éra de 70 do seculo passado Carlos von den Steinen, que prestou o bom serviço de edital-o carinhosamente. Relações immediatas com o de Marquez não existem; para admittil-as seria mister postular malicia e má fé no missionario desconhecido, que mudaria o titulo de « vocabulario cunibo» para « diccionario supibo », juntando, para desnortear, no fim de c as palavras começados por ch, ao contrario de B. Marquez que a espalhou pela letra, deslocando y da companhia melancolica de z para o aconchego de h e j, e, suprema astucia! enfileirando em y palavras que só um maragato ahi procuraria. Mais simples é acreditar nos seus dizeres : tinha diante de si um diccionario sipibo-castelhano, inverteu-o em castelhano-sipibo e conservou o outro e declarou-o: assim o livro é obra de dois autores. Inferior ao de Marquez, vale muito; seu prestimo realça-se pelo correcção typographica das palavras indigenas. Segue-se em antiguidade o trabalho de Fr. N. Armentia impresso em 1898 no Boletin de la Sociedad Geographica de La Paz. Dá que pensar o longo titulo: « Idioma Schipibo - Vocabulario del idioma Schipibo del Ucayali, que es el mismo que el Pacaguara del Beni y Madre de Dios. Este es un dialecto de la lengua Pana, que es la lengua del Huallaga, del Ucayali y de sus afluentes. » P. Autbert Groetken, na incompleta biographia de Armentia Anthropos, 2, 730/734, só menciona viajens de seu heroe na bacia do Madeira na Bolivia. Porque o arcebispo de La Paz escolheu para o titulo uma lingua do Ucayali no-Perú, aonde nunca poz os pés, do Huallaga aonde quiçá não existem Panos? Talvez a narrativa de suas expedicões esclareça o ponto não foi possivel consultal-a, por não existir nas bibliothecas publicas do Rio. : A impressão deixa muito, ou, com franqueza, deixa tudo a desejar trocas de c nor e. de n por u, de g por y, m em vez de in, linhas inteiras apagadas. O instituto boliviano pouco gentil mostrouse com seu hospede, que não pede mecas a Marquez. Como o opusculo se esgotou a ponto de ser dificilimo obter qualquer exemplar. conviria, si os originaes ainda se conservam, dar-lhe uma forma menos mesquinha. O arcebispo Fr. Nic. Armentia, geographo. ethnographo, linguista, um similar de Livingstone sul-americano, bem mereceria esta homenagem postuma. Em nitidez de impressão avantaja-se o Vocabulario castellano quechua-pano de Fr. Manuel Navarro, Lima 1903. O autor podia entender-se em pano com os indios do Ucuyali (p. 175), mas as phrases que dá no fim do volume formulou primeiro em quechua e « las personas de que nos servimos para este trabajo nos traducian literalmente las oraciones del quechua, tal como las proponiaEm outras palavras: a um cabedal mais ou menos grande juntam-se perguntas e respostas. Vê-se bem isto na formação das mos ». palavras com affixos por assim dizer sclerotisados, todo verbo reflexivo termina em nai, todo o reciproco em na-nai; em outras a retraducção é evidente, como quem vertesse « coup de pied, coup de couteau » por « golpe de pé, golpe de faca ». Não quer isto dizer que seja destituido de valor; ao contrario muitos vocabulos genuinos só elle fornece e sua grammatica é digna de apreço. O benjamin dos vocabularios é o castelhano sipibo de Fr. Agustin Alemany, Lima 1906. « Vocabulario de bolsillo », cabe pelo porte na algibeira de um missionario, é menos copioso que seus antecessores, que não aproveitou : « hasta la fecha nada se ha impreso sobre la lengua Shipiba »>, confessa no prologo. Não deve ser posto de parte, e contem vocabulos preciosos. Foi-lhe madrasta a filha de Gutenberg: porque gato del monte é Sufejuimis? Os glossarios menores estudaram Raul de la Grasserie, que sobre elles fundou a familia pana, velha conhecida dos missionarios coloniaes, ignorada até 1888 no mundo scientifico europeu ), P. Rivet e G. de Créqui-Montfort. Merecem ligeiros reparos a lista de setenta e uma palavras e expressões jaminauas, a de oitenta e tres palavras e expressões kaschinauas publicadas por Carlos von den Steinen no Globus de Braunschwig. Forneceu-as Felix Stegelmann, sem explicar o modo por que as obteve, limitando-se a falar na navegação do alto Envira e uma visita aos Tauarés, com quem se entendeu por gestos. exame mais superficial mostra differenças phoneticas, si tomarmos o rã-txa hu-ni-ku-i por termo de comparação: g, hr, 1, d medial entretanto l póde resultar do descuido de cortar l, d medial encontra-se com frequencia na lingua do Ibuaçú quando precedido de nasal; equivalentes de g e hr não existem. : Grande numero de vocabulos são totalmente diversos e toda a sagacidade de B. não bastou para penetral-os. Tambem o maior linguista, si tratasse não de semantica ou de synonymia, mas de phonetica, debalde procuraria nexo entre «grandeza, tamanho, volume ». Dos nomes de numeros dos Jaminauas dois apenas são identificaveis. e Destas palavras inteiramente diversas, seriam muito curiosas shandu e shandú, si, como parece, estivessem ligadas a xa-nô do ibuaçú. Aqui xa-nô= cunhada, avó paterna, ali shandú, shan 1) Da monographia de Raul de la Grasserie apresentada ao Congresso dos Americanistas de Berlin, da conferencia do P. Ferdinand Hestermann lida perante o Congresso dos Americanistas de Vienna, não tendo encontrado exemplares no Rio (hoje existem) obtive copias por intermedio do sr. H. e R. von Thering, director e custos do Museu Paulista, a quem sou grato. dú mulher. Sendo assim, não sai tão absolutamente verdadeira a proposição de Carlos von den Steinen contra guck ou coco de Martius de homem póde fazer-se tio, de tio não se faz homem. Não menos curioso hiaschki-buxi de Marquez, buxi de Armentia, buxi Sip-St., buschi de Navarro e Alemany: os Caxinauás do Ibuaçú usam só de hi-na. Tratando-se de vocabulo capital, este indica que os Kaschinauas e Jaminauas do Envira prendemse antes aos Indios peruanos estudados pelos missionarios. Esta primeira impressão confirma-se notando a instabilidade no accento tonico, a semivocalisação de b, mais adiantada ainda que os Indios dos missionarios, o abrandamento de t etc. Donde se conclue que estes Jamináuas e Kaschináuas pertencem a migração diversa, não subiram o Envira como os nossos, desceram-no ao contrario dos Jaminauás e Caxinauás de nosso conhecimento. Este facto reproduzse nas populações de origem europea que competem no Solimões. Desde Orellana, os Brasileiros sobem, os Castelhanos descem o grande rio e seus tributarios. O Guaporé é a unica excepção, aliás mais apparente que real. Armentia parece que dá algumas noções grammaticaes em sua narrativa de viagem: trazem-nas, com ligeiras divergencias, Groeteken, 1. c. 734, e P. Rivet no Journal des Américanistes de Paris, VII, 242 (p. 24 da separata Sur quelques dialectes panos peu connus, que devo a benevolencia do autor, a quem sou muito grato). O aflhado de Carlos von den Steinen, Navarro e Alemany occupam-se mais ou menos do assumpto: Navarro é o mais desenvolvido. Indigencia insanavel gafa a articula communicada a F. de Castelnau e por este impressa. Todos estes ensaios ficam a grande distancia da Arte de lengua comava, ainda inedita, por desgraça um fragmento apenas, de que Rud. R. Schuller extrahiu uma copia na Bibliotheca Nacional de Lima, que me permittiu examinar detidamente. Quando o conhecido americanista chegou ao Rio, em Julho de 1910, já a impressão do livro queimado ia adiantada (p. 84 lia-se a data Maio de 1910, em nota); seu fragmento não podia mais offerecer novidades; mas foi verdadeiramente agradavel achar confirmadas cer tas idéas colhidas no estudo do caxinauá. O autor anonymo trata dos sons melhor do que qualquer outro; faz sobre declinação e posposições algumas observações relevantes, estuda longamente os pronomes e termina bruscamente no principio do verbo. O latinismo domina-o (em um caso com vantagem, quando compara vi (bi) a met); mas era um sabedor de varias linguas e tinha conhecimento profundo e verdadeiro sentimento da que expunha. : O livro será impresso brevemente pelo feliz descobridor não será possivel encontrar o resto além Andes? O Dr. Schuller tem outros manuscriptos panos; parece que apanhou vocabularios no Ucayali: não os conheço. A bibliographia do grupo, que Raul de la Grasserie começou, foi enriquecida por Carlos von den Steinen na introducção do Diccionario Sipibo, e P. Rivet no escripto citado. Dos dois Caxinauás co-autores do livro, Bôrô assentou praça no Corpo de Bombeiros, já foi ferido em dois incendios, trabalhou na extincção do da Imprensa Nacional, casou, enviuvou. O assentamento de praça separou-nos, embora nos coroneis Benjamin e Abel de Aguiar, antigo e actual commandantes, tenentes-coroneis Cunha Pires e Borges Fortes, antigo e actual inspectores do Corpo, encontrasse sempre todas as facilidades e condescendencias compativeis com a ordem interna e disciplina severa que ali dominam. Depois de voltarmos do Paraiso, hoje transferido a outros proprietarios, Tuxini veio morar commigo. Esta circumstancia avolumou a sua contribuição e com ella os vocabulos e formas grammaticaes variadas, além de novas historias que enriqueceram o folklore, ou antes a fama dos Caxinauás, para empregar o admiravel termo proposto por Hüsing (Ehrenreich Allg. Mythologie, Leipzig 1910). Si em vez de dois fossem tres ou mais informantes, si em vez de dois adolescentes fossem velhos, naturalmente o aspecto de todo o livro mudaria, a mythologie superior, os conceitos cosmogenicos, as noções astronomicas assumiriam maior realce, (B. e T. não deram um só nome de estrella); as tradições historicas não appareceriam com tantos hiatos, ou antes com verdadeiros rombos, aonde apenas se apuram o diluvio á beira do rio zangado, que póde ser ou não o Oceano, a visinhança dos Incas, a separação no baixo Juruá. Si não tudo, ao menos grande parte destes thesouros poderia apanharse com paciencia, nas duas prefeituras amazonicas, deixando o indio falar sem suggestão, não querendo chegar de sopetão ás ultimas raizes. Conviria sobretudo separar as materias: estudar as linguas de cada rio ou cada moloca, registrar todas as variantes famisticas, deixar syntheses ao futuro e aos especialistas. Não sei como espalhou-se alem-mar a noção falsissima de que no Juruá não existem mais Indios: existem em grande quantidade, principalmente Panos, de varias denominações; existem os enigmaticos Corinas, que haverá cinco annos tomou sob sua protecção um dos grandes proprietarios de seringaes, coronel Hermenogildo Contreiras. Segundo informações por este prestadas, possuiam exclusivamente objectos pão metallicos, estavam no que se poderia chamar idade de fogo; entretanto já possuem o trocano,. telephone rudimentar de que a população desta cidade poude apreciar os mais variados typos colhidos entre tribus diversas, na recente exposição ethnographico de Jaramillo. Ethnographicamente, só um rio se póde comparar ao TarauacaJuruá, o Gyparaná, explorado pela commissão Rondon. Meu joven amigo, tenente Emm. S. de Amarante, que primeiro os encontrou, fala com enthusiasmo da hospitalidade franca, da intelligencia activa e perspicaz, da fartura, da riqueza dos Kep-kiri-wats, que falam a mesma lingua que os Baep-wats e Barepits, são amigos dos Nhandiri-wat, Torumbó-wat, Warapawa, e inimigos dos Guariruwat e dos Acoxus, ou biguás, nome que dão aos traiçoeiros Nhambiquaras. Semelhantes a estes na esquivança e na malevolencia para com os estrangeiros são os Bikop-wat e Pawatés, com os quaes não foi ainda possivel estabelecer communicações. Talvez a excursão Roosevelt possa colher noticias mais precisas. Voltando aos dois caxinauás. Tuxini destaca-se pelo conhecimento de nossa lingua, tão completo como si a sugasse com o leite materno; Bôrô tem instinctos de linguista: lida qualquer palavra dos missionarios, quasi sempre enunciava no mesmo instante o correspondente caxinauá, o que nunca T conseguiu. Tuxini daria detective ou reporter admiravel, porque suas faculdades de marupiára não diminuiram. Luiz Gonzaga Tuxini Sombra, como ficou chamando-se depois de baptisado (chamal-o Luiz é conquistar-lhe o coração) torna agora para a companhia do padrinho e está em vesperas de partir para o Ceará. Quanto a Bôrô, si tivesse algum valor este livro, com seu auxilio começado e sustentado sem desfallecimento, desejaria que lhe servisse de titulo de promoção a cabo ou sargento no Corpo de Bombeiros. medi Um explicação final. Tanto nossos avós como os de nossos primos do Atlantico e do Pacifico e dos sertões interiores, terraneos chamaram-nos alguns de nossos primeiros Jesuitas, encontrando arvores, animaes, formas de terreno, para os quaes não tinham correspondentes, adoptaram denominações indigenas e desassombradamente attribuiram-lhes genero e numero. Não se abriu excepção para nome de tribus e deu-se até no Brasil o facto de, depois de accrescentar s para indicar plural, considerar o termo como singular e modifical-o de novo ainda hoje diz-se Goyanases, Goytacases, já se disse Tupinambases e ainda se compram, vendem, exportam e comem ananases. Para os sabios ribeirinhos do Rheno e do Danubio isto é l'abomination de la désolation. Por ora ainda admittem que se derru |