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se coroa Maria Santissima, e esta Corôa he seu particular distinctivo: R.de Epico tudo altera, e parece que lhe são estranhos todos os assumptos de que trata! Nem contente de fa zer ver ao Gamori o que elle não devia, nem podia ver, accrescenta na oit. 92,

Tal a mão do Immortal mostrava oxtr'ora
Do futuro rasgando o véo profundo
De bum Vate à vista a Fé dominadora
Fundando Imperio universal no Mundo:
Nelle estandarte triunfal arvora,

E o tbrono abate do Peccado immundo,
Quando dos Ceos Ferusalem descia,
E aos Ceos os muros d'alabastro erguia.
e ainda mais na oit. 93,

Qual o Vate ficon, fica o Monarcha &c; Isto he tudo sem dúvida hum horror para o Christianismo! A hum Idólatra Malabar ao Gamori patenteada a Visão Beatifica, como se fosse hum dos mais escolhidos de Deos! Hum Idolatra Malabar comparado com hum Santo Propheta, e com o maior dos

Evangelistas!... (*) Mas o horror cresce o Gamori vio ultimamente os Portuguezes propagando o Christianis mo no Malabar, e na oit. 95, ultima deste Canto,

A noite ao termo occidental recúa;
Abre os olhos, a scena encantadora
Se lhe produz na mente, e perpetúa ;
E da Matrona o angelico semblante
E o novo Imperio se lhe põe diante.

de maneira que o Idolatra Gamori não somente vio por sonhos, senão que ainda accordado vio, e se lhe perpetuarão na mente os mysterios que Deos tem patenteado a tão poucos de seus melhores Servos! Eis-aqui huma das vezes em que a Poesia tem sido criminosa! Só a metro-mania (que estraga todos os talentos mediocres) podia abysmar o R.de Epico em tão irreligiosos desconcertos de phrase! E

(*) O Prophera Ezechiel na visão das Rodas, e Animaes; e S. João Evangelista na da Nova Jerusalem.

só a magia metrica (ainda que neste Poema tão mingoada) podia distrahir Leitores atiládos do prompto conhe cimento dos absurdos deste sonho anti-Christão.

Do CANTO II.

Durante a arenga do Gama, o grão

Diabo envia a Inveja, e a Calumnia a inemizar os Indianos com os Portuguezes; os Mouros excitão esta inimizade, e os Bramenes resolvem perdellos: o Gamori manda consultar o Oráculo, a que o Diabo responde.com hum bocadinho d'Historia Portugueza na India; e com o tal Oráculo Infernal consumio o R.do Epico ate á oit. 36, imitando Lucano na descripção do bosque de Marselha, como se vê da oit. 18,

Junto a Panane havia hum denso, escuro
Antigo bosque d'arvores copadas;

Intactas forão sempre ao ferro duro,
Do Tempo velocissimo accatadas;
Com gentilico rito, e culto impuro
Erão do Inferno ao Despota sagradas :
Nellas nem Aves agonreiras pousão
Nem junto revoar-lhe os Mares ousão.

e na 19

Os verdenegros Teixos corpulentos
Cruzão daqui, dalli troncos annosos ;
Cedros, que ondean co' soprar dos ventos,
Alli dilatão ramos pavorosos &c.

deixando o erro grammatical de intactas ao ferro, por ser huma das bagatellas que abundão neste Oriente, eis-aqui copiados do L. 3.° da Pharsalia os Versos que o R.de Epico imitou, ou antes traduzio mal:

Lucus erat longo nunquam violatus ab evo,
Obscurum cingens connexis aera ramis 8:5
Barbaru ritu

Sacra Deum, structa Divis feralibus are:
Illis et volucres metuunt insistere ramis
Et lustris recubare feræ ; nec ventus in illas
Incubuit sylvas

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Non ullis frondem præbentibus auris Arboribus suus horror inest &c.

Alem disto imitou tambem Camões na idea do conjuro, porem não na eloquentissima precisão com que elle expõe tudo isto nas sós duas oitavas 45 e 46 do 8.° C. da Lusiada, concluindo

Vai-se espantado o attonito Agoureiro Dizer ao Rei, segundo o que entendia, Os signaes temerosos que alcançára : Nas entranhas das victimas que olhára.

Na oit. 37 diz o R.do Epico que o
Çamori

Intenta a perda dos Heroes valentes :
Prestes espera na monção chegada
Da arenosa Suez barrabas gentes
Que em passantes Galés sulcando os mares
Salvem d'affronta os Indianos lares.

como Camões na oit. 1. do 9.° C. da Lusiada diz que o Gamori espe

rava

De Meca as Náos que as suas desfizessem. porem nas oitavas seguintes descreve Camões (tão bem como costuma des

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