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Que, inda não é feita a lei,
Já lhe são feitas cautelas!

Então tristes das molheres !
Tristes dos orfãos coitados!
E a pobreza dos mesteres!
Que nem fallar são ousados
Diante os móres poderes,

Os quais, quem os assi quer
Quem os negocea assi,
Que fará quando os tiver?
Nossos houveram de ser;
Tomaram-n'os para si.

Ora, ja que as consciencias O tempo as levou comsigo, Venhamos ás penitencias.-Senhor, se eu vira castigo, Boas são as residencias.

Mas eu vejo ca na aldea Nos enterros abastados Muito padre que passea, Emfim, ventre e bolsa chea, Absoltos de seus peccados.

Se se hão de reconciliar Uns com os outros, tem seu trato; Basta-lhes só acenar.

Não-no fazem tam barato

Ao tempo do confissar.

Senhor, esta vossa vara, Em quais mãos anda, tal é. A boa é ave mui rara.Sabei que esta nunca é cara, Que seja muita a mercê.

Livre de toda a cobiça,
A Deus temente e a vós,
Sem respeito e sem preguiça,
Vara direita sem nós,

Se quereis que haja justiça.

Tomai, Senhor, o conselho Do bom, Gethro ao genro amigo: É verdade, é evangelho, (Como disse aquelle velho, Humilmente assi vos digo).

Que estas leis justinianas, Se não ha quem as bem reja Fóra de paixões humanas, São un campo de peleja

Com razões fracas e ufanas.——

Morre o nobre Conradino
Com o parceiro em tudo igual,
(Cada um de tal morte indino)
Pelo pesado ou malino
Doutor que interpreta mal.

Diz o texto o sangue cesse, Por batalha a guerra finda ;» Vem com grosa outro interesse;

Diz

que ande o cutelo, ainda Que em prisão certo o tivesse !

Mas, Senhor, milhor o temos,
Sendo vós o que mandais:
Todos nos revolveremos,
Os que tanto não podemos,
E aquelles que podem mais.

Quem por amor se encadea,
Não é nome errado ou novo
Se por livre se nomea.
Não tem rei amor de povo
Tanto em quanto o mar rodea,

Aqui não vemos soldados,

Aqui não soa atambor.

Outros reis os seus estados
Guardam, de armas rodeados,
Vós, rodeado de amor.

Achar-nos-hão as divinas
No meo dos corações
Entalhadas, vossas quinas !
Estas são as guarnições
De vós e dos vossos dinas.

Tem na verdade o Francês
A seu rei amor aceso ;

Não lh'o nega o Português;
Porém...traz guarda escocês,
Que não
de pouco peso

O Padre Santo assi faz,
A quem certo se devia
Alto assossego, alta paz;
Mas tem guarda todavia
Com que vai seguro e jaz!

Que se pode ir mais avance
Com quanto alcança o sentido
Sem ferro ou fogo que espante,
Com duas canas diante,
Is amado, e is temido!

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Uns sobre os outros corremos A morrer por vós com gosto. Grandes testemunhas temos, Com que mãos e com que rosto Por Deus e por vós morremos.

Outrosi para os reveses (Queira Deus que não releve!) Em vós tem os Portugueses O bom rei dos Athenieses, Codro, que outrem alguem não teve.

Do vosso nome um gram rei

Neste reino lusitano

Se pôs esta mesma lei;
Que diz o seu pelicano

Pola lei e pola grei.

Mas...eu sou d'uns guardacabras Que se vão de ponto em ponto ; Querem só duas palavras,

29.

Que dos gados, que das lavras:
Depois...não tem fim nem conto!

Assi que seja aqui fim ;
Tornem as praticas vivas..
Perdestes mea hora em mim
Dás que chamam socessivas
Estes que sabem latim.

A Vontade e a Razão
Sextina

NAO posso tornar os olhos
Onde m'os leva a razão.
Quem porá lei á vontade
Confirmada do costume-
Vontade que as suas leis
Manda defender por força ?

Isto que al é se não força
Que me fazem os meus olhos,
Quebrantadores das leis?
Brada após mim a razão!
Mas que val contra o costume
Em que está posta a vontade?

Conselhos, contra a vontade
Fracos e de pouca força,
Que não podeis do costume
Tirar uma hora estes olhos,
Tendo por vós a razão
Que faz e desfaz as leis !

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