VIII 6.a A introducção da Opera em Portugal, cujo desenvolvimento se retardou até ao seculo XVII, pelo predominio das Tragicomedias dos Jesuitas, prevalecendo mais tarde na côrte com exclusão absoluta da comedia nacional. Da pequena manifestação dos Autos no seculo XVII, abafados por todas estas causas de degeneração ou de extincção, se vê, que o theatro popular, quando a nacionalidade estava a desapparecer sob a usurpação castelhana, contribuiu para a revolução da nossa independencia, fazendo com que se não esquecesse totalmente a lingua portugueza. Pobre e constantemente combatido, em tudo se conhece que o theatro portuguez foi sempre a fórma vital da nossa litteratura. HISTORIA DO THEATRO PORTUGUEZ LIVRO III O THEATRO CLASSICO A renascença do theatro grego e romano encetada no seculo XV, foi um phenomeno moral analogo ao da creação da comedia nacional pelo genio livre da burguezia. O theatro classico tem sido julgado como uma renovação erudita; foi mais do que isso, foi uma réacção do espirito aristocratico coadjuvado pelos latinistas ecclesiasticos, que condemnavam a gargalhada franca do povo emancipado pela industria. Renasceu na Italia a comedia antiga, por circumstancias fataes e privativas do genio italiano; o genio etrusco, ou o dogmatismo auctoritario da religião, e o genio lombardo ou a independencia pessoal, repugnavam-se, e em baraçaram sempre a formação da nacionalidade da Italia. Como auctoritario, o italiano não reconhecia a soberania sem tradição, a não ser como um legado transmittido por algum poder anterior; d'aqui procurou fażer renascer o antigo direito italico, em vez de crear uma legislação tirada das necessidades da sociedade moderna. Por este motivo se deu na Italia a renascença do direito romano. Querendo uma soberania transmittida, acceitou sem opprobrio a tyrannia dos imperadores da Allemanha, e quando um impulso natural a fez repellir, entregou-se nos braços da theocracia papal. N'este estado o genio estrusco desenvolveu a superstição do passado, e aspirando á universalidade religiosa, imprimiu ao caracter italiano uma indole vagabunda e cosmopolita. O genio lombardo, pela sua parte, levava o instincto da independencia pessoal a sacrificar as instituições aos individuos; d'aqui a infinidade de republicas, e de traições, em que essas novas sociedades eram sacrificadas á invasão estrangeira. Tal é a fórmula da historia politica, artistica e litteraria da Italia. No seculo XV, o italiano conheceu que não podia ter patria, e fez-se cidadão do universo, e á maneira de Campanella, que formou a Cidade do Sol, formou tambem uma cidade da Arte. Foi esta tendencia que deu origem á Renascença classica na Italia; as paixões politicas substituiram-se pelas paixões eruditas, a vida real foi substituida pela imitação do viver da Gre cia e de Roma, recomposto pelos manuscriptos do theatro classico. Adoptámos no seculo XVI esta renascença culta da Italia, sem lhe comprehendermos a causa. Originada pelo instincto de uma emancipação moral, adoptamol-a como uma reacção contra as creações provocadas pela nova vida da sociedade burgueza. É por isso que em Portugal, os que guerrearam Gil Vicente com a imitação dos gregos e romanos, foram homens nobres, como Sá de Miranda ou Jorge Ferreira, jurisconsultos cesaristas, como o Doutor Antonio Ferreira, e os catholicos intolerantes, nos divertimentos escholares dos collegios dos Jesuitas. Como na renascença do theatro na Italia o ideal grego fôra conhecido através das imitações romanas, em Portugal os antagonistas de Gil Vicente viram o ideal romano através das representações começadas na Italia. Trabalho mesquinho, e prenuncio da nossa decadencia. CAPITULO Ι Theatro na Universidade e Collegios. As tragedias de Seneca existiam na livraria de D. Affonso v.— André de Resende cita na Universidade as tragedias de Sophocles e Euripedes. Jorge Ferreira de Vasconcellos escreve á maneira italiana a comedia classica em prosa. -Influencia de Sá de Miranda sobre a imitação classica. ― Relações entre Jorge Ferreira e Sá de Miranda em 1527.- Sá de Miranda ataca a fórma da comedia cm verso, e condemna os Autos. Os ensaios dramaticos nos divertimentos escholares das Universidades da Europa. Os estudantes portuguezes que vieram de Paris, e as tragedias de Buchanan na Universidade de Coimbra. - Ferreira na Comedia Bristo, allude ás comedias que se representaram antes de 1554 na Universidade de Coimbra. — O partido clerical approva a comedia classica. Antes da arte dos Aldos e da erudição de Lascaris ter feito renascer na Italia no seculo xv o venerando theatro classico, antes da riqueza dos Medicis ter salvado os manuscriptos achados em Constantinopla, já em Portugal, na livraria de Dom Affonso v existiam algumas das mais celebres tragedias da antiguidade. Não sendo extranha a Portugal a tradição litteraria da edade media, tambem foram cá recebidas as obras dos poetas que a edade media mais soube amar; Seneca, protegido pelas lendas piedosas das suas relações de amisade com Sam Paulo, respeitado pela santidade da sua moral, foi abrigado nos claustros antigos, estudado e imitado. Na renascença do theatro moderno é a elle que compete a primasia sobre os tragicos gre |