Ella te segue, e prophetiza a sorte Nessas manchas que toldam teu semblante.
Que são ellas? talvez os restos frios D'algum antigo mundo,
Que inda referve em borbotões sombrios No teu seio profundo,
Talvez, e envôlta pouco a pouco a frente Nas cinzas sepulchraes da cada filho, Debaixo d'elles todos de repente Apagarás teu vacillante brilho.
E as sombras passarão no vasto império Que teu facho alumia ; Mas que vale de menos um psalterio
Dos orbes na harmonia ?
Outro sol, como tu, outras espheras Virão no espaço descantar seu hymno, Renovando nos sitios onde imperas Do Sol dos sóes o resplendor divino.
Gloria a seu nome! um dia meditando Outro céo mais perfeito O céo d'agora a seu altivo mando Talvez caia desfeito.
Então, mundos, estrellas, sóes brilhantes, Qual bando d'aguias na amplidão disperso, Chocando-se em destroços fumegantes,
Desabarão no fundo do universo.
Então a vida, refluindo ao seio
Parará concentrando-se no meio
D'esse infinito oceano : E, acabado por fim quanto fulgura, Apenas restarão na immensidade:
O silencio, aguardando a voz futura, O throno de Jehovah, e a eternidade!
JOSÉ DA SILVA MENDES-LEAL
LÁ vêm as naus da França !-Magestosa Cada qual traz no tope gloriosa Bandeira das tres cores!
As mesmas são que outr'ora, entre os ardores Da batalha que deu a gran-cidade, Raiaram, augurando maravilhas,
Nas rendidas ameias das bastilhas Como um iris no céo da liberdade !
As mesmas são que o mundo em alto brado Saudou c'roando o ambito inflammado, Em que um seculo novo Dos povos desherdados fez um povo ; Quando nos ais das convulsões supremas, As indefesas turbas metralhadas, Apertando as fileiras mutiladas, Armas iam forjando das algemas!
As mesmas côres são, e são amigas! Se não bastassem relações antigas,
Disse-o voz que não mente;
Que não pode mentir; porque o potente, Se dissimula, mais affronta o pejo. Esse emblema que diz? «Fraternidade. » É de França, ha-de ser da humanidade. Bem vindo pois!-Salvae, torres do Tejo!
Salvae, torres, essa gloria De tantas glorias herdeira! Guarda a tricolor bandeira Dos lises pura a memoria Nos braços da mesma fama; E os velhos falcões do Gama Podem, sem zêlos, saudar, Compassados trovejando, O pavilhão venerando
De Duquêsne e de Jean Bart!
Salvae! Tambem nós contamos Nobres datas celebradas, E ás nossas palmas passadas Recentes louros juntamos. Rôto, mas não abatido, Mostrar podemos erguido O pendão, que ondeia aos céos Estrellado da metralha... E nos fustes da batalha
De Talavera os troféos !
O mesmo facho allumia Da chamma da heroicidade Tanto a joven liberdade
Como a velha monarchia. Aqui são gémeas. Preclaros Dos laureis de Montes-Claros Brotam do Porto os laureis: Esgotou a mão da historia As joias da nossa gloria Na cr'ôa dos nossos reis.
sangue ardente e guerreiro Não desdiz dos seus passados Nos impávidos soldados Do Bussaco e do Vimeiro! Salvae, torres! E, se acaso No parapeito ja raso
O tempo os bronzes fundiu, Assestae em taes apuros No resto dos vossos muros As colubrinas de Diu.
Salva, Belem, sentinella Solitaria do Restello, Padrão glorioso e bello Da nossa edade mais bella. D'essas rendadas ameias Espreitas as velas cheias Dos galeões d'alem-mar ?
Não, que o teu vulto guerreiro
Mas o estrangeiro Ha-de inclinar-se ao passar
Ergueu-te ahi monumento O braço que o ignoto Oriente
Co'o sangue que é teu cimento. Para que a data ficasse Esculpiu-te sobre a face O rijo ferro de Ormuz,— Brasão que inda assombra as eras.- As quinas sobre as espheras
Antes que as armas perfiles Ao Franko, diz, que mysterio Te abriu de Alexandre o imperio Ganho co'as armas de Achilles ; Como viste ante as armadas Cem nações ajoelhadas
Ao português pavilhão,
Quando ia, as ondas fendendo,
Povos e mares varrendo Do Zaire além de Ceylão.
Brada-lhe niais: «Vinte frotas
Impelli com fim diverso,
Sobre os confins do Universo Traçando novas derrotas.
Quando voltavam cad'anno, Vinham dos feudos do oceano Mais ricos de cada vez,
Vergando os baixeis profundos ; E armas e dons de dois mundos Trazia o mar a meus pés.
«Os meus nautas, pondo os lares No convés das caravellas
« VorigeDoorgaan » |