FIDELINO DE FIGUEIREDO DO CURSO SUPERIOR DE LETRAS Os melhores sonetos da lingua portuguêsa Desde Sá de Miranda, seu introdutor em Portugal a João de Deus no seculo 19.o Com os retratos dos autores e uma carta do Dr. Candido de Figueiredo. LISBOA LIVRARIA CENTRAL de Gomes de Carvalho, editor 158-Rua da Prata - 160 1907 CALIFORNIA Meu caro Sr. Fidelino de Figueiredo: Têve o meu amigo a cativante gentileza de solicitar que eu lêsse e julgasse o seu trabalho de antologia e critica sobre os melhores sonêtos da nossa lingua. Quanto á leitura, fi-la do melhor grado e as melhores impressões me deixou; e, quanto a julgamentos, tarefa é esta, que eu declino sempre para quem ainda julgue que, na terra onde vivemos, é possivel a critica propriamente dita. Para mim, numa terra em que muito se escreve, em que pouco se lê e em que ainda menos se estuda, sobresái o dever de estimular os que proveitosamente estudam, sem pretenções a escalar Olimpos, aos ombros de benevolos e condescendentes noticiaristas; e 0 Sr. Fidelino de Figueiredo, dêsde criança e talvêz criança ainda, porque felizmente não vê por ora percorrida a estrada do homem experiente e feito, impôsse naturalmente ao meu apreço pela sinceridade inin 502557 RO VIMU CYTILÉMY terrupta dos seus esforços literários e pela evidente vontade de progredir e sêr útil. E são essas as qualidades que assinalam o manuscrito que ora lhe devolvo. Como não sou juiz, outros dirão se são incontestaveis todos os pontos de vista, sob que considera cada um dos autores dos melhores sonêtos. O que eu sei e vejo é que as anotações concomitantes da sua pequenina antologia encerram ensinamentos louváveis para a população escolar e para os estudiosos menos lidos; e que a selecção dos sonêtos obedeceu geralmente a um critério que afina pelo meu. É certo ou, pelo menos, antolha-se-me, que a selecção poderia ser mais numerosa, e que, á parte outros nomes,- o Xavier de Matos entre os antigos, e o João de Deus entre os moder nos, poderiam, sem desvantagem, acrescer á gloriosa lista dos poetas dos melhores sonêtos. Mas isto é uma anotação vaga: em tudo há mais e há menos. O que é indubitável é que este seu manuscrito constituirá um formoso florilégio, em que a utilidade prática se alia com as mais justas homenagens a gloriosos vultos da poesia nacional. Pedroiços, 1-1-07. Candido de Figueiredo. CALIFORNIA O SONETO É o soneto como uma pequenina jarrinha dum subtil lavôr e em que, portanto, só se deve dispôr uma flôr fina e rescendente como a rosa. Um soneto que envolva uma idéa banal é como uma jarra muito trabalhada, com uma margaridas ou um malmequer camponês. Todos, que começam a versejar, cultivam esta forma, encarando-a apenas como um grupo de versos, distribuida por duas quadras e dois tercetos. Dahi a multidão imensa de sonetos que a literatura portuguêsa nos mostra, especialmente a pseudo-literatura dos albuns de meninas que decóram Lamartine e se deliciam com os arroubos apaixonados da Morgadinha de Valflôr. Para muitos o soneto, é ainda hoje uma méra fórma poética, a que se molda qualquer assunto. Quantos modernamente se fazem ainda em |