5 SONETOS. Vendo do forte Heitor a desditosa Um filho so, que tinha, receiosa Leandro em noite escura indo rompendo E vendo cada vez ir mais crescendo Os rogos quiz provar, não lhe valendo. «Ai ondas! (suspirando começou: >>) Mas d'ellas, sem lhe mais alento dar, A falla contrastada, atrás tornou. «<Ai ondas! (outra vez diz) vento, mar, Não me afogueis, vos rogo, em quanto vou; Afogae-me depois quando tornar. » mmmmmv BERNARDES. "mmmmm SONETOS.* Todo animal da calma repousava, So Liso o ardor d'ella não sentia; Os montes parecia que abalava * A imaginação de Camões foi fertilissima em sonetos: é notavel e digna de admiração a quantidade dos excellentes e perfeitos, além dos muitos bons, que produziu. A maior parte d'elles são amorosos, cheios de graça e delicadeza, ou de uma viva paixão; outros exprimem uma profunda melancholia. Em geral, nenhum poeta soube melhor conhecer e desempenhar o character d'este pequeno poema; nenhum principalmente teve mais do que elle o dom de imprimir a sua sensibilidade nos versos que saíram de seu coração, e que ainda hoje movem profundamente em nós uma terna sympathia. J. M. DE SOUZA, Vida de Camões. O triste som das mágoas que dizia; Mas nada o duro peito commovia, -Nunca ponha ninguem sua esperança 4444444 Alma minha gentil, que te partiste Tam cedo d'ésta vida descontente; Repousa la no ceo eternamente, E viva eu ca na terra sempre triste. Se la no assento ethereo, onde subiste, Memória d'ésta vida se consente, Não te esqueças d'aquelle amor ardente, Que ja nos olhos meus tam puro viste. E se vires que póde merecer-te Alguma cousa a dor que me ficou Da mágoa, sem remedio, de perder-te; Roga a Deus que teus annos encurtou, Que tam cedo de ca me leve a ver-te, Quam cedo de meus olhos te levou. Está-se a primavera trasladando Em vossa vista deleitosa e honesta; Nas bellas faces e na boca e testa, De sorte, vosso gesto matizando, Se agora não quereis que quem vos ama Possa colher o fructo d'éstas flores, Perderão toda a graça os vossos olhos : Porque pouco aproveita, linda dama, Que semeiasse o amor em vós amores, Se vossa condição produze abrolhos. Quando o sol encuberto vai mostrando E emfim n'estes cançados pensamentos Ondados fios de ouro reluzente, Que agora da mão bella recolhidos, Agora sobre as rosas esparzidos Fazeis que a sua graça se accrescente: Olhos, que vos moveis tam docemente Em mil divinos raios incendidos, Se de ca me levais a alma e sentidos, Que fora, se eu de vós não fôra ausente! Honesto riso, que entre a mor fineza De perlas e coraes nasce e apparece; Oh quem seus doces echos ja lhe ouvisse! Se imaginando so tanta belleza, De si, com nova glória, a alma se esquece, Que fará quando a vir? Ah quen a visse! No regaço da mãe Amor estava, Ella c'os olhos n'elle contemplava Que todo aquelle mal ella o causava. » Soliso, que graduado em seus amores, De saber de ambos mais teve a ventura, Assi soltou a dúvida aos pastores : «Se bem me ferem sempre sem ter cura Do menino os ardentes passadores, |