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POESIAS

POR

LUIZ AUGUSTO PALMEIRIM.

SEGUNDA EDIÇÃO, AUGMENTADA

DE NOVAS POESIAS.

LISBOA.

EM CASA DO EDITOR, A. J. F. LOPES,

Rua do Ouro, n.o 227 e 228.

1854.

LOAN STACK

TYPOGRAPHIA DO PANORAMA. Travessa da Victoria, 52.

P3P6 1854

PROLOGO DA PRIMEIRA EDIÇÃO.

AMIGO

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MIGO MENDONÇA. Annunciaste n'um teu folhetim da Revolução de Setembro a proxima publicação das minhas poesias. Já que foste indiscreto, tem paciencia, e resigna-te ás consequencias legitimas da tua indiscrição. Para que as más linguas não apertem comnosco, sempre será bom consignar aqui de passagem, que, fallando em consequencias legitimas, nem sequer me passou pela cabeça exigir de ti as legitimas consequencias de amigo, que no mundo politico se traduzem em viscondados, e cá n'este das letras, não menos aristocratico, em elogios bombasticos, que nem me competem, nem tu por certo me darás, porque a missão do crítico é muito differente da de thuribulario officioso d'alheias composições litterarias.

O nosso caso é differente. Quando annunciaste o meu livro estava elle embargado na imprensa pela maior de todas as miserias. Faltava-me um prologo, e o que mais é, a pachorra de me pôr a dar satisfações ao pu

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blico pelo mal que estava feito, e que já não tinha remedio.

Quando eu assim me achava, na expressão vulgar entre a cruz e a caldeirinha, vejo o teu aununcio, e delibero-me á vingança impondo-te a contribuição forçada do quer que fosse que se pudesse imprimir no começo de um livro, ainda que tivesse tanta affinidade com um prologo, como um barão moderno com a nobreza, ou o progresso da humanidade com a projectada reforma da carta constitucional.

Nós, os poetas, somos como as mulheres. bonitas, o capricho é a primeira das nossas necessidades moraes. E é talvez por capricho que aborreço os prologos escriptos pelos proprios auctores, e detesto cordialmente as theorias poeticas feitas de casò pensado pelos conscienciosos Aristoteles que as inventam, para as amoldarem catonicamente depois aos engoiados fructos das suas lucubrações litterarias.

Quem lê um prologo, está habilitado a devorar impassivel o artigo de fundo d'um jornal politico, ou, pelo menos, a descer bondosamente á apreciação da differença entre oje o romano.

Ahi vae o livro, se entenderes que não é tempo perdido baptisa-o, e apresenta-o aos teus leitores. Senão não fallemos mais n'isso.

Nas obras d'arte, como na politica, sou partidario do suffragio universal; o que o publico decidir é o que eu resignadamente acceito como sentença de que me não é licito appellar depois. Tenho mesmo minhas

duvidas de que um volume de poesias possa valer alguma cousa, n'esta Babel de interesses mesquinhos e oppostos em que todos nós andamos mettidos.

Meu amigo Já que annunciaste o meu volume de poesias, vê se quanto antes o habilitas a poder correr mundo. Peço-te que sejas severo. As minhas susceptibilidades litterarias já lá vão. Como crítico não deves querer, mesmo a troco da amisade, perder os teus creditos de censor imparcial, dandome aliás na severidade das tuas observações mais uma prova de que és, como eu sou teu verdadeiro amigo. -L. A. Palmeirim.

I.

Como deixaria eu de cumprir a commissão do poeta, e de amigo?

Serei, todavia, breve. Eu creio nas vocações individuaes, nas raras excepções que protestam contra a corrupção e a mediocridade já perdi de todo a crença na evolução social operada em nome d'uma philosophia, creada e desenvolvida pelas superioridades naturaes d'um paiz.

Este Portugal, mantido e conservado pelas classes omnipotentes, não é um cadaver illustre, é apenas um moribundo, aterrado pela idéa da morte, mas sem coragem para se abraçar com a vida: tres seculos de monarchia absoluta esgotaram-lhe a gloria : dezesete annos de realeza representativa desbotaram-lhe a fé estas revoluções parciaes, sem

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