L Soc 3781.20 Harvard College Library DEC 11 1012 Prof. A. C. Coolidge vio De nos jours, d'ailleurs, je ne vois d'emploi plus honorable et plus agréable de la que d'écrire des choses vraies et honnêtes qui peuvent... servir, quoique dans une petite mesure, la bonne cause. TOCQUEVILLE. PROLOGO N'este tomo, o IV da Historia dos Estabelecimentos Scientificos, Litterarios e Artisticos de Portugal, continuamos as encetadas noticias relativas ao periodo de 1792 a 1826, durante o qual esteve á frente da governação de Portugal o principe D. João, depois rei com o titulo de D. João VI. Esperavamos concluir n'este tomo a exposição de todos os assumptos que, em materia de instrucção e ensino, pertencem áquelle periodo; mas não foi possivel realisar esse empenho, por quanto nos tomou grande espaço na escriptura um assumpto especial, intimamente connexo com o objecto d'esta obra, ou antes inseparavel, que era dever nosso impreterivel tratar com o possivel desenvolvimento. Alludimos aos effeitos da residencia da côrte portugueza no Brasil, acontecimento este que occorreu precisamente dentro do periodo de 1792 a 1826. O principe D. João, acompanhado de toda a familia real e de toda a côrte, deixou Portugal, em demanda de refugio no Brasil, no dia 27 de novembro de 1807; chegou á Bahia no dia 23 de janeiro de 1808; desembarcou na cidade do Rio de Janeiro aos 8 de março do mesmo anno, e ali permaneceu até ao dia 26 de abril de 1821, em que regressou á capital da monarchia portugueza. A presença do soberano, no decurso de treze annos, devia necessariamente ser parte para que mais de perto olhasse o seu governo para as necessidades e conveniencias do Brasil, e decretasse providencias, não só politicas e economicas, mas tambem as da vida intellectual dos habitantes d'aquelle vastissimo estado, que então era comprehendido ainda na generalidade administrativa das possessões do ultramar. E assim foi, por boa fortuna do Brasil. O principe e o seu governo tiveram natural e muito opportuna occasião de ver com seus proprios olhos o estado das coisas e as precisões mais urgentes; poderam descobrir os meios mais adequados para remediar o mal, para melhorar ou aperfeiçoar o bom que já existia, para lançar ao solo esperançosas sementes de futura prosperidade e engrandecimento. Mas note-se, que não pretendemos asseverar que fizeram tudo quanto estava ao seu alcance em beneficio do novo mundo portuguez. Muito mais longe podia chegar a acção benefica do poder; muito mais intensa e extensamente podia ter sido promovido o progresso omnimodo dos povoadores d'aquelle territorio immenso, que a natureza favorecera tão generosa. Mas, emfim, fez-se alguma coisa boa, e preparou-se, ou antes apressou-se a formação do imperio que hoje (e ainda bem!) vemos florescente. Exclusivamente nos interessava indagar o que o principe e o seu governo providenciaram ácerca da instrucção e do ensino; e d'essa indagação, attenta e minuciosa, nos occupámos, diligenciando tomar nota de tudo quanto se operou no sentido e para o fim de promover e animar a cultura das sciencias, das letras e das artes. Dissemos indagação attenta e minuciosa-; e na verdade, dentro dos limites dos subsidios que se nos depararam, empregámos os maiores cuidados para conseguir que não nos escapasse providencia alguma, por menos importante que parecesse, encaminhada a destinos scientificos, litterarios e artisticos. A tal ponto levámos n'este particular o nosso escrupulo, que bem póde succeder o termos dado vulto a uma ou outra circumstancia, a uma ou outra tentativa, menos merecedoras da consideração que lhes attribuimos. É possivel, por outro lado, que deixassemos no silencio algum facto, instituto, resolução, tentativa ou projecto, que devessemos ter mencionado; essa falta, porém, não é da nossa parte um desdem ou reprovação, mas sim o resultado de não termos encontrado as noticias respectivas nos diversos escriptos que tivemos presentes. A este ultimo proposito pedimos aos leitores a condescendencia de attenderem ás declarações que no texto fazemos, ao terminar o trabalho a que demos o desambicioso titulo de Aponta mentos. Em duas partes está dividida a exposição historico-litteraria que apresentamos no presente tomo. Na primeira continuamos a mencionar os estabelecimentos ou institutos do periodo de 1792 a 1826, com referencia a Portugal; a segunda é consagrada ao trabalho relativo ao Brasil, assim intitulado: Apontamentos sobre a residencia da côrte portugueza no Rio de Janeiro com referencia á instrucção publica. Na primeira parte (mantendo a costumada ordem alphabetica) damos noticia do que diz respeito a seminarios de diversa natureza, e aos assumptos correlativos; a sociedades de differentes especies nos dominios da instrucção dos povos; a um substancial resumo de providencias para promover o ensino e o progresso da agricultura; a trabalhos geodesicos. Seguia-se fallar da Universidade de Coimbra; mas, porque é largo o desenvolvimento das respectivas noticias no citado periodo de 1792 a 1826, reservámos para o tomo v essa importante especialidade, a fim de termos espaço n'este v para os Apontamentos relativos ao Brasil. Na segunda parte damos noticia das academias, archivos, aulas, bibliothecas, collegios, conferencias, cursos, ensinos, estudos, imprensa, instrucção publica, jardins botanicos, laboratorios, museus, musica, seminarios, sociedades, theatros: que no Brasil datam da época da residencia da côrte portugueza, ou que, sendo anteriores, foram melhorados ou aperfeiçoados. Não pude resistir á tentação de exarar, afinal, uma succinta resenha dos estabelecimentos scientificos, litterarios e artisticos do Brasil na actualidade, abrangendo n'esse quadro as associações da mesma natureza. Assim, não obstante o resumido e imperfeito da resenha, poderá formar-se conceito do quanto ha caminhado na carreira do progresso um paiz a que nos prendem tão estreitos e affectuosos laços. O que, todavia, lamento é não poder consagrar muito maior espaço a tão attrahente assumpto, rodeando-me aliás de elementos de informação que houvessem de tornar interessante esse trabalho. No tomo v, que já preparámos para entrar no prelo, havemos de expor, na ordem chronologica, as noticias relativas á Universidade de Coimbra no periodo de 1792 a 1826; seguindo o mesmo systema que adoptámos, a respeito d'este venerando estabelecimento, no que aos reinados de D. José e de sua augusta filha, a senhora D. Maria 1, competia. N'esta conformidade, deixaremos fallar, pela maior parte, os diplomas officiaes nas suas disposições variadas e successivas, sem prejuizo de alguns esclarecimentos ou ponderações que nos parece teem o cunho de uma certa authenticidade. As sabias Memorias que em 1872 e 1873 saíram a lume, commemorativas da reforma da Universidade de Coimbra, decretada por el-rei D. José, e effectuada pelo seu grande ministro, o |