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D. Manuel, a cujas expensas seguiu e terminou em París os seus estudos. Affirma-se que fôra nomeado primeiro Bispo para a diocese de Goa, então novamente erecta; e que estando já sagrado falecêra antes de embarcar para o seu destino em 1532. (É isto o que diz Jorge Cardoso no Agiologio tomo I, pag. 549, repetindo quasi o mesmo no tomo I, pag. 174.) Porém esta asserção, e outras que se encontram na Bibl. de Barbosa, tomo I, pag. 197 e 198, e no Catalogo dos arcebispos de Goa por D. Antonio Caetano de Sousa, carecem todas de miudo exame, e parecem insustentaveis á vista do epitaphio de D. Francisco de Mello, que não faz menção de tal dignidade; a não ser que elle a tivesse declinado, como alguem pretende. O beneficiado Leitão Ferreira nas Noticias Chronologicas da Univ. quer tambem que elle fosse Reitor da Universidade, ainda então em Lisboa, por quatro annos successivos desde 1529. O que parece não admittir duvida, é que fôra natural de Lisboa, filho de Manuel de Mello e de D. Brites da Silva, e nascido em 1490; e que se finára em Evora a 27 de Abril de 1536.

Ácerca da sua vida e escriptos coordenou Antonio Ribeiro dos Sanctos uma Memoria, que vem nas de Litteratura da Acad. R. das Sciencias, tomo ví, pag. 237 a 249; mas apezar das diligentes investigações do douto academico, parece-me que ficaram ainda para conciliar e remover algumas graves difficuldades, cuja enumeração não é por agora do meu proposito. N'esta Memoria se dá ampla e miuda descripção de um precioso codice manuscripto, que comprehende varios tractados mathematicos de D. Francisco de Mello, em latim, o qual existe na Bibl. Nacional de Lisboa. Devem comtudo conferir-se essas noticias com as que a respeito do mesmo codice se lêem no Ensaio historico sobre as Mathematicas em Portugal, por Stockler, de pag. 123 a 128.

O P. José Caetano de Almeida, bibliothecario d'elrei D. João V, do qual tenho já por vezes feito menção n'este Diccionario, diz que possuira em tempo um volume manuscripto no qual se achavam colligidos varios discursos, e pequenos opusculos de D. Francisco de Mello. Este volume ficou, como tantos outros, reduzido a cinzas no incendio subsequente ao terremoto de 1755; resta porém o indice do que n'elle se comprehendia, e como objecto de curiosidade aqui o transcreverei, servindo egualmente para addicionar á Bibl. de Barbosa a noticia d'estas obras, na parte em que escaparam ao conhecimento do nosso eruditissimo abbade. Eis-aqui os titulos com a propria orthographia:

Oração que fez sendo fidalguo da Casa delRei D. João 3.o, quando tomou o capello Cardinalicio em a capella de Almeirim o Infante D. Affonso aos 27 de Abril de 1526.

Prologuo para o Infante D. Henrique sobre a tralação da carta de Marquo Tullio, que por seu mandado fez.

Carta de Marquo Tulio Cicerão para Quinto Cicerão seu irmão, Governador da provincia da Asia Menor.

1525.

Carta que escreveo a um Religioso per roquo doutro.

Oração que recitou nas Cortes de Torres Novas em 29 de Septembro de

Proposição ao Synodo de Evora aos 28 de Maio de 1534, por ordem do Cardeal Infante D. Affonso.

Oração que recitou sendo Conselheiro del Rei em 13 de Junho de 1535 nas Cortes de Evora. (D'esta faz menção Barbosa, e eu conservo copia d'ella em um livro de Cartas, a que por vezes tenho já alludido n'este Diccionario, v. g. no tomo п, n.o F, 153 in fin.)

Outra oração nas ditas Cortes em 20 do referido mes.

Oração no acto do juramento do Principe D. Manoel em 24 do sobredito mes e anno nas mesmas Cortes de Evora.

De todas as obras indicadas não consta que alguma visse até agora a

luz publica pelo beneficio do prelo. Unicamente sei, que se imprimiu a se-
guinte, hoje rarissima:

1501) (C) Fala que fez Frãcisco de Melo nas Cortes del Rey dom João
o terceyro na villa de Torres nouas a xix de Setembro. Anno de M. D. XXV.
dia de São Miguel na ygreja de sam Pedro.

Barbosa e o pseudo Catalogo da Academia indicam esta Fala por modo
que parece dar a entender que ella se imprimira em separado. Ha porém
n'isto inexactidão, pois (como já disse no tomo II, n.o 138) esta, e outras
Orações e Respostas feitas em diversas côrtes andam todas em um só e
unico folheto, cuja descripção integral se póde ver na Bibliogr. Hist. do sr.
Figaniere, n. 186.

FRANCISCO DE MELLO FRANCO, Bacharel formado em Medicina
pela Universidade de Coimbra, Medico honorario da camara d'elrei D. João
VI, Socio da Academia Real das Sciencias de Lisboa, etc.-N. em Piracatu,
na provincia de Minas-geraes, imperio do Brasil, aos 17 de Septembro de
1757. Tendo feito os primeiros estudos no seminario de S. Joaquim do Rio
de Janeiro, veiu para Portugal, onde concluiu os preparatorios, matricu-
lando-se depois na faculdade de Medicina. Accusado (ao que parece calum-
niosamente) de seguir idéas irreligiosas, foi lançado nos carceres da Inqui-
sição, e ahi jazeu por alguns annos, sendo a final posto em liberdade. Voltou
então a concluir os seus estudos, e recebido o grau, estabeleceu-se em Lis-
boa, e n'esta capital exerceu por muitos annos a sua profissão com grande
credito e proveito. Em 1817 foi por ordem d'elrei D. João VI chamado para
acompanhar ao Brasil a archiduqueza D. Maria Leopoldina, destinada es-
posa do Principe Real. Não encontrou porém na côrte o acolhimento que
era de esperar, chegando a ser-lhe vedada a entrada no paço, onde os re-
centes acontecimentos de Pernambuco traziam os animos convulsos e irri-
tados contra as doutrinas liberaes, a que Mello Franco era reconhecida-
mente affeiçoado. Perdida toda a sua fortuna, pela quebra fraudulenta de
um negociante, em cujas mãos puzera o producto das suas economias e dos
bens, que antecipadamente havia vendido em Portugal, viu desapparecer
d'esta sorte os seus recursos, e o patrimonio de seus filhos. Quebrantado
de animo com estes desgostos, e extranhando talvez a mudança do clima, sen-
tiu-se atacado de uma febre consumptiva, a cujos progressos se oppozeram
debalde os soccorros da sciencia. Voltando de uma digressão que fizera á pro-
vincia de S. Paulo, no intento de procurar algum allivio em sua enfermi-
dade, ao chegar á altura de Ubatuba, conheceu ser chegado o seu ultimo
termo. Pediu que o transportassem de bordo para terra, e ali acabou a 22 de
Julho de 1823, debaixo de uma palhoça.-Vej. o Elogio historico, que á sua
memoria dedicou o sr. dr. J. M. da Cruz Jubim, transcripto resumida-
mente na Revista trimensal do Instituto do Brasil, tomo v, pag. 345.-E.

1502) O Reino da Estupidez: poema heroi-comico em quatro cantos.
Paris, 1819. 18.o-Nova edição correcta: Ibi, na Offic. de A. Bobée 1821.
18.o de x-62 pag.-Nova edição: Lisboa, na Imp. de João Nunes Esteves
1833. 16. E ultimamente, na Collecção dos Satyricos Portuguezes, que
fórma o tomo vi do Parnaso Lusitano, impresso em Paris, 1834. 32.9-Anda
em todas as referidas edições sem o nome do auctor.

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Este poema (em que se diz tivera tambem parte José Bonifacio de An-
drade e Silva, patricio e contemporaneo de Mello Franco) foi composto em
Coimbra pelos annos de 1785, sendo então reformador reitor o Principal
Mendonça, que nos principios do anno seguinte foi substituido pelo Prin-
cipal Castro. Os verdadeiros auctores tiveram arte para occultar-se por tal
modo, que ninguem d'elles desconfiou, entretanto que outros totalmente in-
nocentes no caso soffreram toda a especie de desgostos, e até perseguições
officiaes, promovidas pelo despeito do corpo cathedratico, que se julgou al-

1504) Elementos de Hygiene, ou dictames theoricos e praticos para con-

servar a saude e prolongar a vida. Publicados por ordem da Acad. R. das

Sciencias. Ibi, na mesma Typ. 1813. 4.°— Segunda edição, ibi.... Terceira

edição (revista, augmentada e correcta pelo auctor). Ibi, 1823. 4.o de XIII-

354 pag.

1505) Ensaio sobre as febres, com observações analyticas ácerca da to-

pographia e clima do Rio de Janeiro. Publicado pela mesma Acad. Ibi, 1829.
4.° de vi-205 pag.

1506) Discurso recitado em sessão publica da Academia R. das Scien-
cias, sendo Vice-secretario.-No tomo v, parte 1 das Mem. da Acad. fol.

Conforme a opinião de alguns, são tambem de Mello Franco os opus-
culos publicados anonymos em 1787 com os titulos de Respostas av Filo-
sofo Solitario. (V. n'este Diccionario, tomo II, n.os C, 288 e 289).

Diz-se que deixára manuscriptas varias poesias, e entre ellas umas que

se intitulam Noutes sem somno, as quaes se conservam talvez em poder dos

seus parentes.

FRANCISCO DE MELLO E TORRES, 1.° Conde da Ponte, e 1.o

Marquez de Sande, Commendador da Ordem de Christo, General da Arti-

lheria, e Embaixador extraordinario ás côrtes de Londres e París, nas quaes

tractou os casamentos da infante D. Catharina de Portugal com Carlos II de

Inglaterra, e da princeza D. Maria Francisca Isabel de Saboya com D. Af-

fonso VI, etc. etc.-Foi natural de Lisboa, e faleceu a 7 de Dezembro de

1667, morto por engano, ao tempo em que se recolhia para sua casa, se-

gundo referem alguns historiadores. Não menos versado nas sciencias ma-

thematicas, que nas da politica e diplomacia, deixou em umas e outras pro-

vas de sua erudição, nas obras que compoz, e que infelizmente nunca vie-

ram á luz publica. Eis-aqui os titulos de algumas, conforme refere Bar-

bosa:

1507) Introducção geographica: 3 tomos de 4.-0 primeiro contém

a essencia da sphera; o segundo os principios geographicos; o terceiro
questões geographicas, com um compendio mathematico. Dedicado a D. Fran-
cisco Barreto, bispo do Algarve, em o anno de 1638.-0 sr. dr. J. C. Ay-
res de Campos me communicou ter em seu poder uma copia do Compendio
mathematico, a qual com outros manuscriptos comprára ha poucos annos em
Coimbra, e fórma um pequeno volume de 4.0, de 33 folhas numeradas só-
mente no recto, com frontispicio tarjado á penna.

1508) Astronomia moderna, escripta em o anno de 1637. Fol.

Inutilmente tenho procurado a noticia d'estas duas obras e do seu auctor nas Memorias historicas ácerca de Mathematicos portuguezes, por A. Ribeiro dos Sanctos, insertas no tomo VIII das de Litt. da Acad. R. das Sciencias; veja-se porém o Ensaio historico sobre as Mathematicas em Portugal, por Stockler, a pag. 52.

1509) Summa política, tirada de varios auctores, e dedicada ao principe D. Filippe. Em 8.°

1510) Negociações das suas embaixadas. Fol. 8 tomos. Collecção, que no sentir de Barbosa é digna de grande estimação, e havida pela melhor que se tem feito no seu genero.

1511) Relação da fórma com que a magestade d'elrei da Gran-Bretanha manifestou a seus reinos tinha ajustado o seu casamento com a serenissima infanta de Portugal D. Catharina. Lishoa, na Offic. Craesbeeckiana 1661. 4. de 16 pag.-Este opusculo, formado, como diz Barbosa, das cartas que D. Francisco de Mello escrevera durante a sua embaixada em Londres, é qualificado de muito raro no catalogo da livraria de Lord Stuart, que d'elle tinha um exemplar, descripto no mesmo catalogo sob n.o 3090. Outro se conserva na Bibl. Nacional de Lisboa, e eu possuo tambem um, posto que mui deteriorado.-Foi reimpresso nas Provas da Hist. Genealogica da Casa Real, tomo Iv, liv. 7.o n.o 37.

FRANCISCO DE MELLO DE VASCONCELLOS E LIMA, natural (segundo me dizem) da villa de Setubal, posto que não haja mais precisas indicações de suas circumstancias pessoaes.-E.

1512) Discurso preliminar á Mathematica: por occasião da abertura da aula desta sciencia, que hoje serve de instrucção aos ordinandos do bispado de Beja. Lisboa, na Reg. Offic. Typ. 1792. 4.o de 53 pag.-Vi um exemplar na livraria do extincto convento de Jesus.

P. FRANCISCO DE MENDONÇA, Jesuita, Doutor em Theologia pela Universidade de Evora, e Procurador geral da sua ordem em Roma. Foi natural de Lisboa, e chamou-se no seculo D. Francisco da Costa, sendo filho de D. Alvaro da Costa, Armeiro-mór d'elrei D. Sebastião. N. em 1573, professou o instituto de S. Ignacio aos 14 annos de edade, contra vontade da sua familia, e m. em Leão de França no de 1826, quando contava 53 de edade.-E. e se publicaram posthumas por diligencia de differentes edi

tores:

1513) (C) Primeira parte dos Sermões do P. Francisco de Mendonça... N'ella se contém os sermões dos sanctos tempos do advento, quaresma e outras domingas do anno, e da sancta cruzada. Lisboa, por Mathias Rodrigues 1632. fol. De folhas 1 até 18 é numerado só no recto das paginas; d'ahi até 552 são numeradas por ambas as faces. Com indice no fim sem numeração.

1514) (C) Segunda parte dos Sermões etc. Contém sermões da eucharistia, da Virgem mãe de Deus, dos patriarchas das religiões, e outros muitos sanctos e sanctas; dos dejuntos, e varios outros. Lisboa, por Lourenço d'Anvers 1639. fol. de XLIV-401 pag., afóra os indices finaes.

O preço d'estes volumes, que não são vulgares, regula, segundo creio, de 1:440 até 2:400 réis. O exemplar que possuo custou-me todavia muito menos, por ter sido comprado conjunctamente com muitas cutras obras no espolio do advogado Rego Abranches.

Na segunda parte referida acham-se incluidos quatro Sermões, que já haviam sido impressos em separado em vida do auctor, e que Barbosa e o chamado Catalogo da Academia mencionam tambem separadamente. D'elles apontarei os seguintes, por pertencerem á collecção especial dos Autos da fé:

1515) (C) Sermão no Auto publico da fé, que se celebrou na praça da cidade d'Evora em 8 de Junho de 1616. Evora, por Francisco Simões 1616. 4. Ha uma contrafação com a mesma data, e identicas declarações, feita pelo meiado do seculo XVIII.

1516) (C) Sermão do Auto da fé em Coimbra a 25 de Novembro de 1618. Coimbra, por Diogo Gomes Loureiro 1619.-Lisboa, por Pedro Craesbeeck 1619. 4.°

Ambos os volumes d'estes Sermões foram traduzidos em castelhano por Fr. Francisco Palau, e se imprimiram, conforme o testemunho de Barbosa: o que é boa prova da sua acceitação. E com effeito, o P. Mendonça na opinião de alguns criticos doutos, e imparciaes, foi não só um dos mais benemeritos cultores da lingua portugueza, mas ainda um dos melhores exemplares entre nós da eloquencia christã. Nos seus discursos se encontra além da solidez e elevação da doutrina, estylo puro, claro, energico, e numeroso; imagens brilhantes, e sempre naturaes, elocução selecta, conveniente e harmoniosa: o que tudo, sobre lhes merecer um distincto logar entre os nossos escriptores mais elegantes, os collocam no numero d'aquelles em que se acham com dignidade desempenhadas as difficeis obrigações do ministerio do pulpito.

Não falta quem affirme que este prégador fôra o primeiro que introduzira os conceitos nos sermões, passando este gosto e estylo (de que depois tanto se abusou) para os prégadores de Hespanha e Italia. Vej. à Conversação familiar é Exame critico etc. pelo P. Severino de S. Modesto (pseudonymo) a pag. 133.-José Agostinho de Macedo reproduziu tambem a mesma affirmativa no Motim Litterario, tomo 1, pag. 106 da edição de 1811.

FRANCISCO MILLIS DE MACEDO, Bacharel em Direito Civil pela Universidade de Coimbra, e Advogado em Lisboa sua patria.-N. em 1650, e m. a 24 de Dezembro de 1721.-E.

1517) Allegação de direito sobre a successão da Casa d'Aveiro, que vaga por falecimento de D. Maria Guadalupe de Lencastre, a favor de D. Pedro de Lencastre, conde de Villa nova, contra o Marquez Mordomo-mór, o Duque de Banhos, e D. Lourenço de Lencastre, etc. Lisboa, por José Lopes Ferreira 1719. fol.

FR. FRANCISCO DE MONFORTE, escriptor (quanto a mim supposto) cujo nome debalde se procura na Bibl. Lusitana.-Apparecem por vezes no mercado, e existem na Bibl. Nacional, na do convento de Jesus, etc. certos volumes de folio, em cujos rostos se lê o titulo seguinte:

1518) Espelho de penitentes e chronica das vidas dos sanctos, em que se manifestam as vidas de muitos varões de abalisadas virtudes, e outros que pelas verdades da fé catholica sacrificaram as vidas; aonde se mostram as fundações de algumas provincias, que floreceram em sanctidade, por seu auctor Fr. Francisco de Monforte, religioso menor. Lisboa, na Offic. do doutor Manuel Alvares Solano 1754. fol.

Examinando-se porém o conteudo n'estes volumes, depara-se com uma insolita e grosseira contrafação; porque uns são exemplares do segundo tomo da Chronica da provincia d'Arrabida por Fr. José de Jesus Maria, outros o são da Chronica da provincia da Piedade por Fr. Manuel de Monforte, da edição de 1751; tendo-se arrancado a uns e outros os respectivos frontispicios, para substituil-os pelo que se acaba de descrever acima. Qual fosse a origem precisa d'esta especulação, que tem todo o caracter de fraudulenta, não o saberei dizer; mas entendo que devo registar aqui o facto (a que tambem o sr. Figaniere alludiu de passagem no n.o 4310 da Bibl. Hist.) para ficarem prevenidos os que encontrarem taes exemplares, não

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