Ficou-me só o sentir Os meus cuidados cresceram, Os pesares acordaram. Ao bem os olhos cegaram, III Como dormirão meus olhos? Toda esta noite passada, ; As horas d'ela cuidei Pássaros, que namorados 26. 27. Não ameis, que, se amais, D. FRANCISCO DE PORTUGAL, Cantiga SE alguem deseja prazer Que todo o mais ha de achar Diga-me: quem alcançou Trovas sentenciosas. (Escolhidas) I QUE grande espanto é cuidar Quam perto está de pasmar Quem ás cousas vê o fundo! É ignorancia esperar Quam prestes se determina Que maldade é afear As culpinhas veniaes! Que medo dissimular Com as vergonhas mortaes! Quem viu nunca sem seu dono Olhar outrem pola cousa? Mui vencido é do sono Quem com fadigas repousa! Que monta mais ser senhor Que o mais inferior? Quem em si tem mais primor Se deve ter por melhor. Que vo-lo dem por escrito: Que grande semsaboria É ver mundo e conhecê-lo! que se cala dizê-lo! Que má cousa é fazer trovas, Se ocupam o cuidado ? Nunca soube muitas novas Quem nenhumas tem palrado! II Muito vence quem se vence; Muito diz, quem não diz tudo: Ao que é discreto pertence A tempo fazer-se mudo. A Grande fazenda é o siso O sofrer é do prudente, A pensamentos altivos Não vi a mao fazer fruito, Nem vilão, que veio a muito, Ao bom é grande honra Trabalho é entender, Ante senhores enfada! FRANCISCO DE SÁ DE MIRANDA 28. A El Rei D. João III REI de muitos reis, Se uma hora só mal me atrevo Ocupar-vos, mal faria, E ao bem commum não teria Que em outras partes da 'sfera, Que sois vós tal que a elles sós, |