Ao Rei, que esperá em tapizada sala , Com despejo , e repouso assim lhe falla com repouso bem era que o fizesse mas com despejo não : despejo equivale a pouca-vergonha , ou, torcendo o genuino sentido, arrogancia; e não he assiin que devia fallar o Cunha ao Rei de Melinde. Na oit. 79 o Melindano foi a bordo, e Tanta candura o Barbaro apresenta Que bir ver a terra amiga o Gama intenta e vai : o que he qutra alteração His. torica, desnecessariamente feira, por que ó Regimento que levava o Gama Lhe manda que não saia Deixando a Frota em algum porto, ou praia. como diz Camões nas 83 e 84 bel. Jas oitavas do C. 2.° da Lusiada , e como eu ja notei no exame do C. 4. deste fusco Oriente. Porem que muito que o R.do Epico faça bir o Gama a terra em Melinde, se o mesmo fez em Guiné ! Chegados aos Paços, o Gama 3 falla ao Rei com grande presumpção de seu feito, dizendo na oit. 83 Verás, Senhor , que nesta acção se encerra Quanto grande aiequi tem visto a Terra. na mesma oitava lhe falla no sublime Alcaçar da Memoria , na 88 falla-lhe no Imperio de Ampbitrite ; e na 91, depois de breve relação da viagem e mettendo-lhe á cara como por engôdo, os altares do alio Templo da Gloria , pede-lhe Piloto, e offereceThe alliança com o Rei de Portugal: o de Melinde, que era bom Homem, acceitou de boa-nente a offerta , prometteo Piloto, e levou o Gama para a Mesa. E condemna o R.do Epico o divinal banquete de Thetis, (que he puramente Poético) e apresenta o Gama em banquete com o Rei de Me. linde, á similhança de Homero a Ulys con o Rei Alcino ; e contra a verdade Historica , e sabida, porque o Gama não foi a terra; e sem ne. cessidade, nem prestigio Poetica, mas só por mingoa do Poeta ! SCS Do CANTO 8.° LEvantada a. Mesa , с a pede o Rei de Melinde ao Gama que lhe conte a Historia de Portugal, e elle come: çą na oit. 4.1 Do grande Reino o quadro portentoso Que be $14speito o louvor na propria bocca. eis-aqui agora o que elle diz na oit. 4 do 36° C. da Lusiada , 4 Que outrem possa louyar esforço alheio Cousa he que se costuma , e se dezeja , Mas louvar os meus proprios arreceio Que louvor tão suspeito mal me esteja &c. Mas viva a originalidade. Na oit. 5.* continúa o Gama do R.do Epico, Mas sabe , o Rei , que em clima affortunado Mas grande sépre.em paz, grande na guerra. Os primeiros dous Versos encerrão o desproposito de dizer que em Portugal jamais cessa a Primavera, quando alias são entre nós mui sensivel. mente divididas, e regulares todas as quatro Estações. O 3.° e 4.° Versos são mal imitados dos primeiros da oit. • C. da Lusiada 6. do 3. Entre a Zona que o Cancro senhorêa , Meta Septentrional do Sol luzente &c. e os ultimos quatro tambem o são da oil. 20 do mesmo Canto da Lusiada, Eis-aqui quasi cume da cabeça Deixemos por brevidade o insulsissie mo resumo que faz o Gama da Hisa roria de Portugal, por bocca do R.do Epico, com outras miseraveis imitações da Lusiada ; porem note-sé ao menos que, chegando á cathastrophe de Ignez de Castro, diz na oit. 25 , Este foi Pedro : bum idolo querido Nem mais cruel & Historia a manifesta! Ora bem cruel, terrivel, miserando, e infando he escrever assim, e aboce canhar. Camões.! Todo o Mundo, que le , conhece Ignez de Castro pelo belissimo Episodio da Lusiada , e eu não devo deter-me em mostrar o que todos tem visto, masr dezejava que esta oitava, e as seguintes, como todos os muitos lugares em que o R.do Epico se encontra com Camões, fossem com tejados: eu tenho mostrado parte de suas imitações, que são tão ruins como continuadas, e eis-aqui mais a oit. 29, o forte Heroe do campo Marathonio Que o Persiano Exercito retalha ; Cosco d'Asia, o raio Macedonio, |