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Nota 86.--pag. 456

D. Constantino de Bragança foi nomeado por El-Rei D. Sebastião para fazer o recebimento do Cardeal Alexandrino, sobrinho do Papa, quando veiù a Portugal no anno de 1572; o Cardeal pertencêra á Ordem de S. Domingos.

Por D. Constantino, a quem o Poeta era muito aceito, ou pelos padres de S. Domingos da intimidade do Poeta, seria sem duvida apresentado ao Cardeal, principalmente no momento em que publicava o seu Poema, e era o Poeta um dos brazões de maior gloria nacional que se podia apresentar com ufania a um estrangeiro.

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Esta noticia vem narrada na Academia dos Singulares de Lisboa por esta fórma: Por essas reliquias, cinzas ou ossos que temos em Sant'Anna, davam os venezianos ao Senado de Lisboa vinte e quatro mil crusados para ajuntarem ao seu este maior thesouro. Mas elles como divinos não fizeram caso de bens caducos. Academia dos Singulares de Lisboa. Academia nona: em 23 de Dezembro de 1663 Tomo 1, pag. 142 (edição de 1692).

Nota 88. -pag. 136

Não póde duvidar-se que a elegia de Fernando Herrera, que termina:

El rico Tejo vuestro conocido

Será por vos, adonde riega el Indo

I el collado de Cintra, esclarecido

Com tal onra, será otro nuevo Pindo.

a qual parece uma resposta a versos de Camões, em que se queixava dos seus infortunios, é dirigida ao nosso Poeta; a comparação que faz com Homero, Virgilio, Petrarcha e Garcilasso, só póde dar-se ao poeta que em outra occasião chamou Divino: de mais não consta que o Poeta hespanhol elogiasse outro portuguez; parece ser escripta proxima á partida de Camões para a India, porque se refere a esta parte das possessões portuguezas como theatro da sua fama. Vejam-se algumas obras de Fernando Herrera, etc. Sevilha em casa de André Piscioni. Anno 1582. Será a esta elegia que o Poeta allude n'aquelle seu verso

O Bethys me oiça, etc.

pois parece-me que não pode referir-se á traducção de Bento Caldeira, que saiu no anno da sua morte, embora o Poeta tivesse conhecimento d'ella; pois à poesia onde se encontra este verso do nosso Poeta foi escripta antes da sua partida para a India é em vida da amante.

Nota 89. pag. 157

Allude-se a esta correspondencia na Biographia de Vilhegas que acompanha a edição das obras do nosso Poeta de 1632. Nas obras impressas do auctor hespanhol não encontrámos cousa alguma relativa a Camões; fizemos indagar em Madrid se existiriam algumas obras manuscriptas do Conde, mas não se encontraram. A noticia da interessante carta onde o Tasso se dirigia ao nosso Poeta a devemos ao escriptor portuguez, nosso contemporaneo, Pato Moniz, tão celebre pelas suas polemicas com o padre José Agostinho de Macedo.

Nota 90-pag. 158

Representava-se uma farça com este titulo: Arlequin Defenseur d'Homere. Nesta farça tirava com todo o respeito a Iliada de uma caixa, pegava pela barba

aos actores e actrizes, e fazia-lh'a beijar em reparação de todas as injurias vomitadas contra Homero. Appareceu tambem uma estampa, na qual se via um burro roendo a Iliada, e por baixo este verso satyrico contra a traducção de La Mothe que tinha refundido a Iliada em doze cantos:

Douze livres mangés et douze estropiés, etc.

Nota 91. pag. 458

O resentimento que a Academia da Crusca nutriu contra o Tasso, por causa de uma memoria que appareceu na edição das suas obras, na qual o Poeta, por bôca de seu pae, fazia dizer cousas injuriosas contra os florentinos, rompeu de uma maneira tempestuosa na injusta critica contra o seu Poema: todavia quando o Tasso, depois de resgatada a sua liberdade, foi attrahido a Florença pelo Grão Duque Fernando, empregando para isso mesmo a auctoridade do Papa; por occasião d'esta jornada os Academicos da Crusca para repararem a injustiça que The haviam feito, lhe fizeram tão grandes honras e o exaltaram com tantos louvores, quanto n'outro tempo o tinham insultado com vituperios. Entre as muitas criticas que appareceram no momento da publicação da Gerusalemme, publicadas pelos apaixonados do Ariosto, torna-se notavel a do celebre Galileo, que saíu á luz (posthuma) no anno de 1793 com este titulo: Considerazioni al Tasso de Galileo Galilei, etc. Venetia, 1793, in-12.° Ao mesmo tempo que estes fogosos partidarios do Ariosto derramavam tanto fel nas suas diatribes e criticas contra o pobre Tasso, era elle o primeiro admirador do Poeta de Ferrara, como com as expressões mais modestas elle se expressava em uma carta dirigida ao sobrinho do mesmo Ariosto, Horacio Ariosto, recusando a coroa com que este o queria coroar como primeiro Poeta da Italia, em prejuizo da fama de seu tio, coroa que tão bem assentava sobre a cabeça do Homero de Ferrara, e que jamais se lembrou de despojar das suas folhas e flores, não obstante confessar que o desejo de ganhar uma que se approximasse, ou que ao menos conservasse por muito tempo a sua verdura, sem receiar os gelos da morte, lhe houvera feito passar muitas vigilias.

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Milton teve criticos ao seu Poema, entre os quaes se distinguiu Guilherme Lauder, que pretendeu mostrar que elle era um composto de plagiatos. Os ultimos dias de Milton foram passados em indigencia, ao ponto de não ter para pagar a um copista que copiasse o seu Poema, o qual foi copiado por amigos que alternadamente se prestaram a este serviço. Quando saíu pela primeira vez á luz, não lhe deram o menor apreço, e foi só então que os seus compatriotas o souberam avaliar, quando Lord Somers e o Bispo de Rochester, pela nitida edição que publicaram do seu Poema, e o celebre Adisson pela interessante Dissertação sobre o dito, lhes fizeram ver que a Inglaterra possuia um dos mais bellos Poemas Epicos.

Nota 93. pag. 159

Quando saiu o Cid de Corneille o accusaram de plagiario, e o celebre Cardeal de Richelieu capitaneava esta vergonhosa caballa: Corneille respondeu como se deve sempre responder a estes zangãos da republica das lettras, com o Pompeu, Horacio, Cinna e Polyeucte.

Nota 94. pag. 159

Faria e Sousa diz que Sá de Miranda mofava do Poeta com palavras e acções; não sei onde o Commentador achou esta noticia. Sá de Miranda, lisonjeado por todos os poetas do seu tempo, devia-lhe necessariamente custar descer do alto logar onde o tinham enthronisado, para ceder o passo a um poeta mancebo, que eclypsava os seus contemporaneos, e o mesmo devia acontecer aos outros poetas; porém nas obras de Sá de Miranda, é forçoso confessar, não se encontra refe

rencia alguma hostil ao nosso Poeta, o que me parece que não aconteceu nas dos outros seus collegas.

Bernardes é verdade que escreveu o soneto que começa:

Quem louvará a Camões que elle não seja, etc.

mas pelo primeiro verso d'este mesmo soneto parece que elle foi convidado a escreve-lo, provavelmente por D. Gonçalo Coutinho, pois no mesmo soneto é elogiado este fidalgo. A opinião ou antes a accusação que se fazia ao poeta do Lima de usurpar algumas poesias ao nosso Poeta, não o devia tornar muito seu amigo; nas oitavas a Santa Ursula, no soneto dedicado á Infanta D. Maria, se compara com Virgilio a quem furtaram os versos, dizendo que lhe roubára um vil engano a honra de fazer estas oitavas, e se roubadas e mal limadas foram tão aceitas, agora melhoradas mereçam a protecção de tão alta Princeza. É notavel que este soneto, sendo escripto no anno de 1594, não appareça em nenhuma collecção das suas poesias. A rivalidade que pretendem havia entre os dois poetas pela preferencia que se fez d'este, com prejuizo de Camões, para acompanhar El-Rei D. Sebastião á Africa, não tem logar como já mostrámos; mesmo a nomeação de Bernardes para pagem da toalha, foi muito anterior à expedição. Ha contudo quem queira que os dois poetas eram amigos, e que o do Lima quizera ser enterrado ou o enterraram junto ao seu amigo Luiz de Camões, e o fôra no anno de 1596. em que pretendem fallecêra; se o foi, não foi certamente n'este anno, porque ainda era vivo, como mostraremos na sua Biographia, e a verdade é que o seu nome não apparece nos livros de obitos da freguezia da Pena que percorremos. É desagradavel confessar, porém não podemos deixar de o fazer, que encontrámos nas obras d'este Poeta referencias a Camões pouco lisonjeiras e repassadas de pouca affeição. Na Carta Iv escripta a D. João de Castello-branco, estando fronteiro em Ceuta, ha uma carapuça adrede talhada para Camões:

Trate quem mais quizer feitos alheios,
Diga mal, diga bem, falle à vontade,
Use palavras novas, novos meios.
Não cure de razão, nem de verdade
Em tudo contentando a vulgar gente,
Enchendo peitos vãos de vaidade,
Ey-lo Poeta logo, ey-lo excellente,
Idolo do pequeno e mais do grande,

Sofrei se chamo grande a quem mal sente.

Na carta vin, escripta a Pero de Lemos, em que propõe ao dito que cante os engenhos poeticos mais illustres das Musas portuguezas, o nome de Camões não é nomeado. Esta carta devia ser escripta entre o anno de 1558, em que fallecen Sá de Miranda, a cuja morte se allude n'esta composição, e antes de 1569 em que fallecen Ferreira de quem se faz menção. Os Poetas que se nomeiam n'esta carta são: Så de Menezes, Ferreira, Castilho, os dois Andrades (Pedro e Francisco), Silva, Silveira (Miguel da) e D. Manuel de Portugal, e entre todos estes lumes das letras portuguesas, não coube um pequeno cantinho para aquelle, que apesar de não ter ainda publicado o seu immortal Poema epico, já era o rival de Pétrarcha na poesia lyrica; muito póde a inyeja!

Na carta XXVII ao Conde de Monsanto, em que faz menção dos principaes auctores antigos e italianos, Petrarcha, Sanasaro è Torquato Tasso, preferiu não fazer menção dos Poetas nacionaes, por conhecer que seria cousa reprehensivel, escrevendo esta carta depois do ano de 1581 e da publicação dos Lusiadas, o omittir o nome de Camões.

Dos nossos deixo alguns dignos de gloria, ete.

Na carta xxx dirigida a Gaspar de Sousa, sobrinho do celebre D. Christovão

de Moura, promette fazer um Cancioneiro dos poetas portuguezes mais insignes: era curioso ver se excluia o nosso Poeta.

Passemos agora a Ferreira; na egloga 1, cujo theatro é Coimbra, louva elle um novo poeta, cujos versos são lidos por Sá de Miranda, e deprime outro que, pela descripção, é o mesmo a quem se refere Bernardes, é que todos louvavam.

Pastores coroay, que vai crescendo,
Este novo poeta de hera e flores,
E Magalio de inveja estê morrendo
Que a todos para si rouba os louvores.

Será este Magalio o nosso Camões? Esta egloga é escripta antes do anno de 1557. Vide a carta vin a Pedro de Andrade.

Nota 95.pag. 160

São nem mais nem menos uma novena de epigrammas desde 140 até 148 inclusive. Ou eu me engano muito, ou estes epigrammas têem allusão a versos de Camões, por exemplo o epigramma 145:

Dizes que o bom Poeta hade ter furia, etc.

Não terá isto.relação com estes versos de Camões :

Dai-me huma furia grande e sonorosa, etc.

Epigramma 141:

Que na doudice só consiste o siso, etc.

De não serem teus versos caballinos
E parecerem versos de cavallo.

Não terá isto alguma analogia com este verso de Camões:

Posso escusar a fonte caballina, etc.

As outras arguições são nem mais nem menos, de não saber a medida do verso. não se sujeitar ás leis dos outros Poetas, emfim não lhe concede que seja, nem Poeta, nem douto, e o que é mais, nem mancebo. Tal era a censura severa que o archi-poeta Pedro de Andrade Caminha fazia ao poetastro Luiz de Camões. A pouca affeição de Caminha pelo Poeta póde explicar-se com alguma probabilidade; elle era creado da casa do Infante D. Duarte, de quem era muito valido, e onde exercia o logar de Mordomo mór D. Antonio de Lima, pae de D. Catharina de Athaide; a amisade para com este faria com que elle partilhasse o resentimento do pae da dama. Estas relações existiam, e elle fez o epitaphio d'esta senhora, que é um dos seus mais felizes, e no qual ha a singularidade da analogia de um verso de um soneto de Camões ao mesmo assumpto:

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É evidente que existia uma caballa contra o Poeta; alein do silencio dos poetas contemporaneos, alguns escreveram expressamente criticas, como foi D. Francisco Rolim, Senhor da Azambuja, Manuel do Valle de Moura e outros. D'estes criticos nos dá noticia Fernão Alvares do Oriente na Prosa x da Lusitania Trans

formada, por esta fórma: Muitas estatuas estavam pelas columnas do templo alevantadas, mas consumidas de maneira que quasi se não deixavam conhecer, nem ainda ler os letreiros que declaravam cujas fossem. Mas entre todas a estatua do Principe da nossa idade, que cantou a larga navegação dos Lusitanos, a qual se devisava das outras com este letreiro: Principe dos Poetas, titulo que d'aqui parece trasladou á sua sepultura um peito illustre e generoso; estava só com toda a sua perfeição com que seu esculptor ali a posera de principio; comquanto um esquadrão de Bavios e Zoilos, que lhes ficavam aos pés, com muitos tiros pretendiam damnifica-la. Fernão Alvares do Oriente era amigo do Poeta e seu camarada nas expedições militares. Diogo do Couto repetidas vezes faz menção d'elle nas suas Decadas, de uma maneira sempre honrosa.

Da sua amisade e admiração por Camões apparecem muitos logares na obra do poeta do Oriente:

Ao Tejo em quanto teve o brando Almeno,

No que claro parece que Sireno

E o meu amado Almeno já morrerão

Com quem os tempos erão diversos, etc.

Os Lusiadas lia ou os Eneidas, etc.

Desta mudança de que já cantarão
Frondelio la no Tejo Umbrano outr'ora
Quando de seu Thionio celebrarão

Exequias que ainda entoa o echo agora, etc.

Nunca despresará por certo a rima

Quem vê quanto enriquece Almeno o Tejo,
Lusitano o Mondego, Álcino o Lima.

Glosou alem d'isto algumas composições do Poeta, e o imitou de tal arte que mostrava bem que desejava que apparecesse saliente a imitação.

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