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GE

Denney fund (Bures)

8343 02-132

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ADVERTENCI A.

A

grande reputação que Gil Vicente adquirio entre seus comtemporaneos, e a celebridade que ainda hoje seu nome goza entre os litteratos, junto á singular raridade de suas obras; parece deverião ter animado algum zeloso da nossa litteratura a emprehender uma nova edição deste nosso antigo escriptor. Tal comtudo tem sido a nossa incuria e desleixo pelas cousas patrias, que, apezar de duas vezes se ter imprimido esta obra, estavamos ameaçados de ver perecer os poucos exemplares que della ainda restavão depositados em algumas bibliotecas da Europa, sem que nos tivessemos prevenido contra a total perda do fundador do nosso Theatro nacional e de um dos restauradores do Drama moderno, como ja por indifferença nossa ou por estupida avareza de seus depositarios, deixamos vergonhosamente perder o famoso romance de Amadis de Gaula, de Vasco da Lobeira, que quasi todas as nações cultas possuem, traduzido ou imitado, excepto aquella que originalmente o produzio.

Nós bem sentimos a difficuldade que atégora teria encontrado a reimpressão de um escriptor que foi o inimigo jurado daquelles mesmos que tinhão de dispensar todas as licenças necessarias; e que a thesoura fradesco-desembargatoria havia de ser mais desapiedada do que a mesma inquisitoria que em 1586 mutilou e desfigurou o nosso poeta. Mas ainda restava o recurso de imprimir fóra do Reino, apezar das desvantagens em que, a outros respeitos, laborão os que em paizes estrangeiros tomão sobre si taes emprezas.

Movidos do amor que sempre tivemos pelas nossas cousas e desejosos de revindicar a parte da gloria que cabe á nossa Patria pelos excellentes engenhos, que illustrando-a com seus escriptos, cooperárão para a grande obra da restauração das lettras, tinhamos meditado a empreza de tirar á luz uma serie de edições de nossos classicos, quando nos veio á notícia, que nas nossas visinhanças, na rica biblioteca da Universidade de Goettingen, existia um exemplar da 1a edição das obras de Gil Vicente. Sem perda de tempo nos apresentamos naquella cidade, onde em menos de um mez tiramos uma mui fiel cópia daquelle precioso livro, sobre que ao depois fizemos a presente edição. Não passaremos em silencio os obsequios que do Dr. Antonio Menezes de Drummond recebemos, o qual, pelo seu amor das bellas lettras, nos procurou, como membro daquella Universidade, que então cursava, a faculdade de usarmos dos livros da Biblioteca, o que a estranhos é

vedado; pelo que lhe rogamos queira acceitar este público testimunho da nossa gratidão.

Das obras do nosso poeta se fizerão, como dissemos, duas edições, ambas posthumas. A primeira foi feita em Lisboa na Imprensa de João Alvares, em 1562, fol., com o titulo seguinte: Copilaçam de todalas obras de Gil Vicente, a qual se reparte em cinco livros. 0 primeiro he de todas suas obras de devaçam. O segundo as Comedias. O terceiro as Tragicomedias.

O quarto as Farças. No quinto as obras meudas. O editor foi Luiz Vicente, filho do poeta, que nos diz que seu pae as andava ordenando para as dar á estampa, quando a morte o arrebatou em meio de sua tarefa. O alvará de privilegio, comtudo, foi concedido a Paula Vicente, igualmente filha do poeta, em 1561. Esta edição impressa com caracteres gothicos, á excepção dos argumentos, que são impressos em letra romana, argue incuria e pouco esmero do impressor, não so pelos erros typographicos de que abunda, mas pela frequente falta de espaços entre as palavras, o que muitas vezes offerece serios obstaculos á intelligencia do texto. Algumas gravuras em pau que adornão esta edição, não são inteiramente destituidas de merito e de interesse para a historia desta arte entre nós. A 2a edição foi igualmente feita em Lisboa na imprensa de André Lobato, 1585, 4o com o mesmo titulo da precedente, augmentado com a ominosa observação: Vam emendadas pelo Sancto Officio, como se manda

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