Não vejo outra belleza Divina-ai! sim, será a voz que affina; Nem sinto outra harmonia Respira―n'aura que entre as flôres gira, Senão o doce aroma Formosos são os pomos saborosos, Macia-deve a relva luzidia Do leito-ser por certo em que me deito. Mas quem, ao pé de ti, quem poderia Sentir outras caricias, Tocar n'outras delicias A ti! ai, a ti só, os meus sentidos, 78. Sentem, ouvem, respiram; ; E quando venha a morte, Não és tu ERA assim; tinha esse olhar, Aquella visão que eu vi Toda assim: o porte altivo, Que por toda ella descia Era assim o seu fallar Nos olhos tinha esse lume, Um cheiro a rosas celestes, Mas não es tu...ai! não es! 79. ALEXANDRE HERCULANO A tempestade SIBILA o vento. Os torreões de nuvens Ruge ao largo a procella, e encurva as ondas A immensa vaga ao longe vem correndo, E d'entre as sombras, rapidas scentelhas Do sol no occaso um raio derradeiro, Escapa á nuvem, que, apressada e espessa, 7 Tal nos afaga em sonhos a esperança, P 14 193 Mas, no acordar, lá vem a consciencia As ondas negro-azues se conglobaram; Contra as quaes outras serras, que se arqueiam, Oh tempestade! Eu te saúdo, oh nume, Tu guias os vulcões, do mar princesa, Quando pelos pinhaes, entre o granizo, Vibrando sustos, pavorosa ruges Quem porfiar comtigo então ousara Tu que fazes gemer pendido o cedro, Quem me dera ser tu, por balouçar-me E vêr dos ferros meus, emfim, quebrados Eu rodeara, então, o globo inteiro; Eu dos vulcões com raios acendera Amortecidas fráguas ; Do robusto carvalho e sobro antigo Acurvaria as frontes ; Com furacões, os areiaes da Lybia Converteria em montes. Pelo fulgor da lua, lá do norte E vira prolongar-se o gelo eterno, Alli, eu solitario, eu rei da morte, E dissera - Sou livre e tenho imperio; Quem se podéra erguer, como estas vagas, E correr, e correr, troando ao longe, Mas entre membros de lodoso barro Ergue-se em vão aos céos: precipitada, Oh morte, amiga morte! é sobre as vagas, Que te invoco, pedindo-te feneçam Quebra duras prisões, que a natureza Que ella possa voar, por entre os orbes, Sobre a nau, que me estreita, a prenhe nuvem E a grossa proa, dos tufões ludibrio, Porém, não!...Dormir deixa os que me cercam 'somno do existir; Deixa-os, vãos sonhadores de esperanças |