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59.

60.

Tem-me esta tristeza e magoa
(De que não perco um momento)
Sempre os olhos cheos d'agua,
Sempre a alma de sentimento.
Valei-vos do sofrimento
Folgai ja agora de arder!
Que vos não posso valer.

D. MANUEL DE PORTUGAL

A PERFEIÇÃO, a graça, o suave geito,
A primavera cheia de frescura

Que sempre em vós florece, a quem Ventura
E a Razão entregaram este peito;
Aquelle cristalino e puro aspeito

Que em si comprende toda a fermosura;
O resplendor dos olhos, e a brandura
De que Amor a ninguem quis ter respeito,
Se isto, que em vós se vê, ver desejaes
Como digno de ser visto sòmente,
Por mais que vós de amor vos isentaes,

Traduzido o vereis tam fielmente

No meio d'este peito onde estaes
Que, vendo-vos, sintaes o que

elle sente.

FRANCISCO RODRIGUEZ LOBO

FERMOSO Tejo meu, quam
Te vejo e vi, me vês agora e viste :
Turvo te vejo a ti, tu a mim triste,

diferente

61.

Claro te vi eu ja, tu a mim contente.

A ti foi-te trocando a grossa enchente
A quem teu largo campo não resiste;
A mim trocou-me a vista em que consiste
O meu viver contente ou descontente !
Ja que somos no mal participantes
Sejamo'-lo no bem. Oh quem me dera
Que fossemos em tudo semelhantes!
Lá virá então a fresca primavera,
Tu tornarás a ser quem eras d'antes:
Eu não sei se serei quem d'antes era.

Vilancete

DESCALÇA vae para a fonte Lianor pela verdura !

Vae fermosa, e não segura.

A talha leva pedrada,
Pucarinho de feição,
Saia de côr de limão,
Beatilha soqueixada.
Cantando de madrugada
Pisa as flores na verdura:
Vae fermosa, e não segura.

Leva na mão a rodilha,
Feita da sua toalha ;
Com uma sustenta a talha,
Ergue com outra a fraldilha.
Mostra os pés por maravilha
Que a neve deixam escura :
Vae fermosa, e não segura.

As flôres por onde passa,
Se o pé lhe acerta de pôr,
Ficam de inveja sem côr,
E de vergonha com graça.
Qualquer pègada que faça
Faz florecer a verdura :
Vae fermosa e não segura.

Não-na ver o sol lhe val
Por não ter novo inimigo;
Mas ella corre perigo
Se na fonte se vê tal.
Descuidada d'este mal

Se vae ver na fonte pura:
Vae fermosa, e não segura!

D. FRANCISCO DE SÁ E MENESES

62.

OH rio Leça,
Como corres manso!
Se eu tiver descanso,
Em ti se começa!

Sempre sossegados

Vão teus movimentos;
Não te alteram ventos,
Nem tempos mudados.

Corres por areias
E bosques sombrios;
Não te turvam rios
Nem fontes alheias.

Nasces de um penedo

Tosco e descomposto.
A ti mostra o rosto
A manhã mui ledo.

A aurora em nascendo, Quando estás mais liso, Com alegre riso

Em ti se está vendo.

E

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Quando o mar não soa passam mil velas,

Em ti faz capelas

Com que se corôa.

Olmos abraçados Tenhas sempre de hera; Sempre a Primavera Alegre teus prados!

Logrem teus salgueiros Mil tempos serenos! Nunca sejam menos Os teus amieiros!

Por ti cantam aves,
Sem temerem quedas,
Mil cantigas ledas
E versos suaves..:

De laços e redes
Criam sem receio,
Seguras no seio

De teus bosques verdes.

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