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Mas e a que é mais certo a desprezamos
Depois que nos engeita, e 108 despreza,
Que premio. Ju me louvor disso esperamos?
Não canicas desta certeza

Que tal esprito não se noveria

Nem de merite vão nem ie fraqueza. Inspiração to Ceo esta seria

A que movesse tua aima, e a quiasse Ao nesma Cés por tam direita via. Sempre triste seria e cuidasse

Cutra cousa de

por não icares

Com maior der, tesque ai dor passasse.
Em mudar raies, em mudar lugares

Não consiste teu bem: teu bem consiste
Em te despir de ti, a ti mucares.

Se o mundo, ce que tu ora fagiste.

Te tornar a chamar com seus enganos,
Com vigoroso peito the resiste.
Lemcre-te a brevidade dos seus annos,
Certos pesares seus, faisos prazeres,
E a gram pena dos eternos danos.
Inda te lemore mais, que se quiseres
Alcançar a virtude, a quem eu falto,
Não te carregues mais do que puderes.
Sobe-se pouco a pouco a um aronte alto.
Mais descansadamente que correndo :
Não cuides de levar tudo d'um salto!
O caminho mui chão te irão fazendo
Os bons exemplos, a doutrina sancta
Que d'uns seguindo iras, e d'outros lendo.
Sempre, em toda a parte, a Deus levanta
Tua alma, teus desejos, teus intentos,
Por elie chora só, a elle só canta !

Não faças d'outras cousas fundamentos;
Da regra professada não desvies

As obras nunca, nunca os pensamentos. Não te fies de ti, nem menos fies

Que te guie direito o que vae torto; Toma guia fiel por quem te guies ! Faz conta que na vida andas ja morto Para que sempre vivas na divina, Passando de bom porto a melhor porto. Recebe com amor a san doutrina

1

Que com amor te derem, nem t'agrave
Esta que o mesmo amor a dar m'ensina?
Entrega do teu peito a Deus a chave,
Tudo te será facil, tudo leve,
Toda tribulação doce e suave.
A sancta obediencia, que se deve
Estimar muito mais que a dignidade
Soberba, da tua alma nunca a leve!
Ajunta-lhe uma simplez humildade,
E d'ellas com pobreza t'enriquece.
Com pureza de vida e castidade.—
Quem d'estas ricas joias se guarnece,
Nos olhos de seu Deus com viva luz
E diante dos homens resplandece.
Nos hombros da tua alma toma a Cruz
De Christo; em teu nome só não ande,
Em cujo dia tu sahiste á luz.

Se cumprires com isto, louvor grande
No mundo alcançarás, gloria no Céo,
Donde venha o soccorro que m'abrande
Esta dôr que me tanto entristeceu !

54.

Aos bons engenhos

A VÓS só canto, espritos bem-nascidos,
A vós e ás Musas offereço a lira;

Ao Amor meus ais e meus gemidos,
Compostos do seu fogo e da sua ira;

Em vossos peitos sãos, limpos ouvidos
Caiam meus versos quaes me Febo inspira!
Eu d'esta gloria só fico contente

Que a minha terra amei e a minha gente!

55.

Soneto á morte de sua mulher

AQUELLE claro sol que me mostrava
O caminho do céo mais chão, mais certo,
E com seu novo raio ao longe e ao perto
Toda a sombra mortal m'afugentava,

Deixou a prisão triste em que cá estava:
Eu fiquei cego e só, com passo incerto,
Perdido peregrino no deserto

A

que faltou a guia que o levava.
Assi co'o esprito triste, o juizo escuro,
Suas santas pisadas vou buscando,
Por valles e por campos e por montes.
Em toda parte a vejo e a figuro:
Ella me toma a mão e vae guiando,
E meus olhos a seguem, feitos fontes.

56.

57.

A este cantar velho:

Não podem dormir meus olhos,
Não podem dormir.

SE o sentido e fantesia
Comvosco estão noute e dia,
Os olhos sem alegria

Como poderão dormir?
Ou vos veja ou vos não veja,
Sempre o amor ver-vos deseja ;
E o esprito, co'a dôr sobeja,

Não deixa os olhos dormir.
A vida vae-se acabando,
De tristeza a alma cansando.
Elles sem vos vêr, chorando,
Assi mal podem dormir.

Endechas

VAE-SE a vida e foge,
Voa o dia e hora ;

Quanto via inda hoje,
Que não vejo agora!

Da manhã á tarde
Quanto traz o dia!
O sol ja não arde
Qu'inda agora ardia.

Um contentamento
Com que m'enganei,

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O FOGO em que estais ardendc
Gasta pouco e pouco a vida;
Vae-se o remedio esquecendo
Deixa a esperança perdida.
Grita a alma e não é ouvida
Que quem vos pode valer
Assi parece que o quer.

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