Cantos na solidão

Voorkant
Imprensa Litteraria, 1885 - 231 pagina's

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Pagina 80 - Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer...
Pagina xi - A tradição poetica é verdadeira — mas o que ella não é nem póde ser é a unica lei a seguir sob pena d'heresia. Uma formosura não exclue a possibilidade d'outra, e muito differente, e porventura opposta nas graças, nas feições, na expressão. Além da esthetica e da litteratura ha ainda uma cousa — o coração. Os grandes poetas foram grandes sabedores, por certo: mas não sei bem se foi todo esse saber que lhes deu aquelle grande coração cujo calor ainda cá de longe e a distancia...
Pagina ix - E moeda corrente na litterarura contemporanea. E moeda de tão boa lei que me asseguram pessoas entendidas terem muitas das nossas primeiras celebridades achado a melhor parte de suas riquezas de nomeada e gloria na gaveta aonde os seus amigos intimos guardam aquelle potosi de phrases douradas com que se compra a vigilancia dos Argos litterarios, de sentinella ás portas estreitissimas da Reputação.
Pagina xiv - Tudo isto é uma questão muito antiga. A velha pendencia entre criticos e poetas ! Se não fez ainda correr uma gotta de sangue, que eu saiba, ameaça-nos todavia com um diluvio de tinta que de dia para dia se vae tornando inevitavel. O poeta não quer estudar, eo critico não sabe sentir — não é facil que se entendam... Pois havemo-nos nós entender, eu eo Sr. Portella ; elle, fazendo-se um pouco menos poeta do que é ; e eu, um pouco mais, se ainda puder. Assim daremos um grande exemplo ao...
Pagina xiii - E' do dominio do coração — com esta condição, de ser tambem do dominio da intelligencia. Quando estas cousas intimas se escrevem tem obrigação de serem cousas litterarias. O Sr. Portella, na sua nobre e juvenil confiança no sentimento, acredita na antinomia da inspiração e da Arte. Eu, que sou mais velho e por isso% menos poeta, atrevo-me a dizer-lhe que se engana.
Pagina xi - ... porventura opposta nas graças, nas feições, na expressão. Além da esthetica e da litteratura ha ainda uma cousa — o coração. Os grandes poetas foram grandes sabedores, por certo : mas não sei bem se foi todo esse saber que lhes deu aquelle grande coração cujo calor ainda cá de longe ea distancia de seculos nos aquece e alumia. A sciencia dá ao genio a segurança, a firmeza que fazem a consistencia ea exacta proporção das obras. Mas a obra, essa sahe toda da alma — e para a alma...
Pagina xi - Originalidade d'assumptos, rigorosa proporção d'ideias, logica de sentimentos e imagens, harmonia de verso, novidade de phrase — d'isto se esqueceu muita vez o nosso cantor porque seu olhar se achava distrahido para outro lado, e seguramente mais bello, virado para o horizonte aonde as nuvens douradas escrevem aquelles hieroglificos mysteriosos d'amor e intima ventura que tão bem sabem decifrar uns olhos de poeta.
Pagina 88 - As doçuras d'amor acordou . . . Tudo é findo ; debalde nas trevas Busco ainda seu facho luzente : Foi apenas um astro cadente, Meteoro fugaz que passou. Pobre seio que ardente pulsaste Embalado por falsas venturas, O fanal que na terra procuras Sobre a terra jámais acharás. Não ha seio que entenda no mundo Esse ardor de teus vagos anhelos ; Não ha luz que em seus raios mais bellos Não te esconda uma sombra fallaz. Que te resta...
Pagina ix - Comecemos pelo principio — para começarmos esto discurso cTalguma maneira original. Isto não é uma critica, e menos ainda um elogio. A critica deixemol-a aos sabedores de regras horacianas, aos levitas das unidades aristotelicas, aos academicos, que bem se entendem com ella — em quanto que ella, coitada, nem já sei como com elles se entenderá... O elogio, esse, é outra cousa.
Pagina x - ... folhetins. São boas cousas, por certo, os preceitos litterarios: nem nego que os caminhos da esthetica erudita e do gosto cultivado possam levar, com maior ou menor canceira, até aquelles altos d'onde a olho nu se avistam os livres horizontes do Bello. Muitas e boas cousas nos ensinam os livros — digo os bons livros, que são pouquissimos.

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