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Plano e relação da Bahia, denominada de Lourenço Marques, na Costa de Natal, ao norte do Cabo da Boa Esperança, junto ao Promotorio da Latitude de 36 graos, e não menos das terras adjacentes, seus habitadores, Reys, Rios, Comercio, costumes.

SEU AUTOR FR. FRANCISCO DE S. THEREZA

Plano, e Relação da Bahia,

denominada vulgarmente de Lourenço Marques &.

1. Este Plano he tirado dos conhecimentos adqueridos pela propria asistencia, e posto que se não observem todas as medidas Geograficas, com tudo servirá para dár hũa idea sobeja do sitio, e das passagens comigo acontecidas no decurso de vinte meses, que tanho gastos, sendo Capelão da Tropa, que por ordem de Sua Magestade se foj apostar, e aquartelar em Destacamento na passagem propiamente chamada -- Bahia da Lagoa, que fica na boca do Rio de Santo Espirito de que logo se tratará.

2. Aquella Enceada, ou Bahia de Lourenço Marques, terá sete, ou mais legoas de boca, e parece boa a entrada, e pelo menos sem o perigo demonstravel de baxos. O vento Sueste fas grande impresão n'aquelle Golfo nos tempos de Inverno. O melhor abrigo para as Embarcaçõens he dentro no dito Rio do Santo Espirito, onde se fasem surtas. A circunferencia da Bahia he de mais de vinte legoas, e em que não ha ponto fixo, ao menos de que eu possa dar certesa. Comesa a ponta do Norte por hum Monte, que se chama Unhaca pequena-por ter a forma ou feitio de hua unha de vaca sahida ao mar. Correndo para o Sul, ha hua Serra de arêa, que se limita em outro Monte chamado a Unhaca grande. Estes dois montes fazem denominar aquelle respectivo Continente, e ainda, para o centro. Os habitantes da Unhaca grande e pequena, constituem hua Provincia, ou Reynado. Elles são mais

agigantados, que o mais alto Europeo, a sua estatura he bem fornecida, muito regolar, e muito bem feita; não conhecem outros vestidos, do que a desnodez, a pezar de ser o Clima muito frio no Inverno, sopposto, que muito benigno nas outras Estaçõens. Elles tem a arte de se livrarem dos incomodos do tempo. Servem-se de hum canudo, feito, e tecido de pequenas tiras de palha, para prezervarem somente a parte principal d'aquellas, que o pejo, e a honestidade manda esconder da vista dos humanos.. As molheres proporcionalmente são altas, tambem andam nuas á escepção de trazerem dois pannos pretos bem cobertos, ou matizados de contas, de trez palmos de largo, e quatro de comprido, os quaes ficão pendentes pela centura, e cobrindo com elles por diante, e por detras os logares do pejo. As que não podem trazer pannos por falta de meyos, fazem aquelles mesteres de coiros de Cabritos.

(Continúa).

Em 1772 Mr. Sulpice Gaubier de Barrault, Major da Praça de Lisboa, offereceu a el-rei D. José por occasião do seu anniversario a traducção em verso francez dos Episodios dos Luziadas - A morte de Ignez de Castro e o Adamastor, acompanhados de uma carta dedicatoria ao mesmo soberano. São tão raras as boas traducções do poema do nosso Camões, que val muito a penna archivar alguma que por ventura appareça; e esta que reproduzimos aqui, e que hoje é difficil de encontrar, não nos pareceu dever ser desprezada. O traductor era sincero enthusiasta das reformas scientificas e litterarias de D. José e do seu ministro, e bem o mostra pelos parabens, que na sua carta dá a Coimbra pela reforma da sua Universidade. Muito de proposito reservamos para depois a inserção da Morte de Ignez de Castro -- em que o traductor não seguiu a fórma do original portuguez.

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ADAMASTOR

Descripção poetica do Cabo de Boa Esperança, que faz Luiz de Camões no quinto livro do seu poema intitulado Os Lusiadas desde a oitava 37 até a 60 inclusivamente.

GÁMA FALLA A ELREI DE MELINDE

Porém já cinco Soes erao passados,
Que dalli nos partiramos, cortando
Os mares, nunca de outrem navegados,
Prosperamente os ventos assoprando;
Quando huma noite, estando descuidados
Na cortadora proa vigiando,

Huma nuvem, que os ares escurece,
Sobre nossas cabeças apparece.

Tao temerosa vinha, e carregada,

Que poz nos corações hum grande medo,
Bramindo o negro Mar de longe bráda;
Como se désse em vao n'algum rochedo:
Ó Potestade, disse, sublimada,

Que ameaço divino, ou que segredo
Este Clima, e este Mar nos apresenta,
Que mór cousa parece, que tormenta?

Nao acabava, quando huma Figura

Se nos mostra no ar, robusta, e valida,
De disforme, e grandissima estatura,
O rosto carregado, a barba esqualida,
Os olhos encovados, e a postura
Medonha, e má, e a cor terrena, e pálida,
Cheios de terra, e crespos os cabellos,
A boca negra, os dentes amarellos.

ADAMASTOR

Ou description poetique du Cap de Bonne Espérance, morceau traduit de Camões, et tiré du cinquieme chante de son poëme de la Luziade, depuis la 37. octave jusqu'a la 60.° inclusivement.

C'EST GAMA QUI PARLE AU ROI DE MELINDE

Deja depuis cinq jours, au gré d'un vent heureux,
Nos vaisseaux s'eloignant de ces bords dangereux 1
Voguoient sur une Mer jusqu'alors ignorée.
Une nuit, qu'au repos la Flotte etoit livrée,
Je veillois, observant sous des Astres nouveaux
La sillonante proue ouvrir le sein des eaux.
Sur nos têtes, soudain, une effroiable nüe
Se forme, obscurcit l'air, y paroit suspendüe.

Ce nuage rouloit, si chargé de vapeurs,
Qu'a son horrible aspect l'effroi glaça nos cœurs.
De la Mer, qu'il noircit, les flots au loin mugissent,
Tels, quand de leurs brisants les rochers retentissent.
O sublime Pouvoir! m'ecriai-je a l'instant,
Est-ce un nouveau mistere, est-ce un Ciel menaçant,
Dont ces Mers, ces climats nous présentent l'image.?
Prodiges plus affreux que la foudre & l'orage!

A peine j'achevois, que dans l'air ténébreux,
Un Phantôme apparoit, robuste, vigoureux;
Sa figure est difforme, & sa taille etonnante;
Il a les traits chargés, la barbe dégoutante,
L'air terrible & méchant, le tein pâle & terreux,
Les yeux creux, les cheveux & crêpus & fangeux;
Sa bouche affreuse & noire, & ses levres pendantes
Offrent l'aspect hideux de ses dents jaunissantes,

1 Des bords de l'Ethiopie.

Tao grande era de membros, que bem posso
Certificar-te, que este era o segundo,
De Rhodes estranhissimo Colosso,

Que hum dos sete milagres foi do Mundo:
Com tom de voz nos falla horrendo, e grosso,
Que pareceo sahir do Mar profundo,
Arrepiao-se as carnes, e o cabello

A mi, e a todos, aó de ouvillo, e vello.

E disse: Ó gente ousada mais, que quantas
No Mundo commettêrao grandes cousas,
Tu, que por guerras cruas, taes, e tantas,
E por trabalhos vãos nunca repousas,
Pois os vedados terminos quebrantas,
E navegar meus longos mares ousas,
Que eu tanto tempo ha já que guardo, e tenho;
Nunca arados de estranho, ou proprio lenho.

Pois vens ver os segredos escondidos

Da Natureza, e do humido Elemento,
A nenhum grande humano concedidos,
De nobre, ou de immortal merecimento;
Ouve os damnos de mi, que apercebidos
Estao, a teu sobejo atrevimento,
Por todo o largo Mar, e pela Terra,

Que inda has de sobjugar com dura guerra.

Sabe que, quantas Náos esta viagem,
Que tu fazes, fizerem de atrevidas,
Inimiga terao esta paragem,
Com ventos, e tormentas desmedidas:
E da primeira Armada, que passagem
Fizer por estas ondas insoffridas,
Eu farei de improviso tal castigo,
Que seja mór o damno, que o perigo.

(Continúa).

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