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As benignas estrellas promettendo
Lhe estão o dargo pasto de Ampelusa,
Co'o monte que em mao ponto viu Medusa.
Este prodigio grande Nympha bella
Com abundantes lagrimas recita.
Porém, qual a eclipsada clara estrella,
Qu'entre as outras o ceo primeiro habita,
Tal coberta de negro vejo aquela,

A quem só n'alma toca a gram desdita.
Dá cá, Frondelio, a mão; e sobe a ver
Tudo o mais qu'eu de dor não sei dizer.
Oh triste morte, esquiva e mal olhada, '
Que a tantas formosuras, injurias!
Áquela deosa bella e delicada.
Sequer algum respeito ter devias.
Esta é, por certo, Aonia, filha amada
D'aquele gram Pastor, qu'em nossos dias
Danubio enfreia, manda o claro Ibero,
E espanta o morador do Euxino fero.

Morreu-nos o excellente e poderoso,
(Que a isto está sujeita a vida humana)
Doce Aonio, d'Aonia caro Esposo.
Ah lei dos fados, aspera e tyranna !—
Mas o som peregrino e piedoso,

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Com que a formosa Nympha a dor engana, Nota e vê, Umbrano,

Escuta um pouco.

Quam bem que sôa o verso Castelhano!

AONIA

Alma, y primero amor del alma mia,
Espiritu dichoso, en cuya vida
La mia estuvo encuanto Dios queria !
Sombra gentil, de su prision salida,

Que del mundo á la patria te volviste,
Donde fuiste engendrada y procedida !
Recibe allá éste sacrificio triste,
Que te offrecen los ojos que te vieron,
Si la memoria d'ellos no perdiste.

Que, pués los altos cielos permitieron Que no te acompañase en tal jornada, para ornarse solo á ti quisieron,

Y

Nunca permitirán, que acompañada De mi no sea esta memoria tuya, Que está de tus despojos adornada. Ni dejará, por mas que el tiempo huya, De estar en mi con sempiterno llanto, Hasta que vida y alma se destruya.

Mas tú, gentil Espiritu, entretanto Que otros campos y flores vas pisando, Y otras zampoñas oyes, y otro canto; Agora embevecido estés mirando Allá en el Empireo aquella idea,

Que el mundo enfrena y rige con su mando; Agora te posuya Citherea

Ó

En el tercero asiento, ó porque amaste,
porque nueva amante allá te sea;
Agora el sol te admire, si miraste
Como vá por los Signos, encendido,
Las tierras alumbrando que dejaste:
Si en ver estos milagros no has perdido
La memoria de mi, ó fué en tu mano,

No pasar por las aguas del olvido ;

Vuelve un poco los ojos á este llano, Verás una, que á ti con tristo lloro, Sobre este mármol sordo llama en vano.

Pero si entraren en los Signos de oro

43.

Lágrimas y gemidos amorosos,
Que muevan el supremo y santo coro,
La lumbre de tus ojos tan hermosos
Yo la veré muy presto: y podré verte;
Que a pesar de los hados enojosos
Tambien para los tristes hubo muerte!

Canção XI

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VINDE cá, meu tam certo secretario
Dos queixumes que sempre ando fazendo!
Papel, com que a pena desafogo!
As semrazões digamos que vivendo
Me faz o inexoravel e contrario
Destino-surdo a lagrimas e a rogo!
Lancemos agua pouca em muito fogo!
Acenda-se com gritos um tormento
Que a todas as memorias seja estranho!
Digamos mal tamanho

A Deus, ao mundo, ás gentes, e emfini ao vento
A quem ja muitas vezes o contei-
Tanto debalde como o conto agora!
Mas-ja que para errores fui nascido-
Vir este a ser um d'elles não duvido.
E pois ja d'acertar estou tam fóra,
Não me culpem se tambem nisto errei.
Sequer este refugio só terei-

Falar e errar, sem culpa, livremente.
¡ Triste

quem de tam pouco está contente!

Ja me desenganei que de queixar-me
Não se alcança remedio; mas quem pena,
Forçado lhe é gritar, se a dôr é grande.

Gritarei ; mas é debil e pequena
A voz para poder desabafar-me,
Porque nem com gritar a dôr se abrande!—
Quem me dará sequer que fóra mande
Lagrimas e suspiros infinitos,

Iguaes ao mal que dentro na alma mora ?——-
Mas quem pôde alguma hora

Medir o mal com lagrimas e gritos ?-
Direi emfim aquilo que m'ensinam
A ira, a magoa, e d’elas a lembrança,
Que outra dôr é, por si mais dura e firme.
Chegai, desesperados, para ouvir-me!
E fujam os que vivem d'esperança,
Ou aqueles que nela se imaginam!
Porque Amor e Fortuna determinam
De lhes darem poder para entenderem
Á medida dos males que tiverem.

*

Quando vim da materna sepultura
De novo ao mundo, logo me fizeram
Estrelas infelizes obrigado:

Com ter livre alvedrio, m'o não deram,
Qu'eu conheci mil vezes na ventura
O melhor, mas o peor segui, forçado.
E para que o tormento conformado
Me dessem com a idade, quando abrisse
Inda menino os olhos brandamente,
Mandam que diligente

Um menino sem olhos me ferisse.---
As lagrimas da infancia ja manavam
Com uma saudade namorada;

O som dos gritos que no berço dava,
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Ja como de suspiros me soava.

Com o fado estava a idade concertada,
Porque, quando por caso m'embalavam,
Se d'amor tristes versos me cantavam,
Logo me adormecia a natureza—
Que tam conforme estava co'a tristeza!

Foi minha ama uma fera, que o Destino
Não quis que mulher fosse a que tivesse
Tal nome para mi; nem a haveria.
Assi criado fui porque bebesse

O veneno amoroso, de menino,
Que na maior idade beberia,
E, por costume, não me mataria.—
Logo então vi a imagem e semelhança
D'aquela humana fera tam formosa,
Suave e venenosa,

Que me criou aos peitos da esperança ;
De quem eu vi despois o original,
Que de todos os grandes desatinos
Faz a culpa soberba e soberana.
Parece-me que tinha forma humana,
Mas scintilava espiritos divinos.
Um meneio e presença tinha tal
Que se vangloriava todo o mal
Na vista d'ela: a sombra, co'a viveza,
Excedia o poder da natureza.

Que genero tam novo de tormento Teve Amor, sem que fosse não sòmente Provado em mi, mas todo executado ! Implacaveis durezas que ao fervente Desejo, que dá força ao pensamento,

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