ailleurs l'origine des nombreuses sympathies qui se sont liées entre les savants portugais et érudits allemands ».

JOAQUIM DE CARVALHO.

MARGINALIA

NOS JERÓNIMOS

Centenário de Vasco da Gama resultou nova glória também para Camões, e as cerimónias culminantes da comemoração foram as realizadas no mosteiro de Santa Maria de Belém, aos 25 de Janeiro, e constituídas por sessão SOlene, presidida pelo Senhor Cardial Patriarca de Lisboa, na sacris

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tia, missa de pontifical e bênção ao mar, lançada desde o adro por Sua Eminência. Na sessão solene foram lidas algumas estâncias do canto IV dos Lusíadas, e as mais preciosas relíquias históricas manuelinas viveram nesse dia no templo: a custódia de Gil Vicente, a imagem de São Rafael, da nau do Gama, e o pluvial ofertado pelo Venturoso ao mosteiro, e o qual o Senhor Patriarca revestiu para abençoar o mar. Tôdas estas cerimónias mantiveram um grande carácter de evocação e beleza, a que a música das trombetas e tambores dava um tom épico, grandioso.

Temos a honra de transcrever a seguir a versão do discurso que o Legado do Papa, monsenhor Tedeschini, pronunciou na sessão solene, e esplendidamente coroou, em nome da Igreja, a acção universalista dos

Descobrimentos portugueses e a memória do grande Almirante, herói dos Lusíadas:

« Eminentissimo Senhor, Monsenhores, Senhoras e Senhores: - Tendo vindo a esta bela e grandiosa capital, nas margens do Tejo, onde nos é dado admirar os sentimentos fraternais de um povo com quem aprendi sempre a amar esta Nação; tendo vindo das margens do Tibre, que viu São Pedro e a barca da Igreja, que viu e vê ainda passar perto dêle tantas glórias: é grande honra para mim, honra que ficará no meu coração como uma das melhores recordações da minha vida, usar da palavra na Vossa presença, nesta ocasião, entre tôdas memorável, da celebração do centenário de Vasco da Gama.

Êste centenário interessa ao mesmo tempo a Religião e as Letras e chama, por conseqüência, a Lisboa tôdas as Potências e todas as Nações que avultam pela sua fé e pela sua civilização.

Ninguém mais digno de elogios que êsse que merece, sem discussão, os elogios de todo o mundo.

Por isso venho, Eminentíssimo Senhor, dizer-vos a razão desta imponente reunião, à qual dá o relêvo

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