DO INSTITUTO ARCHEOLOGICO E GEOGRAPHICO PERNAMBUCANO COMMISSÃO DE REDACÇÃO Drs. Pereira da Costa, Alfredo de Carvalho e Arthur Muniz DO Instituto Archeologico e Geographico Pernambucano Vol. XIV Março de 1909 N.° 75 A REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA de 6 de Março de 1817 ( Desde muito cedo se manifestara na provincia de Pernambuco o desejo de cortar os laços que a ligavam á metropole. Quando por seus esforços isolados os Pernambucanos conseguiram libertar-se do jugo hollandez, já existia grande animosidade contra os Portuguezes, escapando João Fernandes Vieira de ser assassinado por esse motivo. Este mesmo sentimento produzira a guerra dos Mascates em 1710. Entretanto veio dar grande incremento á ancia pela liberdade o advento da republica na França. A revolução franceza de 1789 fez extraordinaria impressão na imaginação ardente dos povos latinos, especialmente dos Brasileiros. A leitura daquelles successos empolgou-lhes os espiritos, tornando-se ella propria o seu evangelho durante quasi um seculo. (*) Transcripto do Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, de 6 de Março de 1909. Parece mesmo que alguns adoradores da liberdade não a amam tanto pelos bens que della emanam, mas pelas formas que na sua fantasia lhe emprestam. Só a reconhecem coberta de barrete phrygio, ao som da Marselheza, negando a existencia de Deus, estabelecendo o tratamento de tu e produzindo o terror. Não é extranhavel que alguns Pernambucanos illustres, contemporaneos daquelles successos, sonhassem conquistar a autonomia da Provincia por uma revolução á moda franceza, excluindo apenas o regimen do terror, do que não se lhes póde accusar nos seus actos. Alguns desses heróes elevaram-se á altura dos Romanos e se fossem bem succedidos tornariam dispensaveis a collaboração de Pedro I na nossa independencia e o glorioso dia 15 de Novembro de 1889. Querendo aproveitar a subita revolta do regimento de artilharia no Recife, alguns daquelles patriotas implantaram no paiz a republica, segundo o seu idéal. Não andaram muito acertados nessa imitação, pois a situação das colonias americanas, que, sentindo-se aptas a se governar, sacudiram o jugo da metropole, não tinha analogia alguma com a do povo francez, reagindo contra a oppressão da realeza baseada na nobreza e no clero. Onde estavam os aristocratas, contra quem gritavam? Os poucos que talvez houvesse se achavam entre os Per nambucanos. O clero pernambucano era todo democrata e foi o maior defensor da Republica. O tratamento de vós-que quizeram impôr, repugnava ao povo, habituado ás distincções; devendo-se tambem ponderar que a nossa lingua, differentemente de muitas outras, nunca o adoptou. Além disso, os patriotas commetteram varios erros, na execução da emprcza, por exemplo: não organizaram logo uma constituinte como fizeram os Americanos, interessando assim a todos pela sorte da Republica. Fizeram promoções injustas, elevando a incompetentes e entregando-lhe depois o commando de suas tropas, como se as altas patentes que lhes concediam tivessem a virtude de lhes dar a instrucção e experiencia necessarias. Conservaram quasi todas as suas tropas no Recife, onde não eram precizas, pois a cidade estava bem defendida pelas suas fortalezas. Não permittiram que o seu melhor official, pelo menos aquelle em que mais confiavam, Domingos Theotonio Jorge, fosse dirigir as operações militares ao sul da Provincia. Deviam ter um chefe no Governo, pois este compondo-se de uma junta de cinco membros, faltava-lhe unidade e presteza nas resoluções. Não souberam tirar partido do enthusiasmo dos primeiros dias da revolução, quando vieram os chefes do interior com grande numero de voluntarios, desejosos de participarem nas suas glorias. Deviam tel-os aceito, pois assim prendiam-n'os á sua sorte e não sentiriam depois a defecção dos mesmos na adversidade. Por todos esses motivos e tambem por ser prematura malogrou-se a sua tentativa, mas os seus nomes passaram á Historia, como Martyres da Republica e da Independencia. Muniz Tavares pinta a situação da Provincia como muito prospera naquella época. A abertura dos portos, consequencia da mudança forçada da Côrte de Portugal para o Brasil, deu extraordinario incremento ao commercio da Provincia, desenvolvendo-se pari passu a agricultura. Abriram-se novas estradas, construiram-se pontes, edificaram-se muitas casas. A população cresceu e formaram-se novos povoados, pelo que dividiram-se as comarcas mais extensas. A magistratura era exercida por homens competentes e probos. Pernambuco era a provincia em que mais florescia a instrucção, não sómente porque possuia um curso de Humanidades e Seminario em Olinda, graças a D. José Joaquim de Azeredo Coutinho, que havia sido Bispo e Governador da Provincia, mas porque contava grande numero de escolas publicas. |