Estandarte, d'esperança : Oh quam bem que parecia ! O masto da fortaleza Como cristal reluzia ; A vela, com fé cosida, Todo o mundo esclarecia. A ribeira mui serena Que nenhum vento bolia!
ADORAI, montanhas,
O Deus das alturas! Tambem as verduras! Adorai, desertos
E serras floridas, O Deus dos secretos O Senhor das vidas! Ribeiras crescidas, Louvai nas alturas Deus das creaturas! Louvai, arvoredos De fruto prezado! Digam os penedos : Deus seja louvado! E louve meu gado Nestas verduras
O Deus das alturas!
18. Exhortação á guerra contra os Mouros de Azamor (1513)
OH famoso Portugal, Conhece teu bem profundo, Pois até o pólo segundo Chega o teu poder real! Avante avante, senhores, Pois que com grandes favores Todo o ceo vos favorece ! Elrei de Fez esmorece E Marrocos dá clamores.
Oh! deixai de edificar Tantas camaras dobradas, Mui pintadas e douradas, Que é gastar sem prestar. Alabardas! alabardas! Espingardas! espingardas! Não queirais ser Genoeses, Senão muito Portugueses, E morar em casas pardas!
Cobrai fama de ferozes, Não de ricos; que é p'rigosa! Dourai a patria vossa
Com mais nozes do que Avante! avante! Lisboa ! Que por todo o mundo soa Tua prospera fortuna. Fortuna t'enfuna,
Quando Roma a todas velas Conquistava toda a terra, Todas donas e donzellas Davam suas joias bellas Pera manter os da guerra. Oh pastores da Igreja, Moura a seita de Mafoma! Ajudai a tal peleja
(Que acoutados vos veja) Sem apellar para Roma.
Deveis de vender as taças Empenhar os breviairos, Fazer vasos das cabaças, E comer pão e rabaças Por vencer vossos contrairos!
Africa foi de Christãos, Mouros vo'-la tem roubada. Capitães, ponde-lh'as mãos Que vós vireis mais louçãos Com famosa nomeada! Oh senhoras portuguesas, Gastai pedras preciosas, Donas, donzellas, duquesas, Que as taes guerras e empresas São propriamente vossas !
E guerra de devação Por honra da vossa terra, Commettida com razão, Formada com descrição Contra aquella gente perra!
Fazei contas, de bugalhos, E perlas, de camarinhas, Firmaes, de cabeças d'alhos! Isto sim, senhoras minhas; E esses que tendes, dai-lhos! ·
Oh que não honram vestidos Nem mui ricos atavios, Mas os feitos nobrecidos; Não briaes d'ouro tecidos
de desvarios!
Dai-os pera capacetes. E vós, priores honrados, Reparti os priorados A suissos e soldados
Et centum pro uno accipietis.
A renda que apanhais O melhor que vós podeis, Nas igrejas não gastais ! Aos pobres pouco dais E não sei que lhe fazeis. Dai a terça do que houverdes Pera a Africa conquistar Com mais prazer que puderdes; Que quanto menos tiverdes Menos tereis que guardar.
Oh senhores cidadãos, Fidalgos e regedores,
Escutai os atambores
Com ouvidos de Cristãos ! E a gente popular
Avante! não refusar! Ponde a vida e a fazenda, Porque para tal contenda Ninguem deve recear.
Tá la la la lão ! tá la la la lão Avante! avante! Senhores! Que na guerra com razão, Anda Deus por Capitão Tá la la la lão ! tá la la la lão !
Guerra! guerra todo estado! Guerra! guerra mui cruel! Que o gran rei Dom Manuel Contra Mouros está irado. Tem promettido e jurado Dentro no seu coração Que poucos lh'escaparão. Tá la là la lão ! tá la la la lão !
Sua Alteza determina
Por acrescentar a fé Fazer da mesquita Sé Em Fez, por graça divina. Guerra! guerra mui contina É sua grande tenção! Guerra, guerra com razão. Tá la la la lão ! tá la la la lão
Este rei tam excellente, Muito bem afortunado, Tem o mundo rodeado Do Oriente ao Ponente.
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