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ntregou o principe a Inez a chave do cofre d'ebano e disse

lhe. « Esta chave guardava até

aqui os vossos segredos, agora guarda os meus » e nisto se retirou a toda a

pressa, e no outro dia logo ao romper da aurora se partio. Inez logo que acordou, vestio-se, e se encaminhou para o aposento, onde o principe residira, que era o que ella occupava antes de sua vinda. Que tumulto lhe não lavrava nas ideas ao entrar no quarto, donde acabava de sair aquelle, que era dono de seu coração, e de seus destinos! Quão agitada se sentio, quando vio o cofre d'ebano! Metteo a tremer a chave na fechadura, abrio-a, vio um papel dobrado, lançou mão delle, e poz-se a ler : eis o que continha o tal papel.

» Parto emfim, querida Inez; não vos esqueçaes nunca de quem não deseja viver, senão por vós, e para vós, de quem vos espera com toda a agitação, que produz a impaciencia. Renovastes-me a existencia,ou para melhor dizer creastesme uma existencia nova, mui diversa da que tinha antes de vos conhecer. Então não experimentava senão uma inquietação turbulenta, não sabia nem o que era'

viver, nem em qué consistia a verdadeira felicidade; e nem sei,como vivendo neste estado de apathia moral sem amar, sem ter objecto que me enchesse o coração podia existir, podia nas veias circularme o sangue? Carecia de vossa presença esta alma ardente, e não podendo soportar o peso da indifferença, exercitava a sua energia em tudo quanto a rodeava; não podendo amar, aborrecia; agora a empregarei n'um digno objecto, que a dirigirá para o bem; consolo-me e quasi que até fólgo de nada haver feito para dever-vos tudo o qué d'hora em diante fizer. Vinde, não vos demoreis; que se não fôra a certeza de vos ver› em breve, não teria animo de dizer-vos a deos. D. Pedro, Principe de Portugal. Leo Inez uma, e outra vez a carta, e a metteo no seio,dizendo: Ahi permanecerás até que exhale o ultimo alento.

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Não tardou muito que um tropel de imaginações sinistras, acompanhadas de certainquietação dolorosa, lhe não viesse

amargurar as doçuras d'aquelle delicioso momento; porém certa alegria, que no fundo d'alma lhe morava, dissipava aquella nuvem de tristeza, e de receios, e lhe dominava todos os sentidos. Não The remordia ainda a consciencia; pois que não era crime o amar, e o ser amada. Assim que embellezada nas doces illusões, que de ordinario accompa nhão os primeiros amores, quando não são absolutamente encontrados com o dever, folgava de ver realizadas as seductoras quimeras, que na imaginação tinha debuxado. D. Pedro a idolatrava, e queria dirigir-se segundo os seus conselhos; porèm como antevisse que se não podia unir comelle perpetuamente, com os sagrados vinculos de hymeneo, tinha résoluto occultar-lhe a paixão que lhe consagrava, limitando-se a ser sua amiga, e jamais sua amante. Nos transportes que a tinhão lançado as fallas de sua avó, e os discursos d'Affonso ácerca de D. Pedro, tinha commettido Inez a

em

imprudencia de pôr por escrito quanto The vinha á imaginação a este respeito, e o nome de D. Pedro se encontrava, a cada passo n'aquellas exageradas paginas..

A violencia, com que D. Pedro sé, tinha portado n'aquella occasião fora causa de lhe ter ella feito entrega d'aquelles papeis, formando logo o projecto de se libertar das importunações do principe, encerrando-se n'um convento, e professando no cabo d'um anno de noviciado; por que desta maneira, quando o principe viesse no conhecimento de seu desasisado amor, ja não seria tempo de levar ao cabo qualquer amorosa empresa: porem quando no primeiro impulso tomou esta tão prudente resolução ignorava o quanto era amada. A conversação, que teve com o principe na tapada, transtornou todos os seus projectos. Quantas razões lhe não suggeria a imaginação para cohonestar a nova resolução, que lhe dictava o amor? Soffreria o principe que ella se empare

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