Estes astros são mais bellos, É mais bello o seu fulgor...
Mas luzem no céo do exilio ; Não lhes tenho igual amor... Ai! astros da minha terra, Quem me dera o vosso alvor!
Que me importam esplendores, Prodígios que vejo aqui? Aves de vivas plumagens, Os cantos do juruty?... Se lhes faltam as bellezas Da terra onde eu nasci !
Lá, era a lua mais linda, Mais para os olhos as flôres, Mais castos os beijos dados Em mais sinceros amores; Tinham seus bosques modestos Mais inspirados cantores.
Tudo aqui veste mais galas De mais viçoso matiz !
Ai! que importa? se a saudade Ao proscripto sempre diz Que não ha terrra formosa Sem o sol do seu país.
VEM ás vezes sentar-se ao pé de mim, -A noite desce, desfolhando as rosas
Vem ter comigo, ás horas duvidosas, Uma visão, com asas de setim...
Pousa de leve a delicada mão,
-Rescende aroma a noite sossegada— Pousa a mão compassiva e perfumada Sobre o meu dolorido coração...
E diz-me essa visão compadecida, -Ha suspiros no espaço vaporoso- Diz-me: «Porque é que choras silencioso? Porque é tam erma e triste a tua vida ?
Vem comigo! Embalado nos meus braços, -Na noite funda ha um silencio santoNum sonho feito só de luz e encanto, Transporás a dormir esses espaços...
«Porque eu habito a região distante -A noite exhala uma doçura infinda- Onde ainda se crê e se ama ainda, Onde uma aurora igual brilha constante...
«Habíto ali, e tu virás comigo,
-Palpita a noite num clarão que offusca Porque eu venho de longe, em tua busca, Trazer-te paz e alivio, pobre amigo.....
Assim me fala essa visão nocturna, -No vago espaço ha vozes dolorosas- São as suas palavras carinhosas Agua correndo em crystalina urna.
Mas eu escuto-a immovel, somnolento -A noite verte um desconsolo immenso- Sinto nos membros como um chumbo denso, E mudo e tenebroso o pensamento...
Fito-a, num pasmo doloroso absorto, A noite é erma como campa enormė― Fito-a com olhos turvos de quem dorme E respondo: «Bem sabes que estou morto!»
Sepultura romantica
ALI, onde o mar quebra, num cachão Rugidor e monotono, e os ventos Erguem pelo areal os seus lamentos, Ali se ha de enterrar meu coração. Queimem-no os sóes da adusta solidão Na fornalha do estio, em dias lentos; Depois, no inverno, os sopros violentos Lhe revolvam em torno o arido chão... Até que se desfaça e, ja tornado Em impalpavel pó, seja levado. Nos turbilhões que o vento levantar...
Com suas luctas, seu cansado anceio, Seu louco amor, dissolva-se no seio D'esse infecundo, d'esse amargo mar
SONHO-ME ás vezes rei, nalguma ilha, Muito longe, nos mares do Oriente,
Onde a noite é balsamica e fulgente E a lua cheia sobre as aguas brilha... O aroma da magnolia e da baunilha Paira no ar diaphano e dormente... Lambe a orla dos bosques, vagamente, O mar com finas ondas de escumilha... E emquanto eu na varanda de marfim Me encosto, absorto num scismar sem fim, Tu, meu amor, divagas ao luar,
Do profundo jardim pelas clareiras, Ou descansas debaixo das palmeiras, Tendo aos pés um leão familiar.
EM sonho, ás vezes, se o sonhar quebranta Este meu vão soffrer, esta agonia,
Como sobe cantando a cotovia,
Para o céo a minh' alma sobe e canta. Canta a luz, a alvorada, a estrella santa, Que ao mundo traz piedosa mais um dia... Canta o enlevo das cousas, a alegria Que as penetra de amor e as alevanta... Mas, de repente, um vento humido e frio Sopra sobre o meu sonho: um calafrio Me accorda.--A noite é negra e muda: a dôr Cá vela, como d'antes, ao meu lado... Os meus cantos de luz, anjo adorado, São sonho só, e sonho o meu amor!
Transcendentalismo
JA sossega, depois de tanta lucta, Ja me descansa em paz o coração. Cahi na conta, emfim, de O bem que ao Mundo e
quanto é vão Sorte se disputa.
Penetrando, com fronte não enxuta, No sacrario do templo da illusão, Só encontrei, com dôr e confusão, Trevas e pó, uma materia bruta... Não é no vasto mundo por immenso Que elle pareça á nossa mocidade— Que a alma sacia o seu desejo intenso... Na esphera do invisivel, do intangivel, Sobre desertos, vacuo, soledade, Vôa e paira o espirito impassivel!
DISSE ao meu coração: «Oina por quantos Caminhos vãos andámos! Considera
Agora, d'esta altura fria e austera,
Os ermos que regaram nossos prantos... Pó e cinzas, onde houve flor e encantos! E noite, onde foi luz de primavera! Olha a teus pés o mundo, e desespera, Semeador de sombras e quebrantos!»
Porém o coração, feito valente Na escola da tortura repetida, E no uso do penar tornado crente,
Respondeu: «D'esta altura vejo o Amor! Viver não foi em vão, se é isto a vida, Nem foi de mais o desengano e a dôr.»
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