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O alvo a que atirei n'este trabalho-foi o de desentranhar dos LUSIADAS as sentenças moraes e politicas, que o grande Camões lançou aqui e acolá, aprendidas na sua vasta lição, na eschola do mundo e na da adversidade, e inspiradas pelos mais generosos impulsos de um coração, que trasbordava de sentimentos nobres, ou, como hoje se diz, altamente humanitarios.

Um tão bello quadro será assás poderoso para estimular a emprehender as grandes cousas, e para fazer acordar esses antigos brios, que produzirão prodigios de dedicação á patria, e continhão o germen dos brilhantes feitos, das raras virtudes dos tempos da nossa gloria. Quando, dizem os doutos Editores das obras de Camões em Hamburgo, quando expurgados os vicios que nos ficárão da antiga prosperidade, e reformados nossos costumes na frágoa da desgraça, tiver renascido no coração de todos os Portuguezes aquelle amor da patria, que tanto distinguio nossos maiores, brilharemos outra vez nas armas, brilharemos nas letras, tornaremos a ser o que já fomos. E para isso nada póde tanto contribuir, como a contínua e reflectida lição das obras do nosso immortal Camões, que se foi grande escriptor, ainda foi melhor cidadão. (Tomo 2.o da Edição de Hamburgo das Obras de Camões, no fim da Prefação.)

¿Mas, perguntar-se-ha, não temos acaso ainda Expositores, ou Commentadores do poema immortal?

Sim, temos; e entre os muitos que existem, citarei particularmente tres;-o primeiro, o Licenciado Manoel Corrêa, o qual teve relações com o proprio Camões, e a quem este pedio que imprimisse as annotações que fizéra;-o segundo, Manoel de Faria e Sousa, cujo Commentario tem o mais amplo desenvolvimento, e explica detidamente cada uma das oitavas;—o terceiro, Ignacio Garcez Ferreira (entre os Arcades Gilmedo), o qual aproveitou o que de bom encontrou nos dous precedentes, e rectificou o que no seu conceito lhe pareceu defeituoso. He, porém, certo, que estes Expositores, e outros que omitto

por brevidade, bem como os illustres criticos modernos, propu zérão-se principalmente a fixar o texto do poema, a estabelecer a mais apurada lição;-a explicar os logares historicos, os fabulosos, os geographicos e chronologicos;-a elucidar o sentido amphibológico ou obscuro dos versos;-a fazer sentir o engenhoso do contexto do poema, as bellezas de locução, è a concorrencia das imagens poéticas de Camões com as de outros poetas;a apontar descuidos, corrigir faltas, indicar defeitos: e só por incidente, ou muito de passagem, tomárão — alguns d'elles-nota de uma ou outra sentença moral ou politica.

Vê-se pois que o meu intento não se confunde com o dos Commentadores, nem com o dos Criticos modernos; he especial, e até certo ponto, novo.

Puz todo o cuidado em não forçar o sentido que o Poeta ligou ás suas maximas; e se pela maior parte applíco estas aos tempos de hoje, vêr-se-ha que he muito natural e sem esforço a applicação que faço.

Tendo sempre á vista os Commentarios de Corrêa, de Faria e Sousa, e de Ferreira, procurei aproveitar algumas ideias e exemplos que n'elles encontrei, e fazião ao meu proposito; e por não cahir no defeito de desagradecido, citei sempre os seus nomes, e com especialidade o de Faria e Sousa, por ser aquelle que mais largamente se occupou de apreciar a parte moral dos LUSIADAS.

Para tornar mais util o ESTUDO, recorro muitas vezes a citações adequadas dos nossos Classicos, e de authores de boa nota, nacionaes e estrangeiros, antigos e modernos. Se n'este particular encontrarem os Leitores alguma demasía, peço-lhes que attendão a que pretendí supprir a falta de authoridade de minhas asserções, abrigando-as sob a protecção de nomes illus

tres.

Se algumas das sentenças e maximas, se alguns dos avisos e conselhos do nosso immortal Epico, parecêrem triviaes, e por

ventura superfluos, com relação á epocha em que vivemos, responderei com um escriptor moderno: Il est un moment où il faut rappeler certaines choses que tout le monde sait, c'est lorsque chacun les oublie. Quand cela peut être utile, il ne faut pas craindre d'avoir trop évidemment raison. Sem duvida o progresso é pasmôso, em nossos dias, no desenvolvimento industrial, no aperfeiçoamento das vias de communicação, no augmento das sciencias, etc., etc.; mas não póde sustentar-se que os progressos na ordem moral tornem dispensaveis as maximas e sentenças que recopilâmos,ainda mesmo que alguma exageração possa haver no que dizia um poéta moderno da Allemanha: Chegou o tempo em que o mundo, desviando-se do seu caminho, e despojado de todos os sentimentos de justiça e de virtude, curvando-se ao dinheiro, como á sua unica divindade, deve buscar um meio de salvação, e forcejar por descobrí-lo.

O plano que adoptei n'este ESTUDO foi o de transcrever os versos, ou as oitavas do Poéta, explicar o seu sentido, quando necessario o julguei, e apresentar depois a moralidade, com os desenvolvimentos ou exemplificações que me parecerão convenientes. Sempre que o pude fazer, procurei pôr em parallelo, umas com outras, as passagens analogas dos LuSIADAS.

Escrevo unicamente para a mocidade, que ainda tem que aprender, e a essa apresento um livro desambicioso, onde encontrará alguns principios e dictames da mais pura, elevada e esclarecida moral, deduzidos de um poema, que só de per si fôra bastante para nos tornar orgulhosos da nacionalidade portugueza.

Lisboa, Novembro de 1853.

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O valor do tempo. O grave defeito da procrastinação 37

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» 16.°

Diversidade de formulas poeticas para exprimir a

gratidão, e para desenhar os encantos da natureza

17. A gloria dos bons feitos he pura e nobre; não assim
a fama resultante dos grandes attentados ....
18. Louvar os outros; louvor em boca propria; os nosso s
historiadores forão excessivos e bombasticos nos
louvores dos portuguezes; qualidades que devem
ter os louvores...

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ESTUDO 19. Não se descuidem os paes em dar aprimorada edu

cação a seus filhos....

Veneração devida aos paes

PAG.

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O emprego da força contra as Damas he brutal, he

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A guerra; os seus horrores; votos para que os povos
The deem de mão para sempre! . . . . .

115

>>

30. Admiravel quadro da insigne e illustre descendencia
de D. João I....

121

31. Não nos enfatuêmos, nem á soberba dêmos entrada
em nosso peito, quando a inconstante Fortuna nos
sorri prasenteira..

123

>>

32. A brandura nas fallas, e a affabilidade nas manei-
ras, são mais efficazes do que as imperiosas vozes.
do mando....

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129

33. O homem corre quasi sempre atraz de enganosos
gostos, de esperanças futeis, de promessas vans . 131
34. Não temâmos a morte, nem arredêmos tão pouco as
salutares cogitações, que esse inevitavel aconteci-
mento suggére. . .

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A indifferença dos povos he fatal aos grandes feitos 143
Não pensem os grandes da terra que só com os pe-

quenos he caprichosa a Fortuna...

147

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38. He lástima que por vezes médrem mais os indignos,
do qué os homens de merecimento

149

>> 39.

Os falladores.

155

40.

O que não sollicíta os cargos, ou os recúsa, tendo

aliàs merecimento, he mil vezes preferivel aos am-
biciosos importunos

161

!

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